Rugby Europe Championship 2023: a prestação dos “Lobos” pt.2

Francisco IsaacMarço 26, 20235min0

Rugby Europe Championship 2023: a prestação dos “Lobos” pt.2

Francisco IsaacMarço 26, 20235min0
Portugal conquistou o 2º lugar no Rugby Europe Championship 2023 e Francisco Isaac analisa as exibições dos "Lobos" em 3 partes

Depois de termos olhado para os jogadores utilizados, os dados estatísticos individuais, e o impacto da maioria dos “Lobos” que representaram Portugal no Rugby Europe Championship 2023, é altura de olharmos para o que a selecção nacional criou, ou seja, os ensaios marcados: como é que foram construídos, quais as principais plataformas de jogo e o que nos dizem estes 5 pontos da forma como os “Lobos” jogam.

ALINHAMENTOS E FORMAÇÕES-ORDENADAS: VALERAM PONTOS?

Vamos formular uma pergunta para começara a oferecer respostas, uma vez que será mais fácil assim de fazer o breakdown dos dados: qual o impacto/peso das fases-estáticas na construção dos ensaios neste Rugby Europe Championship 2023? Dos 28 ensaios marcados por Portugal nesta campanha, 14 tiveram o seu ponto de origem na formação-ordenada (2) e alinhamento (12), com este último a se diversificar em duas plataformas diferentes, o maul dinâmico, que valeu 4 ensaios, e jogadas a partir de alinhamento, com 8 combinações a nascerem aqui. Dos alinhamentos tivemos diferentes tipos de jogadas, desde individuais, como foi aquele ensaio de José Madeira frente à Roménia, ou a combinação de Lionel Campergue com Pedro Bettencourt, também frente à selecção romena, depois de uma excelente captação por José Madeira e um par de mãos bem realizado por Thibault de Freitas.

Os alinhamentos valeram quase 50% dos ensaios marcados por Portugal neste Rugby Europe Championship 2023, sendo que os “Lobos” só garantiram 80% das suas introduções, ficando atrás de Geórgia, Roménia e Espanha, tendo sido a selecção com 2º maior número de colocações de bola no alinhamento falhadas (17). Este dado é extremamente importante de reter, pois demonstra que mesmo com estes erros, Portugal foi capaz de transformar o seu alinhamento em pontos, ficando só atrás da Geórgia neste aspecto. Já a formação-ordenada teve menor protagonismo e revelou uns quantos problemas que devem ser resolvidos nos próximos meses, com 4 penalidades cometidas e apenas duas impostas ao adversário.

Finalmente, o maul foi um mecanismo que realmente funcionou e conseguiu fazer com que Geórgia, Roménia ou Espanha recuassem no território, abrindo espaço para chegar à área de ensaio ou criar uma plataforma segura para sair a jogar.

Ensaios (Foto: Arquivo)

A ARTE DE CRIAR, INVENTAR… E MARCAR

Um dado extraordinário e que suscita uma curiosidade extrema foi a capacidade de Portugal marcar em jogadas de 1ª fase, seja por via do maul, na sequência de um passe após formação-ordenada ou alinhamento, ou mesmo no seguir rápido. Aliás, neste último ponto, os “Lobos” de Patrice Lagisquet marcaram três ensaios a partir de toques rápidos após uma penalidade, com o ensaio frente à Geórgia a ficar bem na retina, demonstrando a capacidade desta selecção em capitalizar nos momentos mais oportunos. Dos tais 28 ensaios concretizados pelos atletas lusos, 15 foram em primeira-fase e 13 com mais de uma, com o máximo de fases construídas para chegar ao ensaio a ter sido de 7 no jogo frente à Polónia, no qual foi também os únicos 5 pontos portugueses em que a assistência veio a partir de um pontapé (crosskick de Pedro Lucas para Vincent Pinto).

Oito ensaios nasceram de recepções de pontapés contrárias ou de erros do adversário, numa prova clara que Portugal soube converter bem estas devoluções ao pé em pontos, destacando-se uma eficácia mordaz no controlo da oval e abertura de oportunidades. A clarividência, a vontade de jogar à mão, e assumir o protagonismo foram elementos que explicam o sucesso dos “Lobos” durante esta campanha, submetendo as equipas contrárias sob uma pressão total, onde a gestão da posse foi também outro aspecto importante para atingirem à área-de-validação contrária.

Outro ponto importante para a análise foi a capacidade de manter a bola viva e furar a linha defensiva contrária, com os “Lobos” a conseguirem a ligarem com sucesso 33 offloads e a forçarem 22 quebras-de-linha nas 28 jogadas que terminaram em ensaio. Olhando para o cômputo geral, Portugal foi a selecção que mais offloads realizou no Championship com 56, tendo sido também a que mais quebras-de-linha forçou (50) e a segunda com mais defesas batidos (124), sendo as provas suficientes para perceber a eficácia do ataque português, isto, e apesar, de ter sido a manobra ofensiva com o maior número de erros de handling (50).

Para fechar este tema dos ensaios e a capacidade de trabalhar no ataque, como é que Portugal esteve em termos de tempo/ensaio? 16 dos 28 ensaios foram marcados em 15 segundos, com o mais rápido a ter sido frente à Roménia (José Madeira), e isto pode servir pouco como dado salto, porém, se tivermos em atenção os dados apresentados até este ponto, percebemos que a estratégia de contra-ataque ou das fases-estáticas dos “Lobos” efectivamente resulta não só um avanço substancial no território, como termina em pontos e ensaios, forçando erros constantes ao opositor. Durante o Rugby Europe Championship 2023, Portugal foi também capaz de marcar ensaios mais demorados, com três ensaios a ascenderem acima do 1 minuto, sendo que a larga maioria destes rondaram os 20-30 segundos.

Em comparação com 2020, 2021 e 2022, Portugal teve uma clara melhoria em todos os parâmetros, com mais ensaios marcados (21, 25 e 19), menos sofridos, melhor capacidade para gerir o ataque, e com as fases-estáticas a garantir mais conquistar ou menos erros, tudo sinais positivos e de evolução entre temporadas.

Numa nota breve, no parâmetro dos ensaios sofridos, Portugal sofreu cinco entre a fase-de-grupos e meias-finais, consentindo o mesmo número na final, com seis deles a terem nascido em penalidades cometidas pelos “Lobos”, e em fases-estáticas (a Geórgia quebrou fisicamente com o conjunto português nos últimos 20 minutos do encontro).

Na parte três iremos escolher os melhores jogadores desta fase da janela internacional, os momentos mais especiais, e quem surpreendeu mais neste Rugby Europe Championship 2023.


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