“Lobas” XV: as 3 notas a reter da Janela Internacional de Novembro

Francisco IsaacNovembro 27, 20226min0

“Lobas” XV: as 3 notas a reter da Janela Internacional de Novembro

Francisco IsaacNovembro 27, 20226min0
Portugal conquistou três vitórias em quatro jogos possíveis, no ano de estreia do XV no século XXI, e Francisco Isaac conta-te o que se passou com as "Lobas"

A selecção feminina de Portugal realizou o seu único Test Match da janela internacional de Outono (compreende o mês de Novembro de cada ano) frente à Suécia, com as atletas treinadas por João Moura a consentirem uma derrota por 2 pontos (05-07) frente a um conjunto que conseguiu a promoção para o patamar mais elevado das competições internacionais da Rugby Europe. Contudo, nesta breve análise vamos incluir, também, as vitórias somadas frente à Bélgica para o Rugby Europe Trophy, de forma a percebermos a real evolução deste ano 0 do XV das “Lobas” portuguesas.

O BÊ-Á-BÁ DAS “LOBAS”: RECOMEÇAR… A GANHAR

É repetitivo dizer sempre o mesmo, mas a selecção feminina sénior de rugby de XV regressou à actividade em 2022 depois de 25 anos longe dos campos, conseguindo no seu ano de estreia conquistar três vitórias, a contar para o Rugby Europe Trophy 2022 e 2022/2023, perdendo apenas um jogo frente a um conjunto que, efectivamente, está desde 2020 a desenvolver seriamente a sua base, com um projecto apoiado numa selecionadora de craveira mundial – Claire Cruikshank – e com financiamento com outro peso. As “Lobas” marcaram 23 ensaios, lançaram mais de 30 atletas, algumas até de idade bastante jovem (Matilde Goes por exemplo), e impuseram vitórias contundentes a selecções que detêm outros fundos e preparação. Isto não é o conto dos “desafortunados”, nem a fazer a apologia que um conjunto supostamente desfavorecido conseguiu um milagre, porque existem boas bases que têm sido trabalhadas por um conjunto de pessoas, começando por uma mão-cheia de técnicos/administradores de clubes/federação, com as atletas a serem as totais protagonistas deste ano de sucesso alcançado, uma vez que acreditaram sempre em chegar a este patamar.

Todavia, exisitam algumas preocupações teóricas iniciais destes primeiros passos das “Lobas” no XV, que passaram por: aguentar e gerir bem as fases-estáticas, não cedendo perante adversários com uma rotina superior, como a Alemanha ou Suécia; saber gerir mentalmente o jogo a nível internacional, encontrando sintonia entre as atletas que compõem este ramalhete; e implementar ideias de jogo que fizessem jus ao ADN do rugby nacional, onde a velocidade, genialidade técnica, placagem assertiva e inteligente, e vontade de assumir o risco encaixassem no perfil das atletas.

Efectivamente, 320 minutos depois, as “Lobas” responderam a cada uma dessas dúvidas da melhor forma possível, com aquela matreirice própria do rugby luso a vir ao de cima, acompanhado de uma formação-ordenada estável, e que até impôs domínio em certos jogos, somando-se ainda uma defesa astuta e de constante procura pelo turnover ou de criar um erro de precipitação da equipa adversária, logrando as tais três vitórias em quatro jogos, isto no ano 0.

Não foi milagre, nem sorte, e muito menos um mero acaso, existe um real processo e ideia que tem as bases necessárias para continuar a singrar…

JOGO AO PÉ E DISCIPLINA

Dois sectores que não estiveram tão bem oleados, jogo ao pé e disciplina. Começando pelos pontapés, as “Lobas” têm em Daniela Correia uma excelente cobradora de conversões ou penalidades, mas não há ninguém que assuma esse papel na ausência da defesa, podendo ser um ponto crítico em encontros mais disputados, sendo que também o pontapés em jogo corrido padece de alguns erros de leitura ou execução, o que é normal neste ano de aprendizagem – por outro lado, favorece o jogo à mão, com as atletas portuguesas a sentirem confiança para arriscar um pouco mais, mesmo dentro dos seus 22 metros.

E, finalmente, disciplina. No primeiro encontro de 2022, frente à Bélgica, que terminou numa vitória tangencial por 5 pontos, Portugal realizou excessivas penalidades, ofertando um balão de oxigénio à equipa contrária, quando podia ter conseguido lograr um resultado mais alargado. Depois, essa evidência da indisciplina desapareceu nos dois encontros seguintes, para finalmente surgir de novo nesta derrota por 2 pontos na recepção à Suécia, mostrando isto que as “Lobas” cometem mais erros em jogos de maior aperto, o que é uma evidência normal só por iso.

Porém, algumas dessas penalidades surgem pelo nervosismo de querer aproveitar uma falha na defesa contrária, indo ao contacto sem o apoio necessário, ou a ceder em acções precipitadas na placagem ou breakdown, repetindo-se aqui alguns dos pontos mais negativos também registados pela selecção masculina sénior.

São dois aspectos que irão sofrer grandes melhorias em 2023, e não se apresentam como uma preocupação crassa no caminho de Portugal.

NÚCLEO DURO DE DÉCADAS PRECISA DE APOIO

Chegamos ao cerne da questão, e que nem merece grande perda de tempo, pois a conclusão é imediata: as “Lobas” precisam de um investimento e apoio superior, não só por parte da entidade que as tutelam, mas dos clubes, investidores, administradores, famílias, etc. O Campeonato do Mundo de Rugby feminino de 2021 (realizado em 2022) mostrou números minimamente espectaculares, e que devem abrir a “fome” a quem tem dúvidas em relação ao crescimento humano, social e económico do rugby feminino, com Portugal a aproveitar a deixa para dar o salto nos próximos 4 anos, e disputar uma vaga para a maior prova, não se esperando que a consiga… para já, pelo menos.

Em 2025 o número de selecções apuradas passará de 12 para 16, o que poderá permitir que pelo menos uma equipa europeia consiga o lugar – se isto tivesse acontecido nesta última edição da prova máxima de rugby de selecções, a Irlanda teria marcado presença, ou mesmo a Espanha -, com possibilidade de em 2029 passar para 20. Isto abre uma janela de oportunidade ao rugby português que terá de fazer um franco e profundo investimento não só nas competições e equipas técnicas, como em garantir que o número de atletas aumente, de modo a poder fornecer novas atletas de igual ao melhor calibre em anos vindouros.

Como sempre, isto terá de ser um investimento a médio-longo prazo, mas que tem todas as possibilidades de ser um dos maiores sucessos económicos desportivos do desporto nacional caso se consiga apoiar decentemente um conjunto que no seu ano de estreia somou três vitórias em quatro jogos. Lembrar que em 2022, o rugby feminino atingiu, pela primeira vez, 100 Test Matches, um número que mostra um crescimento exponencial extraordinário.

A selecção feminina de rugby volta à actividade em 2023, com o Portugal-Finlândia agendado para o dia 4 de Fevereiro. 


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