“Bom filho a casa retorna” mas será o caso no FC Porto?

Francisco IsaacJulho 7, 201915min0

“Bom filho a casa retorna” mas será o caso no FC Porto?

Francisco IsaacJulho 7, 201915min0
O FC Porto tem sido uma casa pronta para receber regressos de jogadores e a possibilidade de Marcano levou-nos a pensar em como correram outras situações no passado-recente. Sabias destas curiosidades?

Entre a loucura do Mercado de Transferências, surgiu um rumor que associa o FC Porto a um atleta que serviu o clube até 2018 e saiu para a AS Roma… falamos de Ivan Marcano, central espanhol que alinhou pelo clube nortenho durante quatro temporadas e que está rotulado como dispensável pela equipa técnica romana, liderada pelo português Paulo Fonseca.

Numa altura em que Sérgio Conceição tem profundas limitações na escolha do eixo de centrais, devido às saídas de Felipe e Éder Militão, o regresso de Marcano pode ser visto como positivo… mas até que ponto seria importante este retorno? E qual é a história-recente de atletas que passaram duas vezes pelo FC Porto?

Neste artigo recordamos os jogadores que vestiram por duas vezes a camisola do FC Porto nos últimos 25 anos, percebendo se a segunda passagem foi tão positiva como a primeira, numa espécie de premonição do que se pode passar com Marcano. Um alerta para o facto de só termos escolhido jogadores que foram efectivamente vendidos ou que saíram a custo-zero do emblema portista, ficando de fora os atletas em situação de emprestados.

VÍTOR BAÍA (1988-1996 e 1999-2007)

Foram 525 jogos que Vítor Baía realizou pelo FC Porto, sendo recordado como uma das maiores lendas de sempre do clube azul-e-branco, quer pela qualidade demonstrada entre os postes, o papel de líder do clube durante fases mais conturbadas e pela forma como recuperou de uma lesão do joelho que por muito pouco não terminou com a carreira do guardião português. A primeira passagem pelo clube começou no ano de 1988, conquistando a titularidade com só 21 anos, no qual ajudou o clube a levantar cinco campeonatos, três taças de Portugal e ainda quatro supertaças, impondo-se como uma das principais referências do plantel.

Em 1996 o FC Barcelona avançou com 7M€, uma quantia que na altura bateu recordes pois nunca antes tinha se pago tanto por um guarda-redes, cabendo aos blaugrana esse feito de Mercado de Transferências durante os anos 90. Na “capital” da Catalunha, Vítor Baía viveu alguns bons momentos de fulgor com a conquista da Taça das Taças em 1997 e uma La Liga em 1998, para além de outros troféus… contudo, só na primeira temporada foi titular sendo relegado para o banco de suplentes no ano seguinte muito devido a problemas físicos.

No ano de 1998 foi libertado pelo Barcelona permitindo que retornasse ao FC Porto. Se nas primeiras três temporadas após o regresso não foram pouco positivas em termos de estabilidade em minutos de jogo (43 jogos como titular, sendo que entre 2000-2001 falhou a época toda por lesão), Vítor Baía acabaria por ser peça fundamental para o sucesso do clube, já que foi peça-fundamental no esquema de José Mourinho fazendo parte de uma das páginas mais “bonitas” da História dos portistas.

Foi um regresso a casa agridoce ao início que terminou numa epopeia de dimensões titânicas, evidenciando uma postura exibicional de qualidade tanto na 1ª como na 2ª passagem pelo FC Porto, apesar de algumas “gralhas” em jogos para o campeonato.

SÉRGIO CONCEÇÃO (1996-1998 e 2004)

O timoneiro actual do FC Porto teve até três passagens pelo clube, duas delas enquanto sénior, sendo que a primeira foi na condição de juvenil e júnior durante os anos de 1991 a 1993. O extremo chegou efectivamente às Antas em 1996 provindo do Felgueiras onde realizou exibições mais que suficientes para conquistar o interesse de Jorge Nuno Pinto da Costa no seu concurso… e o presidente do clube acertou, como era hábito na altura. Conceição rapidamente conquistou o lugar de titular no esquema táctico de António Oliveira e em 77 jogos foi autor de 10 golos e 30 assistências, deixando um perfume tal que forçou a Lazio a avançar para o seu concurso.

Depois de ter conquistado quase tudo em Itália, voltou ao FC Porto no ano de 2004 com 30 anos de idade como reforço de Inverno para a equipa então liderada por José Mourinho, fazendo parte do retorno aos títulos dos portistas nessa época. Já não era o mesmo Conceição de outros tempos, mas a intensidade imparável, a paixão contagiante e a entrega total foram elementos fundamentais para o plantel azul-e-branco que teve nessa época alguns dos maiores ícones a jogarem todos juntos de novo (Jorge Costa, Vítor Baía, por exemplo).

NUNO ESPÍRITO SANTO (2002-2004 e 2007-2010)

O actual treinador do Wolves, e ex-treinador do FC Porto, passou pelo emblema por duas ocasiões e fez parte da tal era de invencibilidade nacional e internacional durante o comando de José Mourinho. Um guardião com alma mas que jogou muito pouco em qualquer uma das passagens, é lembrado mais pelo papel de líder do plantel e inventor do espírito “Somos Porto”, que em 2010 marcou um novo princípio de domínio do clube (o tricampeonato e Taça UEFA sob o comando de André Villas-Boas e Vítor Pereira).

HÉLDER POSTIGA (1995-2003 e 2004-2008)

Um dos “filhos” queridos da formação do FC Porto, Hélder Postiga subiu a pulso nas Antas, lançado por Octávio Machado numa das épocas mais conturbadas e problemáticas da história-recente do clube, onde até marcou o golo de estreia na qualificação para a Liga dos Campeões com só 18 anos (frente ao Grasshoppers).

Foi na primeira passagem um prolífico avançando combinando bem com Pena, Derlei e Benny McCarthy no início dos anos 2000 e era uma das estrelas da companhia de José Mourinho, tanto pelo faro a golo que possuía (31 golos em 87 jogos) como pelo trabalho de excelência realizado nos últimos 30 metros de terreno, onde o passe, capacidade de fazer jogar e inteligência deram outra qualidade ofensiva ao FC Porto.

Transferido por 10M€ para o Tottenham, Postiga nunca realmente se deu bem na Premier League e acabou por desiludir na sua primeira passagem no estrangeiro, com apenas 2 golos em 24 jogos… felizmente para o avançado, a SAD azul-e-branca conseguiu o seu retorno num negócio em que envolveu uma troca directa com Pedro Mendes. Na segunda passagem Postiga voltou a mostrar alguns bons apontamentos mas sem a mesma capacidade para enviar a redonda para o fundo-das-redes, para além de na 2ª época do retorno ao clube ter acabado emprestado ao Saint-Étienne por ter um diferendo com Co Adriaanse.

De qualquer das formas, Hélder Postiga foi um dos protagonistas da conquista do tricampeonato de 2005-2008 e os 15 golos em 56 jogos (números só para a Primeira Liga) e deixou uma marca de relevo na memória do FC Porto, tendo sido depois vendido ao Sporting Clube de Portugal num negócio improvável mas “comum” à época entre os dois emblemas.

LUCHO GONZALEZ (2005-2009 e 2012-2014)

El Comandante, como ficou alcunhado pelos adeptos azuis-e-brancos, foi um dos estrangeiros mais importantes no Século XXI do FC Porto e os 238 jogos realizados são um facto, entre vários, que provam essa importância. O argentino chegou no Verão de 2005 provindo do mítico River Plate, tendo sido na altura um dos reforços sonantes do Mercado de Transferências português, muito pela estupenda qualidade com que passeava nos relvados.

O médio foi durante essas primeiras quatro épocas um dos maiores pensadores de futebol em Portugal, dando outro significado ao tratamento da redonda, na construção de linhas de passe, no gerir os ritmos de jogo, conjugando com uma postura exuberante e dominadora que o elevaram à condição de capitão durante duas temporadas. Depois de ter completado o tetra na Bwin Liga (Primeira Liga), duas Taças de Portugal e Supertaças, Lucho foi contratado pelo Marselha em 2009 por 18M€ (que ascendeu aos 20) e aí permaneceu duas épocas, ajudando os marselheses a conquistar a última Ligue 1 da sua história, evidenciando-se sempre pelas características de excelente gestor de jogo, criador de excelentes dinamismos no ataque, etc.

Em Janeiro de 2012 deu-se o improvável… Lucho Gonzalez regressa ao Dragão a custo-zero, libertado pelo Marselha por comum-acordo, num dos negócios de Inverno mais curiosos e interessantes dos últimos anos. O argentino retorna assim a uma casa onde foi feliz, agora com 31 anos de idade, e seria novamente fundamental na conquista de mais dois títulos de campeão sob o comando de Vítor Pereira. Menos veloz (nunca foi conhecido por ser um jogador rápido, mas com o passar dos anos foi piorando nesse factor), mas com os mesmos pés de veludo e munido de um cérebro cada vez mais genial, o médio deu outra dimensão ao meio-campo azul-e-branco, substituindo bem Freddy Guarín no “miolo” de jogo dos dragões.

Volvidos dois anos, Lucho Gonzalez acabou por sair pela segunda vez do FC Porto, após realizar mais de 70 jogos e marcar 10 golos, garantindo ainda assim 4M€ para os cofres da SAD portista. Tanto a 1ª como 2ª passagem foram de enorme nível, com um Lucho Gonzalez  de enorme dimensão, deixando uma saudade profunda nos adeptos do FC Porto.

RICARDO QUARESMA (2004-2008 e 2013-2015)

É um dos “filhos-adoptivos” nunca esquecidos pelas hostes azuis-e-brancas tanto pelo futebol que brindou as bancadas do Dragão como pela forma com que sempre sentiu e professou um amor profundo pelo emblema portista, falamos claro de Ricardo Quaresma, o “Harry Potter” do FC Porto. O extremo português chegou por 6M€ ao clube em 2004 depois de uma passagem cinzenta pelo FC Barcelona e acabaria por ser uma das contratações mais inteligentes para o futebol e economias da SAD liderada por Jorge Nuno Pinto da Costa.

Na primeira passagem foi responsável por 31 golos e 45 assistências em 158 jogos, deslumbrando os relvados tanto dentro como fora de Portugal muito pela velocidade louca, os rasgos técnicos, a trivela temível, a capacidade para fazer a diferença nos duelos e outros pormenores que alimentaram a máquina do ataque do FC Porto durante quatro temporadas. Genial em várias medidas, Quaresma acabou vendido ao Inter de Milão por 20M€, naquilo que foi uma experiência positiva em termos de conquista de títulos mas negativa em futebol jogado, e acabou dispensado e transferido para a Turquia.

Retornou às ordens do FC Porto em 2013, contratado a custo-zero depois de uma passagem pelo Al-Ahli e a paixão dos adeptos ficou demonstrada desde o 1º minuto em que o extremo foi anunciado novamente com as cores do clube. Mais “velho”, Quaresma continuou a encher os campos com uma série de toques e recortes mágicos mas já sem a consistência de outros tempos, passando quer por fases positivas e negativas, muito devido à instabilidade instalada no clube a nível de direcção técnica, um pormenor que selaria o destino de Quaresma no clube.

Apesar de renegado por Julen Lopetegui e vendido para o Besiktas, Quaresma ficou na memória do clube como um dos extremos de maior categoria dos últimos 30 anos com mais de 216 jogos, 49 golos e 56 assistências durante as cinco temporadas e meia em que viveu no Dragão. A segunda passagem não foi tão boa, mesmo que tenha realizado uma das maiores exibições individuais quando o FC Porto derrotou o Bayern de Munique no Dragão por 3-1.

ALY CISSOKHO (2009 e 2015)

Cissokho foi como um relâmpago no FC Porto, já que chegou por um custo de 300 mil euros no Mercado de Inverno de 2009 proveniente do Vitória FC e acabou transferido nessa mesma temporada para o Olympique de Lyon por 15M€. O lateral encantou o plantel azul-e-branco de Jesualdo Ferreira, destacando-se por uma velocidade vertiginosa e um poder físico que fizeram a diferença na ala esquerda, realizando quase ao mesmo tempo o papel de lateral e extremo, em que terminou com 23 jogos e 6 assistências numa questão de 6 meses.

Depois de uma série de peripécias e transferências infelizes, Cissokho retornou ao Dragão na malfadada época de 2015 e seria utilizado em somente 4 encontros, três deles como suplente, sem nunca mostrar qualquer um dos atributos com o qual marcou a sua 1ª passagem pelo clube.

SÉRGIO OLIVEIRA (2002-2014 e 2015-até ao momento)

Outro dos produtos da formação do FC Porto, Sérgio Oliveira vai na sua segunda passagem pelo clube depois de ter saído oficialmente por apenas uma temporada, quando assinou como jogador-livre com o Paços de Ferreira em 2014. O médio-centro estreou-se em 2009 com apenas 17 anos de idade e era cogitado na altura como um dos maiores jogadores da sua geração… infelizmente nunca confirmou esse valor e passou entre 2010 e 2013 ao lado dos principais palcos do futebol português, muito devido à inconsistência a nível de exibições e à fragilidade física que apresentava.

A saída em direcção ao Paços de Ferreira foi o elemento essencial para a mudança do destino de Sérgio Oliveira que em duas épocas deixou uma imagem forte e reconhecida, utilizado em 54 jogos de 60 possíveis. O futebol inteligente, a forte condução de bola e a rapidez com que descobria e explorava os espaços na defesa adversária colocaram Sérgio Oliveira de novo no mapa do futebol português, em particular do FC Porto que readquiriu o passe do médio a troco de 1M€.

Não há dúvidas que a 2ª passagem pelo clube (que ainda está a decorrer) tem sido completamente diferente, tendo o médio mesmo sido um dos responsáveis pelo título conquistado em 2017/2018 ocupando bem quer o lugar de Hector Herrera ou depois do lesionado Danilo Pereira. Apesar do empréstimo ao PAOK (onde se sagrou campeão grego), Sérgio Oliveira voltou a ser incluído por Sérgio Conceição para a nova época e veremos se vai ser ou não novamente útil no seu clube de sempre.

ÓLIVER TORRES (2014-2015 e 2016-até ao momento)

Dois momentos diferentes e parece que também foram dois Óliver’s algo diferentes. Na primeira passagem o espanhol foi um autêntico dínamo, com um futebol mágico e diferente, enchendo o relvado de uma forma apaixonada e genial, na altura com só 19/20 anos. Foram 40 jogos, 7 golos e 6 assistências que convenceriam Diego Simeone a incluir o pequeno espanhol de novo no plantel do Atlético de Madrid para a temporada seguinte… infelizmente, nada correu de feição e Óliver acabou “engolido” pelo futebol de alta intensidade e de super exigência física e táctica de “Cholo”, levando-o a procurar ruma solução de carreira que acabou por vir na forma de nova ida para a Invicta.

Esta segunda passagem já não foi de “graça”, uma vez que o FC Porto desembolsou cerca de 20M€, e coincidente Óliver Torres não tem conseguido demonstrar a mesma confiança e consistência da primeira época que passou pelo clube e as diferenças vêem-se logo pelos números: 97 jogos, 5 golos e 15 assistências. Tem passado largos períodos das temporadas no banco de suplentes, sendo muitas vezes preterido em favor de médio mais físicos e moldados para o serviço defensivo, algo que parece ter sido um erro crasso por parte de Sérgio Conceição na época que agora findou, lembrando a sequência de 10 jogos a titular, jogos que terminaram sempre com vitória portista.

Vai para a sua 5ª temporada como jogador do FC Porto e veremos se a saída de Hector Herrera vai abrir novas possibilidades, oferecendo-lhe mais tempo de jogo e outras oportunidades para se impor como maestro do meio-campo.

PEPE (2004-2007 e 2019-até ao momento)

O “centralão” da Selecção portuguesa regressou ao FC Porto depois de 12 anos fora do país, no qual serviu o Real Madrid (três La Ligas, duas Copa del Rey, duas Supertaças, três Liga dos Campeões, uma Supertaça Europeia e Dois Campeonatos do Mundo de Clubes) e Besiktas. O defesa nascido no Brasil foi reforço de Inverno do plantel de Sérgio Conceição a custo-zero oferecendo um novo elemento para o eixo-defensivo, não tendo no entanto o impacto desejado no final de contas.

Pepe nesta segunda passagem pelos Dragões ainda não conseguiu apresentar a qualidade que brindou durante os anos de 2004 e 2007, onde a velocidade de movimentos, a capacidade para recuperar a bola e depois a saída de alto gabarito com que sempre pautou, para além de todos aqueles atributos físicos de elevado nível, fizeram furor ao ponto que o Real Madrid contratou o central por 30M€.

Veremos como vai ser 2019-2020 para Pepe, depois de um 2019 azedo e que não ficará na melhor das memórias dos adeptos do FC Porto.

O último dos retornados do Dragão: Pepe (Foto: Getty Images)

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