Jovens estrelas que caíram cedo demais: Caio Ribeiro

Francisco IsaacJulho 19, 201811min0

Jovens estrelas que caíram cedo demais: Caio Ribeiro

Francisco IsaacJulho 19, 201811min0
Um nome pouco conhecido para os adeptos em portugal mas de boa memória no Brasil: Caio Ribeiro. Foi à Canarinha cedo mas rapidamente "desapareceu". Quais os motivos?

Quantas jovens estrelas atingiram o patamar mais alto do futebol mundial para depois caírem abruptamente ou, pior, devagar sem nunca encontrarem um rumo de regresso aos títulos internacionais e aos grandes palcos?

Nesta rubrica não procuramos descobrir quem tem culpa, mas sim as razões dessa desaparecimento, perceber onde foram parar e se há alguma hipótese de redenção. E atenção, não dissemos desaparecemos porque ainda jogam seja numa primeira, segunda ou terceira divisão.

Se conheces mais casos deixa nos comentários para investigarmos e falarmos desses nomes.

A REVELAÇÃO DO SÃO PAULO E O FRACASSO ITALIANO

SÃO PAULO LANÇA E BRASIL APROVEITA O O MÁGICO

Caio Ribeiro Decoussau, conhece? Não? Mundial de sub-20 de 1995, em que a Argentina levantou o título, recorda-se de um avançado que facilmente caía para a posição de nº10? É possível que mesmo assim não se lembre dele, uma vez que esse ano está bem longe e a competição não era fácil de se visualizar. Mas então acredite nas nossas palavras daqui para a frente!

Caio Ribeiro era um jogador fenomenal quando apareceu, dotado de um pé esquerdo (e direito) como poucos, um autêntico vagabundo de área que fazia bem o papel de segundo avançado. Era mais um produto da formação da canarinha que parecia ter a força e volatilidade necessária para ganhar um lugar na Selecção do Brasil A dentro de pouco tempo. Porém, algumas decisões apressadas (sempre esse problema), lesões delicadas e um feitio especial levaram a que Caio não atingisse sequer 50% do potencial que durante tanto tempo prometeu.

Vamos começar pelo princípio… pela sua formação enquanto futebolista. Caio Ribeiro surgiu em força nas escolas do São Paulo, um clube que estava e está habituado a produzir algumas das maiores estrelas do futebol brasileiro (bem atrás do Corinthians e Santos, claro!). Aí começou a dançar por entre os adversários (e colegas) com uma facilidade tal que apaixonavam qualquer um, mesmo aqueles que viam futebol brasileiro todos os dias.

Caio era um “diamante” em bruto mas que facilmente se podia lapidar em algo espectacular, com uma facilidade para vadiar no ataque, munido de um talento inesquecível e um jeito de garoto para finalizar dentro da área. Não era aquele pontapé à bruta, era mais no estilo de Romário, da classe sensual do remate encaixado e venenoso que só tinha uma direcção… o fundo das redes.

Em 1993 é promovido por Têle Santana para jogar pela equipa principal, naquilo que seria um dos momentos mais felizes da história do tricolor, a altura em que vão “limpar” uma série de competições internacionais que ia desde a Recopa sul-americana à Libertadores até ao Mundial de Clubes. Foi uma das eras mais famosas do São Paulo e Caio apareceu no plantel.

Não jogou em nenhuma das finais, mas fez parte do elenco convocado, tendo saído do banco para ajudar o tricolor nos campeonatos paulistas e em alguns jogos da Libertadores. Munido de uma inteligência vil, de um toque de bola tremendo, rapidamente passou de desconhecido a promessa prestes a afirmar-se no Brasil.

No país do grito do ipiranga viva-se uma das alturas mais vibrantes em termos de lançamento de novas estrelas, com claro destaque para Ronaldofenómeno, num momento em que a canarinha tinha uma média de idades nos 27 anos devido ao objectivo de quererem conquistar o Mundial de 94′. Contudo, a nova geração já estava a ser preparada e Caio Ribeiro era uma dessas novas coqueluches in the making.

Com vários títulos no bolso, é convocado para o Mundial de 1995 de sub-20, numa altura em que o Brasil era campeão do Mundo dos séniores em título. É nessa competição que vai aparecer com todo o seu esplendor Caio Ribeiro, com uma série de golos, outra mão-cheia de assistências e um rol de elogios inesgotável.

Dos jogadores convocados só três tiveram sucesso no futuro caso de Denilson (campeão do Mundo e lenda do Bétis), Luízão (campeão do Mundo também 2004) e Nilson (o guarda-redes do Vitória SC durante largos anos, recordam-se?), o que deixa já antever que essa geração perdeu-se quase por completo.

Nessa competição, Caio foi espectacular com 5 golos e 3 assistências, afirmando-se como um dos melhores jogadores desse torneio muito devido à magia que produzia dentro do último terço do terreno, com toda uma genialidade ofensiva que lançava o público num frenesim!

Na fase-de-grupos, o Brasil derrotou facilmente o Qatar e Síria mas empatou com a Rússia, derrotando nas eliminatórias o Japão e Portugal… em ambos os jogos Caio marcou golos. Contra as Quinas foi um golo aos 90′ quando todos esperavam pelo prolongamento do encontro.

Estava num momento de forma espectacular e o resultado na final foi uma espécie de anti-clímax… derrota ante a Argentina, os rivais de sempre por 2-0 (Leandro Biagini foi um dos marcadores).

Caio bem que tentou dar a volta ao jogo, mas Joaquin Irigoytia, o guardião das Pampas, amparou todos os golpes que os canarinhos arremessavam… o encontro termina e Juan Pablo Sorín levanta a Taça de Campeões do Mundo de sub-20 em 1995. Caio leva para casa o título de melhor jogador do torneio e 2º melhor marcador da competição, atrás do espanhol Joseba Etxeberria.

O golo de Caio nas meias-finais contra Portugal no Mundial de sub-20 em 1995

UM BATE-E-FOGE ITALIANO E UM REGRESSO AO SEU BRASIL

Mas a derrota por 2-0 não tirou o interesse dos vários pretendentes no criativo, era impossível não deixar de olhar para um jogador tão felino, mágico e dotado com a bola nos pés como Caio Ribeiro. Em Itália, Massimo Moratti, que tinha tomado a liderança do Inter nesse ano, olhava para o “miúdo” de 20 anos como um dos vários talentos que queria recrutar. Foi num par de dias que tudo aconteceu: chamada para o São Paulo, uma oferta de 3M€ pelo brasileiro e assinatura de contrato.

Caio Ribeiro tinha chegado a um dos principais clubes da Serie A e da Europa, ao lado de outros reforços com a mesma idade e também imbuídos de um talento imenso: Roberto Carlos (na foto de destaque, chegou ao mesmo que tempo que Caio), Gionatha Spinesi, Salvatore Fresi, Marco Landucci, Sebastian Rambert e Javier Zanetti (sim, o mesmo que viria quase a somar 700 jogos pelos nerazzurri).

Foi o passo… em falso para Caio Ribeiro, uma vez que Roy Hodgson nunca apreciou o estilo de jogo do médio-ofensivo/avançado e realmente não contava com o jovem talento. Em 36 jogos da época do Inter, actuou em 8, três dos quais como titular, sem que nunca lhe fosse conferida a confiança que merecia para desenvolver-se como um jogador-nuclear no elenco dos milaneses.

Não suportou/superou a pressão de ser atleta dos nerazzzurri e optou por abandonar o clube como emprestado. Talvez, outra da razões pela qual Roy Hodgson não contou muito com o brasileiro passou pelo facto de Caio se ter ausentado do Inter para jogar pelo Brasil na Gold Cup. Foi a última aparição do Brasil nesse torneio das selecções da América do Norte/Centro e o formidável e engenhoso avançado recebeu chamada para actuar pela canarinha.

Os brasileiros foram à final e acabaram derrotados pelo México, Caio marcou três golos e voltou a ser uma das coqueluches da equipa a par de Sávio, Leandro Machado, Dida, Flávio Conceição e Zé Maria, treinados pelo saudoso Mario Zagallo. A somar-se a esta ausência no Inter, Caio foi convocado para jogar pela selecção sub-23 de apuramento para os Jogos Olímpicos em Março e essas constantes pausas na carreira pelo clube puseram-no na lista dos dispensados (infelizmente, Caio não foi convocado para os JO de 96).

O Nápoles foi o destino do brasileiro, um clube meio “desfeito” depois daqueles anos loucos de Diogo Maradona, o que significava uma ausência total de estabilidade e equilíbrio. Novamente, Caio foi quase sempre suplente, actuando 7 jogos como titular e outros 14 como suplente utilizado, sem qualquer golo somado ou assistência criada.

O final da época significou também o fim da sua relação com o futebol italiano… contrato acabou e regressou ao futebol brasileiro. Passou por todos os maiores clubes do Brasileirão, destacando-se maioritariamente nos jogos pequenos, fracassando em geral nos grandes momentos, algo que viria a marcar o seu fim no futebol. Mas passemos em revista o que foram esses 7 anos de carreira para o atleta de 22 anos.

No Santos foi responsável por 13 golos e 6 assistências, apaixonando os adeptos durante a maior parte da época, para depois ser alvo de críticas quando não conseguiu ajudar na conquista do Campeonato Paulista em 1998. No Flamengo a situação mudou bastante, em que alinhou praticamente em 100 jogos pelo mengão levantando o Carioca e Mercosur, talvez um dos melhores momentos de Caio.

No cômputo final das duas mãos, Caio Ribeiro foi responsável por 3 dos 7 golos marcados, um deles em que dá um salto espectacular para interceptar um centro no primeiro-golo da primeira mão da final dessa competição, sendo que na 2ª mão foi um autêntico diabo à solta no campo, disposto a encontrar os caminhos necessários para chegar à baliza adversária.

Juntou o Campeonato Carioca à Mercosur e ficou-se por aí… a carreira de títulos de Caio terminou com esse ano de alto nível pelo Flamengo, onde até jogou à baliza devido à expulsão de Clémer num encontro frente ao Gama. O avançado não estava muito disposto a ir para entre os postes, mas o ídolo, o magnifico Romário fez o pedido e Caio acedeu,

“Toda véspera de jogo a gente faz aquele dois toques e eu sempre gostava de brincar no gol. Era goleiro titular do rachão. Nós já tínhamos feito as três substituições e não podia mais mexer. Eu queria ficar na linha. Estava 1 a 1, queria fazer gol e garantir meu lugar de titular no Flamengo. Os caras falavam: “Caio, é você, vai pro gol” e eu fingia que não ouvia. Aí veio o Romário e ele tinha aquela coisa do ídolo. Quando ele falou que era eu, fui para o gol. Peguei duas, três bolas. Pelo menos fiz a minha parte, não tomei gol.”

Depois do Flamengo, regressou ao Santos, para depois jogar pelo Fluminense, Grêmio e um clube da 2ª divisão alemã (Rot-Weiss Oberhausen), sem nunca conseguir explodir como devia… as críticas foram se avolumando, o avançado começou a ficar sem paciência para as ouvir e o seu enorme potencial acabou no Botafogo em 2005… tinha 29 anos quando pendurou as chuteiras.

Hoje em dia é comentador desportivo, recebendo contínuos elogios pela forma como vê e analisa os jogos de futebol. Nos seus anos como futebolista tinha inteligência e cabeça, nunca se entregou “à noite” e festas, mas a forma como a pressão o afectou, as constantes lesões que surgiram em linha de produção e tornaram uma carreira fenomenal em algo satisfatório, acabaram por ser os motivos do fim da carreira prematura de Caio, um virtuoso que chegou demasiado cedo ao futebol europeu.

O golo de Caio na 1ª mão da Mercosur


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