Arquivo de Taça Allianz - Fair Play

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Francisco IsaacJaneiro 28, 20199min0

O FC Porto deixou, mais uma vez, escapar um troféu nos penaltis, o 3º na era Sérgio Conceição ao leme dos azuis-e-brancos. A inaptidão de aguentar com a pressão de concretizar os remates da marca de 11 metros, a falta de ponderação em escolher os melhores (se há este “patamar” nos Dragões em termos de penaltis) e a ausência da concentração correta, são sintomas recorrentes deste FC Porto dos últimos 6 anos.

Para quem afirma que as grandes penalidades são lotaria, então necessita de perceber que há bem mais para perceber nesse pormenor do futebol. Contudo, este artigo não pretende explicar a ciência por detrás de um penalti bem marcado ou de um guarda-redes que faz uma leitura adequada ao batedor, mas sim ao futuro próximo do FC Porto.

FIM DE NOVA FASE AGRESSIVA MAS SEM OS LOUROS DESEJADOS

Ao fim de (mais) uma fase desgastante e excessiva em termos de jogos e minutos nas pernas, o FC Porto sai sem nada para mostrar, ao contrário do que aconteceu em Novembro-Dezembro quando garantiu o apuramento para a fase seguinte da Liga dos Campeões, como um dos melhores 1ºs da maior prova europeia de clubes. Ao contrário de então que o esforço físico e mental resultou em “lucros”, agora em final de Janeiro o cansaço físico no final representou um fracasso total, que Sérgio Conceição terá de resolver com “pinças” de modo a não perder o foco e intensidade do plantel.

Verdade, que o FC Porto não perde há mais de 20 encontros quando falamos em tempo regulamentar, descontando assim a derrota nas grandes-penalidades frente aos leões, e isso pode ser um factor amenizador para a luta pelo objectivo final: conquistar o bicampeonato. Com a derrota na Taça Liga e o fim de Janeiro, começa agora a 2ª fase da temporada com nova sequência infernal de jogos: Belenenses SAD (casa), Vitória SC (fora), FC Moreirense (fora), AS Roma (fora), Vitória FC (casa), CD Tondela (fora), SC Braga (casa) e SL Benfica (casa).

Começa no dia 30 de Janeiro e vai até ao dia 3 de Março, num total de 8 jogos, a maioria de uma exigência total e que ao mínimo patinar pode permitir uma aproximação e, quem sabe, uma reviravolta no Campeonato Nacional, uma queda na Liga dos Campeões e um oferecer de primeira-mão da Taça de Portugal, sendo este o pior quadro possível para os actuais campeões portugueses.

Em sentido contrário, o melhor cenário poderá levar ao FC Porto ficar a 8 pontos de distância do seu rival mais directo, de garantir a 1ª mão tanto da Liga dos Campeões e da Taça de Portugal, sendo uma injecção de moral total para os três meses restantes da época.

Mas, até que ponto a derrota na Taça da Liga pode afectar o FC Porto? Poderá esta queda precipitar os dragões a uma sucessão de tropeções sem igual? Olhando para o reinado de Sérgio Conceição no clube da Invicta, quando em 2018 foram eliminados nas meias-finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal, para além da goleada humilhante em casa sofrida ante o Liverpool (0-5), o FC Porto conseguiu manter a passada na corrida pelo título. Mesmo uma derrota no Restelo frente ao CF “Os Belenenses” não murchou as expectativas de recuperar o título nacional, conquistado praticamente na Luz com um golo de Hector Herrera.

Contudo, de lá para cá os Dragões perderam um elemento importante que os motivou nessa direcção: o facto de serem vistos como os underdogs e estarem a “correr” por fora, algo que serviu sempre de factor motivacional nos piores momentos.

2018/2019 E A MUDANÇA DO PARADIGMA MOTIVACIONAL DO DRAGÃO

O início desta época foi um exemplo claro do relaxamento da equipa, quando sofreram duas derrotas num par de semanas ante o Vitória SC (em casa) e o rival SL Benfica (fora), pondo a nu as debilidades e fragilidades do plantel: Diogo Leite não servia (e entretanto desapareceu por completo das escolhas de Conceição) para central, Maxi Pereira era um lateral-direito inexistente e Herrera-Brahimi estavam claramente em baixo de forma (ironicamente, são dois jogadores que vão sair a custo-zero no Verão de 2019).

Foi nefasto o futebol praticado pelo FC Porto em Agosto, com uma total apatia nas transições e um ataque pouco esclarecido, perdendo-se boas ocasiões de forma consecutiva, seja pela falta de “felicidade” de Soares, André Pereira (que chegou a ser colocado num pedestal por uma falange de adeptos do FC Porto) ou Marega em frente à baliza, ou pelo excessivo egoísmo (que ainda se mantém) por parte de Yacine Brahimi.

Após a derrota na Luz, o FC Porto recuperou a forma e o ADN de ir atrás do resultado (8 reviravoltas no resultado) e a equipa endireitou-se a tempo de conquistar méritos e honras na fase-de-grupos da Liga dos Campeões e de recuperar o 1º lugar da Liga NOS.

Contudo, o cansaço tem se vindo a acumular e neste momento o FC Porto está a regressar ao que foi o mês de Agosto, entre um futebol dominante mas pouco esclarecido nos jogos decisivos, entre estar perto da vitória para depois deixá-la fugir nos detalhes. O Sporting CP não conseguiu rivalizar com os Dragões na 2ª parte da Taça da Liga, ficando durante largos minutos encostado à grande área, sem que os campeões nacionais fossem minimamente inteligentes na execução das tarefas ofensivas.

Pelo menos duas jogadas de perigo iminente foram perdidas nos pés de Jesus Corona assim como de Fernando Andrade, que se revelou bem mais feliz que André Pereira, um dos não-reforços para esta temporada, mostrando aquela faceta que deve preocupar os adeptos do emblema azul-e-branco: a falta de eficiência ofensiva.

Moussa Marega tem carregado a equipa às costas no último terço do terreno no que toca a dar expansão e “agressividade” ao ataque, faltando um goleador que perceba de movimentação dentro da área melhor que a de Tiquinho Soares, que até já falhou um golo fácil em Alvalade com só o guarda-redes pela frente (Renan Ribeiro estava inclusivé ajoelhado e já sem pouca margem de manobra).

A ausência de opções foi sempre uma discussão assumida por Sérgio Conceição, que esteve em guerra com a SAD durante grande parte do Verão de 2018, sem nunca obter os seus maiores desejos… felizmente, chegou Militão em final de Agosto e, em Janeiro, Pepe duas aquisições de alto peso não só para a defesa mas para a parte mental da equipa.

NOVO DESAFIO PARA SÉRGIO CONCEIÇÃO: MANTER O FOCO NO IMPORTANTE

Ou seja, neste misturar de agravantes e pormenores, o FC Porto está a mostrar sinais de cansaço profundo que podem “matar” as pretensões da equipa em chegar mais longe do que até aqui chegou. Ainda tem 5 pontos de distância para o SL Benfica, tem por jogar os oitavos-de-final da Champions e meias da Taça de Portugal, podendo em Fevereiro fechar um circuito de saídas muito complicadas, abrindo-se Março e Abril como meses mais estáveis e equilibrados no calendário.

Por outro lado, o discurso inconsistente de Sérgio Conceição poderá ser preocupante… se o treinador do FC porto neste momento fala com extrema clareza e sem entrar numa raiva total, aludindo e bem a problemática de atacar os árbitros de forma consistente, não se pode esquecer da guerra que o próprio começou na época transacta, em que ajudou a inflamar (e aqui deve-se incluir Rui Vitória enquanto treinador do SL Benfica, para além de Francisco J. Marques ou o departamento de comunicação do SL Benfica em anos anteriores) uma disputa entre águias dragões, atirando o fairplay para o esquecimento.

É quase uma bipolarização do treinador português, que tanto mandou retirar a equipa aquando da entrega da Taça da Liga ao Sporting CP como falou e trocou alguns gestos de fairplay com adeptos rivais. Colocando de lado a questão do Mundo do Preto e Branco do fairplay de Conceição, há que perceber que agora se dá o maior desafio da carreira do treinador: manter o nível de disciplina e motivação que até aqui se fez notar no FC Porto. E há que ter atenção que em Portugal são os azuis-e-brancos que melhor jogam, mesmo que esse “direito” esteja só reservado durante 45 minutos (exemplo do que foram os últimos dois Clássicos frente ao Sporting CP ou SL Benfica).

Até que ponto a perda da Taça da Liga pelo um penalti marcado por uma falta infantil de Oliver (que foi gerada num cabeceamento sem nexo de Militão junto à linha de fora) e de falta de percepção em saber marcar esses pontapés (muito se falou que Marega, Soares deviam ter assumido essa obrigação mas até que ponto seriam melhores que os outros?) podem se revelar nocivos para o futuro-próximo dos ainda campeões nacionais?

A esta pergunta só o FC Porto pode responder mas não se avizinham jogos fáceis e o momento mergulhado numa tamanha/relativa desilusão pode vir a ser decisivo no desfecho do mês de Fevereiro.

Um momento de paz depois da desilusão (Foto: Lusa)

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