Os 3 destaques da 3ª jornada das Seis Nações 2021

Francisco IsaacFevereiro 28, 20218min0

Os 3 destaques da 3ª jornada das Seis Nações 2021

Francisco IsaacFevereiro 28, 20218min0
Os galeses estão com o Grand Slam no horizonte mas houve polémica em Cardiff num dos jogos mais aguardados da 3ª ronda das Seis Nações

Não houve França-Escócia, e o País de Gales aproveitou para capturar o 1º lugar das Seis Nações 2021 depois de vergarem a Inglaterra em Cardiff, num jogo rodeado de erros, penalidades e algumas situações controversas, mas que não tiram o mérito galês na conquista da vitória.

Segue a análise desta 3ª ronda do torneio europeu no Fair Play.

TRÊS EQUIPAS EM CAMPO… QUAL ESTEVE MENOS MAL?

Para responder já à primeira pergunta, foi o País de Gales a estar melhor no encontro realizado em Cardiff frente à Inglaterra, que valeu aos galeses a Triple Crown 2021, estando na linha para garantir o grand slam desta edição das Seis Nações. Mesmo com vários erros à mistura, os comandados de Wayne Pivac conseguiram ser equilibrados nos principais aspectos de jogo, especialmente nos momentos decisivos ou quando tinham de tomar decisões, conseguindo 40 pontos (a última vez que tinham derrotado os ingleses por uma diferença pontual similar foi em 2013, com um 30-03 registado também no Millenium em Cardiff), que vieram de 4 ensaios, 4 conversões e 4 penalidades.

A entrada de Callum Sheedy na 2ª parte e a estupenda exibição de Kieran Hardy (o formação foi estonteante no lançamento de jogo a partir de ruck e na rápida execução após as fases-estáticas) conferiram outra voracidade aos dragões vermelhos durante os últimos 30 minutos, altura em que a Inglaterra parecia ter vontade de dar a volta ao marcador mas que acabou por nunca acontecer. Olhando para a prestação da Inglaterra de Eddie Jones, houve ocasiões em que estiveram melhor que os seus adversários, com uma circulação de jogo positiva e acelerada que acabou por esbarrar, na maioria das vezes, em penalidades escusadas, como as entradas laterais ou mergulhos no ruck, condenando o sucesso da estrutura atacante inglesa por completo.

É quase inexplicável como Maro Itoje permaneceu dentro de campo até ao final do encontro, quando se notava o desgaste físico e mental do versátil 2ª linha, cometendo 5 penalidades e outros erros defensivos que são normalmente inesperados do avançado da Inglaterra, não tendo sido o único a sair mal na fotografia após o apito final. A selecção de Sua Majestade precisava de ter outra energia e dinamismo, seja no XV titular ou nas substituições, faltando jogadores que fossem capazes de ter outro entusiasmo e volatilidade, o que poderia apanhar o País de Gales desprevenido e de criar assim as situações necessárias para chegarem à área de ensaio. Por fim, a equipa de arbitragem conseguiu ter decisões polémicas e que geraram algum burburinho tanto dentro e fora das quatro-linhas, como foram capazes de “segurar” os jogadores das duas equipas quando pareciam se iniciar alguns confrontos físicos.

Os dois primeiros ensaios do País de Gales merecem todo o debate sobre a sua legalidade, com o 1º a nascer na marcação “rápida” de uma penalidade após Pascal Gaüzère exigir que Owen Farrell se reunisse com os seus jogadores e desse ordem para não cometerem as mesmas faltas, permitindo que Biggar repusesse a bola em jogo quando os ingleses ainda estavam em roda (há quem argumente que a selecção galesa simplesmente foi matreira mas de uma maneira legal), enquanto o ensaio de Liam Williams adveio de um possível avant de Louis Rees-Zammit (a bola é inicialmente largada ligeiramente para a frente) que não foi assim entendido pelo TMO.

Num jogo complicado, massacrado por erros e erros, a Inglaterra acabou por somar mais metros conquistados, quebras-de-linha, defesas batidos e melhor percentil de placagem (92%), sem nunca realmente ser uma ameaça concreta nos últimos 20 metros, zona do campo em que os galeses foram frios e letais, merecendo uma vitória que lhes abre o caminho do Grand Slam.

O CLIQUE DO TRÊS-DE-TRÁS IRLANDÊS

Ninguém esperava por uma surpresa italiana, em abono da verdade, mas o estado anímico irlandês não era o melhor, pois na 2ª ronda das Seis Nações tinham perdido para a França em Dublin, num encontro até podiam ter saído com outro resultado, caso tivessem sido mais incisivos na exploração das laterais de jogo. Na visita ao Olímpico de Roma, Jonathan Sexton voltou ao comando e toda a estratégia de Andy Farrell voltou a ganhar outra força e entrosamento, subindo a velocidade das linhas-de-ataque, com o ritmo a ser completamente diferente e mais constante, algo fulcral para abrir falhas na cortina defensiva italiana, que em vários momentos só foi capaz de parar os avanços da Irlanda através de penalidades, cometendo 18 no total, 9 das quais por fora-de-jogo ou intervenção ilegal no ruck ou breakdown.

Para além de Sexton, surgiram outros três protagonistas na Irlanda que foram essenciais no aproveitamento dos espaços, no gerar de roturas defensivas contrárias e de aproveitamento de oportunidades, e foram eles Hugo Keenan, Jordan Larmour e James Lowe, o trio que completou o três-de-trás da Selecção do Trevo para este encontro. Somando os números dos pontas e defesa, temos um total de 210 metros (a Irlanda fez um total de 532) conquistados, 5 quebras-de-linha (9 no total), 15 defesas batidos (mais de 70% dos números finais), e participação directa em três dos seis ensaios do contingente irlandês.

Números de excelência que devem dar certezas suficientes a Andy Farrell para manter estas três opções como titulares até ao fim de 2021, em particular a manutenção de James Lowe no XV titular (e de Jordan Larmour também), pois o ponta do Leinster tem acrescentado outras valências ao ataque irlandês ou mesmo na reacção aos pontapés dos adversários, sendo várias vezes chamado para ser ele próprio a pontapear de volta, isto perceptível pela potência e qualidade da execução deste skill.

A Irlanda só tem a ganhar ao manter este três-de-trás mais voltado para o risco, de poder de criação e invenção e com predisposição para sair a jogar com a bola nas mãos ou, pelo menos, para criar graves problemas ao seu adversário na colocação da bola ao pé.

FRANÇA E OS VÁRIOS TIROS NOS PÉS

Não tivemos o tão esperado França-Escócia, que foi adiado devido ao constante aparecimento de casos de SARS-CoV-2 no elenco francês, tendo atingido um total de 13 jogadores nas duas últimas semanas. Os escoceses não ficaram satisfeitos, mas aceitaram a decisão, deixando exposta a sua vontade que a direcção das Seis Nações levasse a cabo uma investigação séria, mesmo que isso terminasse expondo algum tipo de comportamento censurável por parte dos Les Bleus.

E, pelos vistos, nas últimas 24 horas, o ministro da pasta do Desporto em França declarou a intenção de remover a participação francesa dos restantes encontros das Seis Nações 2021, suspeitando que os atletas e equipa técnica do XV furaram a bolha e o protocolo sanitário estabelecido e idealizado durante todo o torneio (cerca de 6 semanas), o que é uma situação de extrema gravidade e problemática para Fabien Galthié. Os rumores já tinham circulado nos últimos cinco dias, só que todos eles careciam de fonte oficial ou de algo que provasse esse quebrar de regras, com agora as declarações da titular do ministério do desporto e juventude a lançar algumas certezas perante o comportamento errado do contingente francês.

Caso a França seja retirada pelo próprio governo das Seis Nações 2021, cai uma mancha escusada em todo o torneio e em todo o esforço encetado pelos seus 5 adversários.

ALGUNS DADOS

James Lowe foi quem mais metros percorreu nesta ronda, com 120 metros, seguido de Billy Vunipola (86) e Elliot Daly (78), tendo sido responsável ainda por 3 quebras-de-linha.

George North somou a sua 100ª internacionalização, tendo sido o MVP do encontro, com três turnovers, 10 placagens (só 1 falhada), 35 metros conquistados, 3 defesas batidos e 4 tackle busts, na posição de segundo centro.

Jonathan Sexton acabou como o melhor marcador de pontos, com 18 pontos concretizados frente à Irlanda (100% nas conversões dos ensaios e penalidades) e Will Connors terminou como o jogador com mais ensaios, somando um bis em Roma.

Só dois offloads surgiram no encontro entre País de Gales e Inglaterra, sendo este o jogo em que menos situações do género aconteceram… Itália e Irlanda realizaram um total de 11 no seu jogo da 3ª ronda das Seis Nações.

 

 


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