Lisboa 7’s: campeão argentino em dia de bicampeonato do Belenenses

Francisco IsaacJunho 2, 20199min0
Está fechado o Lisboa 7's e falamos de 4 destaques que marcaram a diferença durante todo o torneio! Do MVP, às surpresas, a um pormenor histórico... qual o mais significativo?

Depois de 17 anos de espera, o Lisboa 7’s voltou em força e terminou com um duelo internacional entre Curne (equipa de rugby da Universidade do Nordeste da Argentina) e os bicampeões em título dos 7’s portugueses, CF “Os Belenenses”.

Neste fecho que poderia servir de um simples resumo do que se passou, vamos invés de falar de alguns destaques e detalhes deste Lisboa 7’s 2019! Serão 4 secções dedicadas ao histórico torneio nacional e comecemos por aqueles que surpreenderam…

UMA TRIPLA INESPERADA CHEGOU LONGE: JAGUARES, CR SÃO MIGUEL E GDS CASCAIS

As surpresas vieram das três divisões nacionais, ou seja, da Divisão de Honra, CN1 e CN2, mais precisamente das equipas de Cascais, do bairro de Alvalade e a formação conjunta entre o Saint Julians e a Escola de Rugby da Galiza, os Jaguares. Começando pelos vencedores da Taça Bowl (que vão estar na final do CN2, a realizar no dia 8 de Junho frente ao Rugby Clube da Bairrada), a equipa liderada por Pedro Vital não teve uma fase-de-grupos boa, somando três derrotas no primeiro dia ante precisamente os “pelicanos” do Caldas RC, os “cavaleiros” do RC Santarém e dos asiáticos do Hong Kong.

No 2º dia, a Escola de Rugby da Galiza deu a volta por cima e somou precisamente três vitórias… derrubou os “vizinhos” de divisão do Belas RC, respondeu com força frente ao CR Évora (40-10… exibição de gala) e apurou-se para a Taça Bowl como 9º classificado do Men Open

Do outro lado estaria o CDUL, uma das equipas clássicas dos 7’s nacionais liderados por dois antigos internacionais de Portugal, Gonçalo Foro e João Lino, e as primeiras propostas de resultados eram de uma vitória incontestável por parte dos universitários de Lisboa.

Contudo, e de uma forma inesperada os Jaguares roubaram as atenções e carimbaram uma exibição genial no que toca à gestão de jogo, controlo da oval e de nunca desistir de perseguir o adversário. Vitória por 22-07, Taça Bowl conquistada e fica assim prometido (e o aviso lançado) que esta união entre ER Galiza e St Julians pode vir a causar calafrios no rugby português no futuro.

Já os “bulldogs” de Rui Carvoeira e Nuno Damasceno somariam duas vitória no dia de abertura, para se qualificarem como um dos melhores 2º classificados do Men Open. No 2º dia derrubaram facilmente o RC Santarém e chegaram aos quatro melhores emblemas desta 2ª divisão do Lisboa 7’s, tendo sido derrotados pelo GDS Cascais. Apesar de não terem conseguido ficar no pódio do Men Open Lisboa 7s 2019, a formação do bairro de Alvalade mostrou-se como uma das equipas mais interessantes de ver jogar, a par dos Jaguares e da última surpresa… o GDS Cascais.

A equipa treinada agora por Nuno Gonzaga Ferreira e Diogo Mateus dominou o Men Open como a melhor equipa portuguesa, atingindo a final da competição onde viria a perder para o Curne. Mas até aí foi impossível bater esta formação da linha, que liderados por Francisco Costa Campos (está num momento de grande forma e mostrou-se dominador na placagem) foram derrubando Belas RC, CR Évora, RV Moita, RC Montemor e CR São Miguel, com um rugby vibrante, de altos ritmos e um dinamismo diferente.

O MOMENTO HISTÓRICO: A FAMÍLIA NOBRE VOLTA AO LISBOA 7S COM A SUA MAIOR PROTAGONISTA

Entre 1987 e 2002 o Lisboa 7’s não teve a divisão feminina  a entrar em campo isto devido à inexistência de atletas deste género a praticar a variante… Sofia Nobre, filha de um das maiores lendas do rugby português, Carlos Nobre, então só teve a possibilidade de acompanhar os jogos da bancada durante esses 15 anos de existência do torneio lisboeta e esperou até 2019, ano em que se deu o retorno do torneio.

A atleta do SL Benfica de 49 anos, que joga rugby desde antes dos 16 anos, teve assim a oportunidade de entrar em campo naquele que já foi um dos torneios de 7’s mais históricos da Europa e voltou a mostrar algumas das características que a notabilizaram durante largos anos, senão décadas: raça pura na disputa pela oval, uma presença que emana liderança e aquela capacidade de ainda hoje bater e fugir ao contacto.

As águias não tiveram a melhor das sortes no torneio, apesar de terem arrancado um empate às devoradoras de troféus do Sporting CP no 1º dia, perdendo ante Hong Kong que viria a ganhar o campeonato no final de contas.

Mas para quem não se apercebeu, relembramos deste ponto: Sofia Nobre, a atleta em Portugal (em qualquer dos géneros) com mais anos de actividade na modalidade conseguiu coleccionar mais um torneio na sua longa lista de presenças em competições e eventos de rugby. Ah, e ao seu lado tinha a filha Matilde Nobre Goes, nascida em 2003 e que aos 16 anos joga ao lado de atletas séniores.

A família Nobre-Goes (Foto: Luís Cabelo Fotografia)

A PROVA DO FUTURO: OS NOVOS LÍDERES DO 7’S PORTUGUESES TOMARAM O PALCO

GD Direito, AEIS Agronomia, CF “Os Belenenses” foram três das equipas que foram lideradas autenticamente por uma vaga de jovens que reclamam cada vez mais o protagonismo no rugby português e a forma como apareceram em campo a agarrar a batuta de impressionar merece destaque. No lado dos “advogados” Jerónimo Portela e João Fezas Vital foram dois dos nomes mais fortes da formação de Monsanto, com o primeiro a mostrar uma versatilidade e capacidade para aparecer em grande velocidade de forma constante.

Já na equipa liderada por João Mirra foi mais do mesmo, com os Azevedo, Marta, Freudenthal, Caetano e Wallis a serem os grandes responsáveis pelo bicampeonato do Belenenses neste Lisboa 7’s. Em específico há que mencionar como David Wallis foi “gigante” no trabalho duro, com uma série de penalidades conquistadas no ruck, para além de uma capacidade monstruosa na placagem e em se reposicionar imediatamente para atacar novamente a linha de defesa.

Foi dos atletas em melhor foco no que toca a manter a posse de bola e gerir os momentos de jogo, demonstrando cada vez mais que é um dos jogadores mais completos no rugby português e só com 21 anos nas “pernas”.

Já na “turma” de Frederico de Sousa, os agrónomos apareceram no torneio com uma série de nomes jovens como Gonçalo Prazeres, Tomás Cabral, José do Carmo Câmara, Vasco Câmara, Domingos Cabral, (dois dos vários sub-18 que jogaram neste Lisboa 7’s) e o capitão João Lima, que começa a ser um caso sério no contexto do rugby português.

Não sendo o jogador mais vibrante ou entusiasmante no que toca a pormenores técnicos, é talvez dos mais consistentes e competentes, dos mais fiéis no que toca a executar a estratégia de jogo e a liderar a equipa pelo exemplo, que raramente falha placagens ou perde o controlo da oval no contacto. É um dos melhores exemplos do que estas novas gerações do rugby português podem trazer à modalidade e apesar de não ser tão popular como outros da sua geração, é impossível não reconhecer a sua capacidade física, técnica e táctica, que marcará (e já está a marcar) a Agronomia e o rugby português.

Jerónimo Portela (Foto: Luís Cabelo Fotografia)

O REI DO LISBOA SEVENS: KANE HANCY É A PROVA VIVA DE QUE A VETERANIA É DECISIVA

O Curne acabou como campeão e um dos seus atletas poderia perfeitamente ter arrebatado o título de MVP do torneio, com o capitão Alvaro Biscaya a merecer rasgados elogios pela forma como jogou em Lisboa. Mas, seria uma injustiça total para com Kane Hancy, o capitão-treinador do Técnico Rugby que liderou os engenheiros ao 3º lugar no Campeonato Nacional Sénior e à conquista da Taça Plate frente ao Caldas RC.

O neozelandês de 36 anos (vai fazer 37 em Novembro) deu um show genial na Tapada da Ajuda, não só com os detalhes técnicos de aplaudir (aquela finta de passe continua a ser uma armadilha para quem se aventura a ir demasiado rápido à placagem) mas com uma voz de comando essencial para conferir ao Técnico outra dimensão defensiva e ofensiva, parecendo ter em alguns momentos mais que 7 jogadores dentro de campo.

Kane é daqueles jogadores que não tendo conquistado qualquer título desde que chegou a Portugal, não pode ser esquecido e a demonstração dada no Lisboa 7’s é mais que suficiente para perceber o que neozelandês trouxe ao Técnico Rugby nos últimos quatro anos.

Melhor jogador pelo trabalho que faz com e sem a oval, melhor jogador porque consegue elevar os seus colegas do lado para outro patamar, melhor jogador porque mostrou-se altamente responsável pela equipa quando necessário.

 

Kane Hancy (Foto: Luís Cabelo Fotografia)

OS CAMPEÕES E CLASSIFICAÇÃO FINAL DO LISBOA 7’S


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