Análise ao novo paradigma da rivalidade nas Astúrias pt.1
A Comunidade Autónoma das Astúrias é uma das mais relevantes de Espanha, ao nível histórico. Tal como nas suas vizinhas, o futebol é muito importante nesta região, embora não esteja presente no mapa da La Liga de 2022/23. Apesar de tudo, o hiato temporal asturiano no primeiro escalão, leva a que suas equipas sejam menos abordadas e analisadas internacionalmente.
Do Estádio Carlos Tartiere ao El Molinón– Enrique Castro “Quini” distam 33,2 km, facilmente percorridos em meia hora. Esta é a distância entre as casas do Real Oviedo e do Real Sporting de Gijón, clubes mais importantes das suas cidades e da Comunidade. São atualmente membros da La Liga 2, porém com um passado intimamente ligado à La Liga, com o Sporting de Gijón a liderar, com 42 presenças (o Oviedo tem 39). Podemos afirmar que é difícil analisar a História do Futebol Espanhol sem termos em conta estas duas equipas e a sua rivalidade. No total, são 113 Duelos Asturianos que marcam esta “choque”, com os “Azules” a terem vantagem com 50 vitórias, perante as 34 dos “Rojiblancos”.
Os restantes 29 jogos deram empate. Pelas Astúrias passaram jogadores que marcaram o futebol regional (e nacional): Esteban, Dubovsky (atuava no Oviedo na data da sua morte), Luis Enrique, Abelardo, David Villa ou Quini, entre muitos outros. Os portugueses também entram nesta batalha, embora sejam em pouca abundância: Paulo Bento (1996-2000) e Carlos Gomes (1959-1961) pelo Oviedo e Fernando Gomes (1980-1982) em Gijón. Foram atletas que deixaram marca pelas instituições que passaram, sendo recordados com saudade, tornando-se jogadores que ultrapassaram a sua fronteira.
Passaram mais de 20 anos desde a última passagem do Oviedo pela La Liga, tendo descido aos “infernos” da Segunda División B (hoje conhecida como Primera RFEF, com um formato diferente, mas igualmente complexo). O Sporting de Gijón marcou presença pela última vez em 2016/17, mas as passagens pelo escalão principal no século XXI têm sido tímidas e curtas, com muito menos pujança que em outras eras.
Porém, um outro fenómeno as une, além desta grande rivalidade essencialmente provocada pela geografia: ambas as instituições têm seus donos do outro lado do Atlântico, oriundos do México. Analisemos cada caso separadamente.
Real Oviedo – Carlos Slim e Grupo Pachuca
Não nasceu esta temporada a união entre o Real Oviedo e os mexicanos. Em 2012, prestes a fechar as portas, parte da sua SAD foi adquirida por Carlos Slim, eleito o homem mais rico do Mundo em 2010,2011 e 2012. Slim já era dono de clubes mexicanos como o Club León e o CF Pachuca e tinha como objetivo colocar a equipa na La Liga, não existindo a ideia de gastar uma fortuna para isso, mas sim um investimento consciente.
Houve um crescimento da equipa, com uma luta pela subida nos primeiros anos ao segundo escalão e depois a manutenção no mesmo. Apesar de tudo, nunca conseguiu atingir o play-off de subida à La Liga, estando perto de o conseguir a temporada passada, com Cuco Ziganda no comando técnico.
Ainda não tendo conseguido o objetivo principal, Slim houvera salvado o clube da falência, não deixando de ser um herói para os adeptos. O verão de 2022 marca a saída parcial do empresário. O Grupo Pachuca (ao qual Slim já tinha vendido as outras instituições em sua posse no passado) comprou 51% das ações da SAD (valor não foi revelado, mas será algo perto dos 35 milhões de euros). 20% mantêm-se nas mãos do Grupo Carso, liderado pelo antigo dono. Jesús Martínez tornou-se assim a grande imagem da SAD do clube, embora Slim mantenha a sua importância, visitando Oviedo com alguma insistência.
O Grupo Pachuca tem o desejo de num futuro próximo fazer aumentar a Cidade Desportiva, de modo a ter mais espaço para as suas equipas treinarem. Além disso, querem instaurar a Universidade do Desporto, algo que já criaram no seu país de origem. Ao analisar o projeto que existe, verifica-se que o grupo empresarial quer ter uma relação com a cidade de Oviedo e não somente com o clube. O objetivo é tornar a cidade de Pachuca “irmã” da espanhola (Viseu é “irmã” de Oviedo, no caso português).
Sporting de Gijón – Grupo Orlegi
Na outra grande cidade da Comunidade Autónoma, os mexicanos também entraram com força, no entanto o processo foi distinto. O processo de aquisição realizou-se em Junho de 2022 e o Sporting de Gijón não passava pelas dificuldades financeiras do seu rival em 2012, porém dentro de campo os resultados eram muito fracos. Neste caso, o Grupo Orlegi comprou 73% da SAD por cerca de 40 milhões de euros.
Tal como no caso do Oviedo, a equipa “rojiblanca” tem clubes “irmãos” no território que faz fronteira com os Estados Unidos da América, neste caso o Atlas FC e o Club Santos Laguna (nome que vem à nossa memória com facilidade, devido à presença de Pedro Caixinha por lá). Alejandro Irraragori assumiu assim a liderança de um clube que passa por um momento menos positivo da sua história. Tal como Martínez, pretende a subida de divisão, mas é algo somente a ser apontado a futuras temporadas. A somar a isto, o projeto Astúrias 2030, com o objetivo de colocar o El Molinón no Mundial 2030 é um dos grandes pontos do “mandato” do empresário mexicano.
O Grupo Orlegi e seu líder são fans assumidos do projeto da Red Bull, presente em vários continentes e realizando intercâmbios entre equipas. A ideia passa por também seguir os passos em relação à contratação e formação de jovens, além de contratarem o staff indicado para os trabalhar. O objetivo passará por obter lucro com esses elementos, como temos assistido no RB Leipzig, RB Salzburg entre outros. Há igualmente o desejo de colocar o Sporting Gijón a realizar uma digressão mexicana no Verão de 2023.