Portugal, RWC e objectivos… uma combinação possível e credível

Francisco IsaacMarço 22, 20217min0

Portugal, RWC e objectivos… uma combinação possível e credível

Francisco IsaacMarço 22, 20217min0
O caminho para o Mundial 2023 pode estar mais complicado, mas Portugal tem as condições necessárias para lá chegar, como explicamos neste artigo

Portugal perdeu contra a Geórgia e Roménia no arranque do Rugby Europe Championship, limitando as possibilidades de chegar ao Mundial de Rugby 2023, que oferece aos países da Europa (não contando com os já apurados das Seis Nações) dois lugares directos e mais um para um playoff que desagua numa repescagem. Se contra a Geórgia o cenário de ganhar era menos provável, não devido ao valor de Portugal mas sim por causa da qualidade de rugby dos “lelos”, já a derrota frente à Roménia era tomada como uma situação quase proibitiva, uma vez que desaires frente aos restantes adversários significa um constante reduzir das oportunidades em chegar ao Rugby World Cup, um feito conquistado somente na edição de 2007.

Porém, estas duas derrotas não têm que significar o fim total das esperanças dos “lobos” para chegar ao Mundial, nem devem servir como um atestado de qualidade ou potencialidade dos homens de Patrice Lagisquet, evitando assim entrar em marasmos depreciativos, em críticas iradas, infundadas ou comportamentos que flertam com xenofobia ou nacionalismo exagerado. Efectivamente continuam um máximo de 15 pontos em jogo, que podem ser obtidos caso a selecção nacional consiga garantir vitórias bonificadas contra a Rússia, Espanha e Holanda/Bélgica, cenários minimamente difíceis contra os dois primeiros e nem tanto contra os últimos, estando assim tudo em aberto para o que resta do calendário internacional de rugby.

A adição dos atletas que jogam fora de Portugal tem sido fundamental para o subir de qualidade dos “lobos”, detendo estes mérito no chegar à sua selecção nacional mesmo que estejam a actuar fora do país pelo qual representam, caso de José Lima, Mike Tadjer, Samuel Marques, Geoffrey Möise, Francisco Fernandes, Anthony Alves, José Madeira, Dany Antunes, entre outros tantos. A junção destes e outros jogadores que jogam a um nível competitivo superior garante uma injeção física, técnica e mental diferente, oferecendo soluções mais que credíveis para os próximos 8 encontros que determinarão ou não a presença lusa em França em 2023, tendo já resultado em excelentes resultados em 2020 (vitória frente à Roménia, quase vitória ante a Rússia e um desafio equiparado frente à Geórgia), ao contrário do que se tem vaticinado por alguns membros da comunidade de rugby nacional.

A existência do discurso de diferença, de desigualdade e de que o esforço de quem joga em Portugal não é do mesmo patamar que os que estão fora, é um sério e nocivo problema na procura de dar outra sequência à oval portuguesa, fustigada por mais de uma década de problemas federativos, desunião da sua malha de clubes nacionais e falta de compreensão e/ou vontade do público, que acompanha a modalidade, de se informar, tornando assim mais complicado de atingir os objectivos desenhados.

Igualmente é preocupante o discurso de quem quer continuar a defender a teoria de que o rugby em Portugal deve deixar de embarcar em sonhos, abandonando os projectos que desembocam em apuramentos para a competição X ou Y, devendo, segundo esta retórica, ficar-se cingido à dura realidade do amadorismo e aproveitar para viver ao “sol” desse mundo. Contudo, se Portugal tem as ferramentas, qualidade e ambição necessária para atingir outro patamar, não deverá lutar pelo mesmo?

A estrutura pode estar longe de ser a pretendida e necessária num quadro de manutenção entre as principais 15 selecções do Mundo (falamos de ranking), faltando outra rede colectiva de trabalho entre as várias instituições associadas à modalidade, sendo que a própria Federação Portuguesa de Rugby ainda está longe do mecanismo de trabalho ideal em comparação com outras federações, como acontece na comunicação ou imagem, em que a qualidade tem caído desde 2018, tendo surgido, por outro lado, a Rugby TV, com esta a dar outra expansão à marca do rugby português.

Mas o real crescimento pode receber um sério desenvolvimento com uma selecção vocacionada para lutar pelos primeiros lugares do Rugby Europe Championship, montada para ter uma janela de internacionais de Inverno e Verão intensa e planeada (dependendo de como surgirá a futura Liga Mundial, os test matches que só contam para efeitos de ranking têm de ter um financiamento especial para conquistar o interesse de adversários de qualidade), dando um reforço ao escalão sub-20/18/16 nos termos de garantir outra qualidade (e quantidade) dos estágios, do garantir de amigáveis durante a temporada e de até procurar estágios em academias internacionais para os atletas fadados para esse patamar.

Mas não sendo este o tema do artigo, é importante perceber que Portugal tem tantas possibilidades de crescimento como a Espanha, Itália ou Geórgia, estando níveis acima da Roménia ou Rússia tanto no que toca à formação, à linha contínua de trabalho interno e na posição geopolítica e desportiva, algo explorado durante os anos de 2017 a 2019, como se viu pelos jogos realizados frente ao Canadá a nível de sub-20 ou Brasil nos séniores A. O aumento do número de praticantes da modalidade, o financiamento e aposta coerente nos femininos que merecem uma atenção redobrada pelo potencial que carregam em si (se há atleta que se sacrifica em Portugal e não espera muito em retorno, são as mulheres do rugby português) e o conseguir convencer os clubes portugueses a trabalhar dentro das suas comunidades, imbuindo-se de um espírito também social e de práticas comunitárias extra-rugby (um campo trabalhado bem por alguns clubes, ainda que longe do que outras modalidades conseguem fazer), são outros objectivos necessários para um futuro mais brilhante do rugby nacional.

Existindo carências ou não, Portugal tem capacidade para ser um país minimamente credível e respeitado no rugby internacional, independentemente de ter uma parte da sua modalidade sob a alçada do rugby amador – algo que não é nocivo para o crescimento da modalidade no contexto local – precisando só de colocar de lado os constantes atritos ou proto-revoluções nascidas de anos e décadas de feudos pessoais, libertando-se do estilo beligerante que tem vindo a adoptar no século XXI e avançar para um capítulo onde a crítica séria e concreta pode ser aceite e discutida de maneira inteligente, e não ser observada como uma “lança” para iniciar uma ruptura ou uma crise em A ou B, seja clubes ou federação.

É fulcral, igualmente, deixar de conferir as tais diferenças entre os que estão lá fora ou quem joga em Portugal, já que o esforço e sacrifício realizado por atletas como Mike Tadjer, Thibault Freitas, Jean de Sousa, Samuel Marques, Rodrigo Marta, Manuel Picão, David Costa, Manuel Cardoso Pinto, Tomás Appleton, entre outros tantos que têm vestido a camisola portuguesa nos últimos tempos, é igual e tem de ser respeitado publicamente da mesma forma, pondo um ponto final no querer distinguir “estes” e “aqueles”.

Portugal perdeu dois jogos, importantes sem dúvida, mas seguem-se três oportunidades para garantir pontos preciosos que poderão afectar a situação em 2021 e 2022, e como mostrado em 2020 e 2021, é mais que possível igualar os nossos adversários directos na luta pelo ranking da World Rugby e por um lugar nos próximos mundiais de rugby, e a lista de convocados actual é uma das melhores do século XXI, existindo mais de outros 15 atletas com características similares e com qualidade similar prontos para serem chamados em caso de necessidade.


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