A aposta no mercado interno – um mundo cheio de vantagens pt.1

Ricardo LopesAbril 24, 20237min0

A aposta no mercado interno – um mundo cheio de vantagens pt.1

Ricardo LopesAbril 24, 20237min0
Será o mercado interno do futebol português uma solução viável para os clubes nacionais? Ricardo Lopes analisa os benefícios de contratar localmente

As equipas que possuem condições para tal, conseguem criar vários focos de observação por todo o globo, de modo a conseguirem encontrar os melhores alvos, com as caraterísticas desejadas e um preço minimamente acessível ou não demasiado elevado, face às condições existentes.

Hoje em dia, com o desenvolvimento das tecnologias é possível explorar através de um computador qualquer partida que esteja a ser transmitida, além do acesso a ferramentas de análise e observação. Mesmo a observação a “olho nu”, sem qualquer ferramenta de auxílio está cada vez com melhores condições, já que cada vez mais jogos são televisionados ou colocados nas redes sociais/Youtube, para uma análise pausada e mais detalhada. Claro que para equipas com menos condições financeiras, existem menos meios de observação, tendo que se reduzir o alcance, centrando-se em menos mercados. Porém, se existe gosto em observar e talento para identificar, irão produzir-se bons resultados de igual forma. Claro que tudo depende da qualidade dos objetivos do projeto em causa.

Todas as equipas têm um foco no seu mercado interno, ou seja, relativo ao seu país, independentemente da nacionalidade do jogador. Em Portugal, verificamos que muitos jogadores conseguiram ter a capacidade de dar o salto até à Primeira Liga, após passagens de sucesso pelas divisões secundárias, um processo que promete adensar-se com o crescimento continuo da Liga 3. É uma forma fantástica das equipas com menores objetivos reforçarem o seu plantel a baixo custo, além de terem já um jogador plenamente integrado ao país e conhecedor do nível do nosso principal campeonato.

Porém, se pensarmos nas quatro principais equipas de Portugal, é um pouco irrealista imaginarmos chegadas da Liga 2, Liga 3, Campeonato de Portugal para a equipa principal, porém faz algum sentido se o objetivo for rumarem à Equipa B ou Sub-23 (Diomandé foi a grande exceção). Ainda assim, não é impeditivo que se analisem elementos da Liga Portugal, podendo ser uma boa política de contratações. Se faz sentido olharmos primeiro para dentro do próprio clube para promover algum elemento (caso exista alguém preparado), tem muito nexo que o passo seguinte seja verificar a nível interno (país) se existe alguém cuja contratação faria sentido, antes de se rumar a alvos externos e de possível maior valor, mesmo na observação.

Existem algumas vantagens de contratar no mercado interno (casos de jogadores que representaram o Braga, como Rafa, foram excluídos, pois estamos a abordar uma fatia do futebol português onde os minhotos já não marcam presença):

Observação mais profunda: É mais simples analisar um jogador que está no nosso país do que no estrangeiro, pois conhecemos melhor as caraterísticas da equipa em que atua e respetivas condições e objetivos. Se um jogador se consegue destacar num clube que sabemos que é pouco organizado e com objetivos pequenos, a probabilidade de conseguir dar o salto torna-se maior. Temos plena consciência do que se está a observar;

Baixo custo na análise: Se o alvo está em Portugal, mesmo no caso de se fazer uma observação direta o preço será bastante inferior do que no caso de se o atleta estiver no estrangeiro. As deslocações são obrigatoriamente mais pequenas e podem ser realizadas um número maior de vezes, para uma análise mais rigorosa. A utilização de programas torna-se menos necessária, a partir de uma certa fase da observação;

Adaptação ao país já realizada (caso de atleta estrangeiro): Se um jogador não se consegue adaptar a Portugal ao atuar por um clube com menos pressão, naturalmente será descartado pelas equipas de maior potência. O jogador que já está em Portugal, não necessitará de um processo de adaptação quando chegue a outro clube, pois já conhece a cultura, os objetivos, o campeonato e a língua (não em todos os casos), evitando-se um processo de acomodação que é absolutamente necessário na primeira época do jogador em Portugal, caso queiramos que tenha sucesso (caso Matheus Reis, Ugarte e Mehdi Taremi);

Baixo custo na sua contratação: Embora estejamos a assistir a um aumento do valor dos negócios a cada ano que passa, um jogador do mercado interno será mais barato do que do exterior. O atleta poderá fazer mais pressão para sair, o que transforma o negócio em algo mais simples, aliado ao facto de que é mais fácil ceder atletas em definitivo a equipas de Portugal, do que estrangeiras, de modo a facilitar o negócio, já que os mesmos se poderão manter perto das suas origens. Caso existam propostas do estrangeiro, o valor do atleta irá subir, caberá ao clube grande agir o mais depressa possível, de modo a obter um preço que as duas partes achem justas pelo atleta (caso Toni Martínez, Marcus Edwards e futuramente Fran Navarro, que se tivessem chegado aos grandes oriundos de emblemas estrangeiros possivelmente teriam custado um valor bem mais elevado);

Existência de jogadores para todos os níveis do plantel: Um atleta que venha de uma equipa fora dos “grandes” do nosso campeonato, aceitará com mais facilidade não ser um protagonista da equipa, desde que deem margem de crescimento ao atleta dentro da pirâmide da equipa. No caso de se queres um jogador para compor elenco, faz muito mais sentido trazer um nome que já conheça o campeonato, do que um jogador de fora, que será mais caro e terá de passar por uma fase de adaptação. O jogador “interno” conhecerá melhor a concorrência que terá e aceitará o seu estatuto com uma maior facilidade (caso Rochinha e Fábio Cardoso).

Fator surpresa: Os adeptos, na maioria dos casos, não criam enormes expectativas por reforços que chegam de dentro da Liga Portugal, pois não são nomes tão relevantes e com alto custo, a comparar com certos jogadores oriundos do estrangeiro. Em certos casos, o atleta poderá inclusivamente surpreender e ser influente (caso Nuno Santos e Chiquinho);

Possibilidade de existência de resgate ou de afirmação em outro grande (ao conhecer a exigência): Alguns jogadores que sejam cedidos/dispensados por parte dos grandes a equipas portuguesas, podem crescer dentro do campeonato (com uma observação mais fácil) e regressar ao clube grande no qual foram formados ou então rumarem a outro. Isto leva a que o jogador em questão já conheça bem de perto a exigência que lhe será pedida (caso Sérgio Oliveira e Nuno Santos).

No passado recente verificámos que a política de contratar atletas ao nível interno deu os seus frutos, com jogadores a serem vendidos por belas maquias de dinheiro e outros a afirmarem-se por completo nos plantéis de respetivas equipas, até aos dias de hoje, sendo associados a possíveis transferências de valores elevados. Aqui podemos e devemos insistir com o Sporting de Braga, que foi dos clubes que atingiu com mais inteligência dentro do mercado interno, que permitiu o seu rápido crescimento que lhe permite lutar em certas ocasiões pelo pódio, sendo destacadamente a quarta maior equipa em Portugal, ao momento.


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