Portugal nos Internacionais de Outono: Lobos fazem tremer o nº10 mundial

Francisco IsaacNovembro 14, 20216min0

Portugal nos Internacionais de Outono: Lobos fazem tremer o nº10 mundial

Francisco IsaacNovembro 14, 20216min0
Portugal esteve perto de fazer o improvável em Coimbra frente ao Japão, com os Lobos a lutarem pela vitória até ao apito final e contamos tudo nesta análise

25-38 foi o resultado final entre Portugal e Japão, num encontro que podia até ter terminado com celebrações dos Lobos, com esta derrota a não beliscar a excelente exibição do elenco de Patrice Lagisquet, e o facto de terem estado 11 mil pessoas no Estádio de Coimbra. A análise ao encontro em três pontos, com destaque para Samuel Marques e não só.

MVP: SAMUEL MARQUES

A excelência que o formação impõe em cada jogada, movimentação, combinação e fase de jogo de Portugal foi essencial para que o resultado tivesse sido discutido até ao último minuto deste embate, com a exibição de Samuel Marques a ser muito mais que a assistência para o ensaio de José Lima, ou os pontapés convertidos, fechando a sua época internacional em 2021 em alta. O n°9 do Carcassone liderou bem a avançada, fomentando um constante dinamismo e energia deste bloco, que apresentou dificuldades constantes aos seus adversários do Japão, acrescentando ainda a intensidade e destreza em criar pequenas roturas junto ao ruck, tendo tido o formação um impacto profundo em como os Lobos se movimentaram enquanto unidade colectiva.

A capacidade de manter uma postura fria e calma quando surgiram certas penalidades ou erros, garantiu uma plataforma inteligente nos momentos em que o Japão podia ter obtido maiores dividendos, caso Portugal caísse nesse tal anarquismo disciplinar, com a seleção nacional a manter uma total união essencial neste embate com o 10° classificado do ranking da World Rugby.

Firme quando os Brave Blossoms aumentaram a pressão junto aos rucks ou nas fases-estáticas (mesmo que tenha feito um ligeiro passe menos positivo na última formação-ordenada), empolgador quando os Lobos conseguiram fazer a “máquina” engrenar, e exigente em cada sequência de jogo, este foi o papel de Samuel Marques no último Test Match da temporada, e a importância do formação pode ser decisiva no desenvolvimento de Pedro Lucas, e outros nº9’s nacionais.

O PONTO ALTO: O TRIO QUE DEU FORMA AOS LOBOS

Existe uma tríplice de elementos que merecem uma nota extremamente positiva desta prestação de alta qualidade de Portugal: agressividade no breakdown; aproveitamento efectivo de maioria das oportunidades; e irascibilidade e génio para criar situações desconfortáveis ao Japão. Portugal conseguiu dois turnovers “limpos”, arrancado ainda 5 penalidades no chão (João Granate e David Wallis foram predadores constantes neste aspecto) que alimentou o avanço dos Lobos a nível não só de território como de oportunidades para chegar aos pontos, um ponto visto e revisto quer na época internacional de 2020 e 2021.

No que toca às ocasiões para marcar pontos, mesmo que se tenham perdido três claras chances para aumentar o pecúlio (dois pontapés e a última formação-ordenada nos últimos 5 metros do Japão aos 77 minutos), a verdade é que Portugal foi capaz de criar sucessivas boas chances para chegar ao ensaio, com as sempre estupendas arrancadas de Raffaele Storti, Rodrigo Marta ou Manuel Cardoso Pinto (uma entrada em grande na 2a parte), ou os mauls dinâmicos bem afinados que até representaram em ensaios em duas ocasiões, sem esquecer a saída rápida genial de Samuel Marques para os 5 pontos de José Lima, encaixando aqui a tal genialidade própria dos comandados de Patrice Lagisquet.

Jogar frente a uma das melhores oito selecções do Mundo em 2019 (chegaram até aos quartos-de-final, perdendo para os Springboks na altura), conseguir chegar à área de ensaio por três ocasiões, levar a dúvida do vencedor do encontro até ao último momento e minuto, apetrechando várias boas movimentações com aqueles adornamentos que fazem os adeptos nacionais a ficar vidrados neste elenco português, e este duelo com o Japão é a demonstração do crescimento e evolução dos Lobos.

Uma nota final nos pontos altos, que talvez é a principal: condição física. Foi formidável ver como Portugal aguentou os 80 minutos com a intensidade entre médio-alto e máximo, não cedendo frente a uma equipa praticamente 100% profissional (lembrar que uma parte dos jogadores nascidos no Japão e com contrato-empresa não são considerados profissionais, já que não se dedicam a tempo inteiro à modalidade, com este cenário a mudar em 2022 fruto das novas ligas de clubes japonesas), com o “motor” a trabalhar e a desafiar as probabilidades possíveis.

PONTO A MELHORAR: ALINHAMENTOS PRECISAM DE… TEMPO

Pode parecer estranho não ser o risco do ataque de Portugal a ser mencionado no ponto a limar, pois esse detalhe da estratégia portuguesa é essencial para o futuro (a intercepção de Ryohey Yamanaka podia muito bem ter terminado em festa lusa em Coimbra), sendo que a nossa opção recai na leve indisciplina que ofereceu pontos aos Brave Blossoms. É complexo dizer como podia ter sido melhor, já que a intensidade de um encontro desta magnitude força a certo tipo de decisões prejudiciais, mas que acabam por ser fundamentais no crescimento e obtenção de certas “ferramentas” e experiências para adoptar no curto-prazo e, deste modo, compactar melhor uma equipa, como será com a selecção portuguesa sénior nacional.

A pressão e agressividade colocado no contra-ruck por parte do Japão ou em situações em que se deu um portagem de bola que isolou o portador de bola, originou algumas penalidades que, para as principais equipas mundiais, representa quase imediatamente pontos ou em situações críticas de ataque. Apesar disto, Portugal teve uma postura de excelência quando se viu apanhado nesta indisciplina, recuando prontamente para estarem preparados para a sequência seguinte, com isto a desencadear-se na disputa pelo resultado até ao apito final.

Seja por fruto da experiência de jogadores como José Lima, Samuel Marques, Jean de Sousa, Francisco Fernandes ou Mike Tadjer, pelo talento e virtuosismo de Rodrigo Marta, José Madeira, Nuno Sousa Guedes ou Jerónimo Portela, ou liderança de Tomás Appleton, Portugal está no caminho certo para não quebrar nos momentos em que sejam apanhados num período negativo durante um dado encontro, como aconteceu contra o Japão.

 


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