Portugal nos Internacionais de Outono: história é feita no Jamor

Francisco IsaacNovembro 6, 20216min0

Portugal nos Internacionais de Outono: história é feita no Jamor

Francisco IsaacNovembro 6, 20216min0
Vitória por 20-17 frente ao Canadá, garante a 1ª vitória de Portugal nesta janela internacional de Novembro. O Fair Play analisa o encontro neste artigo

Pela primeira vez na história do rugby português, a selecção nacional de Portugal foi capaz de derrotar o Canadá (tinha perdido todos os 4 encontros anteriores, sempre por vantagens dilatadas) por 20-17, num final dramático mas carregado de mérito pelo maior domínio no decorrer dos 80 minutos de jogo. Os três destaques deste jogo analisados pelo Fair Play.

Fotografia de destaque de Luís Cabelo Fotografia.

MVP: TOMÁS APPLETON

Não tendo sido um jogo perfeito de Portugal – erros de disciplina, algumas jogadas que podiam ter resultado em algo mais, falhas nas fases-estáticas -, a verdade é que difícil de escolher só um jogador para destacar nesta vitória histórica, muito pelo esforço colectivo, de um grupo que acreditou em si até ao fim do encontro. Contudo, e apresentando esta introdução, a nossa opção recai no capitão dos Lobos, Tomás Appleton, não só pelo bom primeiro ensaio, mas por três razões: a entrega defensiva efectiva, fechando com José Lima este canal e ainda socorrendo nas pontas quando necessário; o impacto no ataque, combinando novamente bem com Jerónimo Portela na produção de movimentações entre o 10-12, o que permitiu outra manobrabilidade do ataque e criar uma melhor pressão no adversário; e a voz astuta, serena e inteligente, que mesmo quando o Canadá parecia estar a fugir com a vitória, permaneceu irredutível e continuou a dar a confiança necessária aos seus colegas.

Tem-se assumido como um dos grandes Lobos das últimas gerações, parece não querer ceder no objectivo de guiar Portugal para outro patamar, e evoluiu largamente mesmo quando parecia pouco possível continuar na rota de crescimento quando não tem a possibilidade de ser profissional a tempo inteiro na modalidade. Hoje foi um dos 23 extraordinários Lobos, que decidiram fazer história em Lisboa e continuar a pavimentar com bons resultados o rugby português.

PONTO ALTO: FOCO CERTO E CAPACIDADE DE SUPERAÇÃO

Quantas selecções conseguem manter o discernimento quando sofrem uma reviravolta a 5 minutos do final, existindo um factor histórico que lhes diz que nunca foi possível ganhar a uma dada equipa, conseguindo voltar a reunir as forças necessárias no sentido de ir em busca da vitória?

Não querendo dizer “poucas” ou “algumas”, a verdade é que esse patamar só está reservada para aquele grupo especial de colectivos que almejam a algo mais, como tem sido o caso desta selecção portuguesa de rugby da actualidade. Estar a perder por 5 pontos, a poucos segundos de ouvir o apito final, e ter a presença de espírito para aguentar as linhas, confiar nos processos e manipular o jogo a seu favor, só demonstra a riqueza estratégica e psicológica desta composição actual dos Lobos, que vai para além dos 23 jogadores convocados para este encontro frente ao Canadá, um sucesso bem trilhado pela equipa técnica liderada por Patrice Lagisquet, e onde João Mirra e Luís Pissarra têm uma influência extremamente significativa.

Recuando até aos primeiros 40 minutos, existiram um par de ocasiões onde foi bem vislumbrada a confiança alta assumida pelos jogadores, com aquela arrancada de Nuno Sousa Guedes dentro dos 10 metros defensivos, tendo o defesa optado por um sidestep e arriscar uma posição melhor para pontapear a oval para fora, conseguindo colocá-la na linha do meio-campo e forçar o Canadá a sair de uma situação bem vantajosa para uma neutra. O ensaio de Tomás Appleton, num novo momento de grande confiança, é outra demonstração clara de como existe uma vontade para os jogadores arriscarem, partirem para a frente, não se ficarem só pelo conservadorismo e assumir que têm as capacidades e qualidades necessárias para não só marcarem pontos ou forçarem roturas defensivas no lado contrário, de fazerem excelentes placagens ou reacção imediata ao breakdown (mais uma vez, 4 bolas conquistadas neste parâmetro), mas de ganharem jogos até com selecções acima do ranking.

Sim, de outra prespectiva pode parecer que o Canadá decidiu mal naqueles instantes finais, mas em abono do mérito dos Lobos, foi a selecção nacional a querer mais sair do Jamor com a vitória do que o seu adversário deste encontro.

PONTO A MELHORAR: DISCIPLINA PODE CUSTAR DECISÕES

12 penalidades contra e 5 bolas perdidas no alinhamento podiam ter significado maiores custos para os Lobos caso o Canadá tivesse tido outra sapiência e qualidade no fazer uso da posse de bola – também com mérito da defesa lusa, que raramente cedeu espaço aos seus adversários -, tendo sido um detalhe já visto tanto contra a Roménia no Rugby Europe Championship, ou durante a campanha dos Lusitanos na Super Cup 2021. Se as faltas por fora-de-jogo são “admissíveis” no sentido que, por vezes, há alguma ânsia de subir a cortina defensiva e diminuir os acessos de ataque ao adversário, as falhas no apoio ao portador de bola ou no sair rápido do chão dentro de um ruck têm de ser calibradas devem ser mais evitáveis, já que se nota alguma manha para tentar desacelerar a continuidade de bola da equipa contrária.

O Canadá, especialmente na 2ª parte, começou a apontar esse dado na direcção da equipa de arbitragem e foram colhendo alguns “balões de oxigénio” em períodos importantes, pois em pelo menos três situações, os comandados de Patrice Lagisquet estavam a garantir uma fluidez de bola de bom impacto, notando-se algum pânico na defesa canadiana, que precisa de contrariar os da casa de alguma forma dentro das margens da lei.

Verdade que Portugal não se deixou afectar pelos erros e penalidades, manteve uma atitude serena mesmo quando parecia estar a ir contra a lógica do juiz do jogo, e não se deixou impressionar pelo facto do Canadá ter conseguido voltar à liderança no marcador, sendo estes elementos decisivos para quem quer chegar a um Campeonato do Mundo… porém, para o futuro próximo é fundamental limar estas arestas, já que Espanha e Roménia têm os pontapeadores necessários para lucrar pontos nas penalidades a lhes favorecer, e Portugal terá de estar atento a este ponto.


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