CN1 19/20: campeonato competitivo com ou sem qualidade?

Francisco IsaacMarço 19, 20206min0

CN1 19/20: campeonato competitivo com ou sem qualidade?

Francisco IsaacMarço 19, 20206min0
Quando faltam apenas 4 jornadas para o fim da fase regular do Campeonato Nacional 1 é altura de vermos se o elemento "competitivo" aplicou-se e qual a qualidade de jogo verificada até aqui!

Quando estávamos prestes a “fechar” o Campeonato Nacional 1 deu-se uma abrupta paragem que colocou dúvidas em relação a quando se vão jogar os últimos 6 jogos (isto para as duas equipas que iriam/vão chegar à final), numa altura em que as preocupações centram-se noutro “campo”. Mas até este momento estavam jogadas 14 jornadas e os três primeiros lugares já tinham praticamente “dono”, com o CR São Miguel, CR Évora e Caldas RC a assumirem estas pole positions, o que significa que só o 4º lugar está ainda por resolver, disputado por MRC Bairrada, RC Santarém e Jaguares. Já para o fim da tabela, o Braga Rugby tem ainda uma pequena chance de evitar a descida directa, mas perante o calendário difícil (já falámos deste tema em outro artigo) terá de fazer algo surpreendente para ultrapassar um RC Elvas sólido, sem esquecer que o RV Moita tem a permanência praticamente assegurada, apesar de matematicamente ainda existir possibilidades de alteração de posicionamento final.

Mas será que o domínio de “bulldogs”, eborenses e “pelicanos” nestas 14 jornadas tem significado pouca competitividade durante o campeonato? Ou mesmo perante este cenário de três candidatos assumidos ao título há uma disputa intensa entre os 10 participantes?

Em comparação com a época passada os números poderão vir a bater exactamente iguais no que concerne aos três primeiros classificados, existindo a liminar diferença que CR São Miguel, CR Évora e Caldas RC desde cedo assumiram o controlo dos três primeiros lugares, existindo ainda algumas dúvidas se vai haver troca de posicionamento final entre estes emblemas. Contudo, em 2018/2019 a disputa pelo 4º lugar ficou praticamente sentenciada no início da 2ª volta ao contrário do que se passa actualmente, com três clubes a envolverem-se nesta contenda pelo último lugar de acesso ao playoff, como já tínhamos referido anteriormente.

É exactamente neste “miolo” da classificação que temos uma demonstração de competitividade intensa, pois entre o MRC Bairrada, RC Santarém e Jaguares há uma separação máxima de quatro pontos com todos a terem uma franca oportunidade de chegar ao 4º lugar e essa definição só ficará clara no final da fase regular, que até termina com um encontro entre “cavaleiros” e o clube de Anadia. Se recuarmos 5 jornadas atrás, víamos uns Jaguares minimamente seguros neste quarto posto seguido de perto do MRC Bairrada e Guimarães RUFC, com o RC Santarém algo “adormecido” e quase afastado da luta, com o emblema escalabitano a fazer uma surpreendente remontada conquistando três vitórias nos últimos três encontros, uma das quais registada frente ao CR Évora.

Mas como foi possível esta recuperação de pontos e qualidade de jogo do Santarém? A nível de continuidade de jogo, não são dos melhores do campeonato mas a verdade é que a eficácia com que conquistam metros e ensaios é uma das suas qualidades máximas, utilizando bem as fases estáticas ficando claro o papel dentro de campo de jogadores experientes como Rodrigo Aguiar ou da excelsa qualidade da juventude caso de Maneul Campilho ou Manuel Carreira, sendo importante não esquecer o impacto do jogo ao pé de Rafael Morales seja nas conversões ou em jogo corrido. Para além destes pormenores, o facto do treinador Luís Monteiro ter conseguido repor os índices de confiança aos seus jogadores e de inspirado a acreditarem que era possível lutar por um lugar cimeiro é de assinalar e é um dos treinadores em voga nesta segunda fase da temporada.

Aguçando a batalha pelo 4º lugar, o MRC Bairrada de Luís Supico superou um arranque de temporada amargo para ser, sem dúvida alguma, um dos candidatos a seguir para as meias-finais ocupando neste momento o quarto posto com três e quatro pontos de diferença para os seus adversários directos. Um rugby com identidade, muito pautado por uma dose de confiança profunda dos jogadores do emblema de Anadia, que assenta em conseguir impedir uma placagem eficiente do adversário e uma entrega total no jogo curto, mostrando-se ainda “mestres” do contra-ataque – um elemento partilhado com o Caldas RC neste CN1.

Os Jaguares podem ter baixado o ritmo nas últimas jornadas mas seria errado deixá-los de fora de todas as decisões pelo 4º lugar quando ainda estão 20 pontos em disputa, dois dos quais frente ao Braga Rugby e RC Elvas (ambos em casa), o que torna possível a ida da equipa treinada por Pedro Vital à fase final.

Em relação aos últimos lugares, o RV Moita terminou neste posto várias semanas antes do fim da fase regular, nunca tendo qualquer hipótese de fugir a esta posição. Porém, na temporada actual a luta para evitar cair no 10º lugar tem sido emotiva, tendo já sido ocupado o posto de “lanterna vermelha” por três diferentes equipas – RV Moita, RC Elvas e Braga Rugby – no mínimo de duas jornadas consecutivas, revelando-se interessante este embate.

Outro pormenor curioso é o facto do 1º e 2º lugar terem perdido os mesmos números de jogos que RC Montemor e RC Lousã, os primeiros classificados da época passada, com os “bulldogs” a somarem duas derrotas (CR Évora e MRC Bairrada) enquanto o clube treinado por Miguel Avó já sucumbiu em Anadia, Santarém (um dos jogos com menos pontos desta temporada, terminando em 08-07) e Caldas-da-Rainha. Curiosamente, o MRC Bairrada tem se assumido como um tomba gigantes derrotando os dois primeiros classificados e teria na 15ª jornada a oportunidade de fazer o mesmo ao Caldas RC, apesar da missão ser muito difícil já que falamos de um elenco bem estruturado dos “pelicanos”.

Perante estes resultados, posições e trocas constantes de lugares, a qualidade de jogo tem sido boa? Dependendo do jogo, a verdade é que este Campeonato Nacional 1 tem sido um patamar menos físico que a temporada passada muito em virtude das subidas de RC Montemor, RC Lousã e SL Benfica, clubes que implementavam jogos altamente agressivos do ponto de vista de ganhar a linha-de-vantagem e de se comprometerem na placagem, trazendo também bons elementos técnicos.

Mas do ponto vista de velocidade de jogo, do criar risco e de tentar montar fases mais aceleradas e pavimentadas por um toque mais “mágico”, a verdade é que este CN1 tem conseguido o fazer especialmente por clubes como o CR São Miguel (melhor ataque e defesa, seja em pontos ou ensaios), Caldas RC (nos jogos mais “fechados” optam por uma atitude de contra-ataque mas quando se sentem à vontade começam a libertar um certo “perfume”) ou Jaguares (Guilherme Sampaio é a expressão máxima da volatilidade ofensiva da formação da Linha) têm-no feito e bem, dando uma imagem de rugby positivo e interessante a esta competição que espera poder retornar rapidamente.

A última jornada do CN1 viu os miguelistas a consentirem uma inesperada derrota em Anadia, aproximando-se assim os alentejanos do CR Évora e os caldenses do Caldas RC, com André Lemos a constar no topo dos melhores marcadores de pontos e Filipe Gil no de ensaios, com uns incríveis 16 toques de meta.


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