Cromos de Génios da Redonda: Jairzinho, Cruyff e Higuita

Pedro PereiraNovembro 26, 20195min0

Cromos de Génios da Redonda: Jairzinho, Cruyff e Higuita

Pedro PereiraNovembro 26, 20195min0
A Caderneta dos Cromos traz três historietas de algumas estrelas do futebol mundial. Cruyff, Jairzinho e Higuita. Qual deles gostavas de ter visto a jogar futebol?

Alguns dos cromos mais raros das cadernetas são também aqueles dos grandes génios do Desporto-Rei. Especiais tanto dentro como fora do campo, a Caderneta dos Cromos escolhe aqui três que contam algumas histórias preciosas do futebol mundial!

JOHAN CRUYFF E A CAMISOLA Nº14

No inicio da sua carreira, Cruyff era o numero 9. Na verdade, durante seis anos. Mas em 1970, ele jogou pela primeira vez com o número 14, tudo por culpa de  Gerrie Muhren que era um cabeça no ar. Momentos antes do grande clássico Ajax vs PSV , Muhren não encontrava a sua camisola 7 para jogar. Gentil como sempre, Cruyff oferece a “sua” camisola 9 para o colega jogar. Sem camisola, o craque holandês vai ao cesto das camisolas e procura uma que não esteja a ser usada. Calhou a camisola 14.

O Ajax venceu por 1-0 e a superstição manteve-se até ao final da sua carreira. Desde então, Cruyff nunca mais largou aquele numero (usou o 9 uma ou outra vez pelo Barça) como se o cesto das camisolas fosse o chapéu seleccionador da saga Harry Potter, e lhe tivesse sido magicamente atribuído o numero dos feitiços perfeitos. Quem não gostou muito desta decisão foi a Federação Holandesa de Futebol que tinha como regra para competições internas a obrigatoriedade do uso de números do 1 ao 11 para os titulares. Mas já sabem como Cruyff gosta de quebrar regras.

No Mundial de 1974, a selecção holandesa decidiu atribuir os números por ordem alfabética aos seus jogadores (o guarda redes Jongbloed ficou com o numero 8), menos a Cruyff que pediu para usar o 14. Superstição ou convicção forte que aquele número era mágico.

Já agora, essa não foi a única exigência de Cruyff nesse mundial. O equipamento da seleção holandesa era patrocinada pela Adidas e Cruyff pela Puma. Como o rapaz não queria misturar patrocínios, pediu à selecção holandesa para usar apenas duas riscas na sua camisola, ao invés das tradicionais três riscas da Adidas. O pedido foi aceite e a Puma ficou toda contente. Negócios…

JAIRZINHO, O HOMEM COM OLHO TANTO DENTRO COMO FORA DO CAMPO

Este cromo é especial. A sua enorme carreira como futebolista começou quando a sua família decidiu mudar-se para o Rio de Janeiro, para a rua General Severiano, ao lado do Botafogo. Cresceu a ver jogar craques do Botafogo de 50 como Garrincha, Nilton Santos, Amarildo. E foi num avançado genial que se tornou.

Era praticamente impossível pará-lo, um touro indomável que só o golo o parava. Uma força da Natureza. Teve a dura missão de substituir um dos melhores jogadores de sempre do Brasil: Garrincha. E conseguiu. Mais que isso, fez história no Mundial de 1970 ao ser o único jogador a vencer o Mundial e a marcar golo em TODOS os jogos dessa competição.

Mas para além de agradecemos pelo tanto que este craque ofereceu ao futebol, há que agradecer outra “coisinha”. Jairzinho viu um craque com muito talento a jogar no São Cristóvão. Vendo que ele ali não teria muito por onde crescer, decidiu comprar o passe desse miúdo por 10 mil dólares. Com os direitos do jogador, decidiu levá-lo para o Cruzeiro, clube onde Jairzinho jogava. Esse jovem prodígio chamava-se Ronaldo, mais tarde “o Fenómeno”. O resto é história.

HIGUITA E O ESCORPIÃO QUE ERA ESCOBAR

Contamos uma história mais arriscada da vida deste guarda redes colombiano: a sua relação com Pablo Escobar, o narcotraficante mais popular do Mundo.  Higuita e Escobar conheciam-se desde jovens, desde as peladas na rua de Medellin. A relação sempre se manteve até à adultez de ambos.

Antes do Mundial de 1990 em Itália, Escobar convidou Higuita para jantar em sua casa e desejar sorte ao guarda redes. Pablo chegou a prometer que se a equipa passasse a fase de grupos, ele iria a Itália para incentivar a equipa. Aquela conversa acabou por ser interceptada pelo FBI e a partir deste dia, Higuita viria a ser perseguido pelas autoridades por esta ligação com o crime. Acontece que a selecção acabaria mesmo por passar a fase de grupos.

O FBI pôs as mãos à obra e colocou câmaras, microfones e tudo o mais que fosse possivel para rastrear a presença de Pablo Escobar junto do grupo colombiano. Pablo Escobar, sempre um passo a frente do FBI, acabou por não viajar para Itália por conhecer a missão do FBI. Como a netflix vos mostrou, pouco tempo depois, Escobar foi preso na tal prisão construída por ele mesmo. Higuita foi visitá-lo e à saída, os jornalistas perguntaram-lhe se ele era amigo de Escobar. “Nunca irei negar os meus amigos”, disse ele. Foi a sua sentença. Jornalistas, dirigentes da federação colombiana, todos criticaram o guarda redes.

Teve de sair da Colômbia para acalmar as águas e foi para o Valladolid. Mas pouco conseguiu acalmar depois de se descobrir que esteve envolvido num sequestro comandado por Escobar e que recebeu dinheiro directamente do cartel de droga. Para acabar em grande a sua carreira, foi proibido de jogar durante seis meses depois de terem encontrado vestigios de cocaína no seu corpo. Vida atribulada mas não se esqueçam: La pelota no se mancha!

 


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS