Raio-x a Simon Mannix: o que esperar do novo seleccionador

Francisco IsaacAbril 17, 20245min0

Raio-x a Simon Mannix: o que esperar do novo seleccionador

Francisco IsaacAbril 17, 20245min0
Quem é Simon Mannix? O que podemos esperar? Que estilo de jogo mais gosta de aplicar? Francisco Isaac responde a todas as questões

Ambição. É talvez a melhor palavra que se adequa a Simon Mannix, mesmo que nos últimos cinco anos não tenha conseguido atingir metas e resultados similares ao que logrou quando esteve ao serviço do Section Paloise entre 2014 e 2019. Mas comecemos pelo princípio… quem é Simon Mannix? Como já estabelecido em diversas notícias, o novo seleccionador nacional nasceu e cresceu na Nova Zelândia, passando pela equipa de Wellington antes da formação da franquia dos Hurricanes, onde no total das duas equipas jogou em quase 90 jogos e atingiu os 700 pontos. Depois emigrou para Inglaterra, primeiro para os Sale Sharks e a seguir os Gloucester, isto entre 1997 e 2001. Em 2007 encerrou a carreira de jogador, após ter representado o US Romans Péage por três temporadas, clube pelo qual iniciou a sua vida enquanto treinador. Uma das maiores proezas que alcançou foi ter sido All Black numa ocasião, isto em 1994, frente à França.

O seu perfil enquanto jogador acabou por influenciar a forma como abraçou a carreira de treinador, apresentando um jogo explosivo, efusivo, emotivo e “quente”. Para perceber bem, a voz de Simon Mannix consegue se ouvir das bancadas, estando sempre ligado à corrente na procura incessante de melhorar as equipas por onde passa, não significando isto que não dê espaço aos jogadores para procurarem soluções e caminhos. Esta personalidade foi decisiva para ajudar o Séction Paloise a conquistar o título de campeão da ProD2 em 2015, o Pau simplesmente dominou o campeonato do princípio ao fim, somando 20 vitórias em 30 jogos, totalizando 94 pontos. Foi o melhor ataque com 754 pontos marcados e a melhor defesa, mostrando toda uma evolução estrondosa e que lançou o clube no caminho do Top14.

No Top14 chegou a terminar em 8º com um dos orçamentos mais “pequenos” desta primeira divisão francesa de rugby, chegando mesmo às meias-finais da Challenge Cup em 2017/2018. Nesta viagem do Pau com Mannix, Samuel Marques fez parte durante 2014-2016, tendo criado um bom relacionamento com o treinador, algo que pode vir a ser decisivo na hora de convocar o formação de 35 anos. Contudo, e após ter gozado uns bons anos no Pau, seguiu-se um período mais conturbado e confuso da carreira do treinador.

Primeiro saiu para comandar todas as selecções da Singapura como Director de Rugby, permanecendo aí entre 2019 e 2021, saindo sem grande esplendor muito devido ao impacto da pandemia do SARS-CoV-2, algo que amordaçou o rugby asiático com força. Voltaria a França em 2021 para assinar pelo RC Bassin d’Arcachon, clube de Lionel Campergue, que, pelo que se conta em França, não foi dos melhores relacionamentos entre treinador e jogador.

De qualquer forma, Mannix esteve na Nationale 2 com o clube e deu novamente o salto para a ProD2 em 2023, quando em Dezembro desse ano o histórico clube basco contratou-o como Director de Rugby. Infelizmente, os problemas profundos do Biarritz significaram uma época completamente abaixo das expectativas, mas muito similar ao que aconteceu em 2022/2023 – estão só com menos 11 pontos com quatro jornadas por se jogarem. Perante as dificuldades, Simon Mannix não tem caído para uma postura agressiva ou defensiva, optando até por se expor e proteger os jogadores, um ponto positivo e que é importante para perceber até onde vai o neozelandês por quem se sacrifica pela equipa.

Com a carreira explicada, vamos agora dar continuação ao tipo de rugby jogado. Dependendo da equipa que tem à sua disposição, Mannix tenta apostar num jogo expansivo, de permitir aos jogadores procurar velocidade e risco, algo que encaixa na forma de jogar dos Lobos de 2018-2024. Depois há alguns pormenores a ter em atenção, como a defesa, em que o ex-All Black dá extrema importância tentando estabelecer bons processos, com um ritmo alto na recuperação a sair do jogo e a montar linhas, onde exige o máximo de concentração e trabalho.

Normalmente aposta em jogadores mais maduros e experientes, não sendo muito de testar ou arriscar em colocar atletas mais “verdes” em jogos de importância máxima. Todavia, isto é o pensamento e metodologia de Mannix aplicado ao rugby de clubes, com o de selecções a ser algo diferente. A sua forte ligação ao rugby francês que vem a ser construída desde 2004 é chave para garantir uma comunicação saudável com os clubes franceses, algo decisivo para os Lobos terem ao seu serviço a melhor equipa possível, lembrando que a partir da próxima temporada teremos pelo menos três Lobos no Top14, aumentando a dificuldade de contar com todos no Men’s Rugby Europe Championship 2025.

Simon Mannix é experiente, tem 52 anos e procura atingir glória através de uma qualificação para um Campeonato do Mundo, sendo uma opção positiva e que pode funcionar caso conte devidamente com todos os jogadores, e não se deixe influenciar por um certo tipo de pressões. Todos os jogadores contam, especialmente aqueles que atingiram o estatuto de profissional. Será importante perceber qual será o seu papel nos Lusitanos e que novidades estarão no horizonte do rugby português com Simon Mannix agora no comando.

Foto de Destaque da Federação Portuguesa de Rugby


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS