Pré-Olímpico de basquetebol feminino: expectativas para o Brasil

Lucas PachecoDezembro 13, 20237min0

Pré-Olímpico de basquetebol feminino: expectativas para o Brasil

Lucas PachecoDezembro 13, 20237min0
O Brasil vai ter desafios complicados no pré-olímpico de basquetebol feminino e Lucas Pacheco faz a antevisão à convocatória

A cada dia que passa, mais próximos estamos das qualificatórias de basquete feminino para as Olimpíadas e a ansiedade cresce perante a expectativa de obtenção da vaga. Na última edição, o Brasil nem sequer se classificou e nas três edições anteriores amargou as últimas posições. O caminho para Paris passa por Belém, sede de um dos quadrangulares mundiais, que garantirá 3 seleções.

Muito criticada nos últimos anos, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) enfim se esforçou e direcionou investimento ao naipe feminino: além da organização de um dos quadrangulares, na janela Fiba de novembro, reuniu comissão técnica e as jogadoras para um camp. Não houve amistosos, mas ante a completa ausência de preparação para torneios em anos recentes, foi um avanço.

Persiste, porém, a precariedade dos vínculos da comissão com a confederação e, recebendo por dias trabalhados, sem contrato, a comissão não pode se dedicar exclusivamente à seleção. Com o afluxo crescente de dinheiro na CBB, oriundo do Comitê Olímpico e do patrocínio, trata-se do próximo passo, a estruturação do departamento feminino, com planejamento integrado entre as categorias, circulação no território nacional e diálogo com os clubes e profissionais formadores, além do estudo das rivais e acompanhamento do desempenho individual das jogadoras.

Nada disso encontra-se no horizonte curto, sendo a vaga olímpica o grande objetivo do momento. Se a preparação evoluiu, há muito a se caminhar ainda. O técnico José Neto, atualmente à frente de um clube angolano de basquete masculino, acumula quase 5 anos no comando e estimulou a migração para a Europa. A ala Ramona cumpriu o itinerário e subiu patamares no cenário europeu; após iniciar em ligas periféricas, neste ano foi contratada pelo clube russo Samara, para disputar uma das principais competições nacionais do continente. Ramona desempenha, por exemplo, melhor que sua companheira de seleção, a ala Tainá Paixão. Essencial para a seleção, Tainá retornou à Europa nesta temporada e as idas e vindas cobram seu preço no clube, onde desempenha abaixo de Ramona.

Tainá é figura certa em Belém, como a principal jogadora do perímetro da seleção e capaz de jogar em dupla com as pivôs. Ramona frequenta costumeiramente as convocações de Neto e, ainda que as atuações na seleção não reproduzam os números no clube, sua forte defesa deve garantir uma vaga.

Na armação, talvez esteja a principal dúvida para a torcida, uma vez que nenhuma outra conseguiu ameaçar a titularidade de Débora. Comentamos recentemente sobre a jogadora e, a essa altura, dificilmente a comissão técnica trará novidades na posição 1; Débora não pontua e o plano de jogo deve contar com esse elemento, cabendo compensar com a melhor defesa na bola dentre as armadoras brasileiras e organização de jogo/condução da bola ao ataque. Qualquer ponto feito por Débora será comemorado e ela ficará em quadra se não desperdiçar a bola. A vaga de armadora principal parece aberta: Alana ocupou nas últimas competições, sem nenhum destaque; Lays encontra resistência do técnico; Albiero ainda não se firmou na seleção. Nenhuma joga no exterior e mesmo no cenário interno encontram dificuldade para se consolidar.

O Brasil possui boas alas para a posição 3 (wing ou small forward), com mobilidade lateral, envergadura, bom atleticismo e explosão. Manu, Rapha Monteiro, Thayná, Nany, Leila e Vitória disputam as vagas. Manu demonstrou o melhor desempenho no título da Copa América e, caso esteja saudável, deve ser figura obrigatória; ela optou por permanecer no Brasil, no Sesi Araraquara (comandada pelo assistente técnico de Neto, João Camargo). Nany retorna de lesão e corre contra o tempo para retornar à forma física prévia à lesão; Rapha começou a temporada de clubes na Itália, rompeu contrato e foi anunciada pelo português Benfica, onde brilhou em anos anteriores. Nunca rendeu na seleção o que faz nos clubes, e tal qual Vitória, outra do Sesi, o “intercâmbio” entre as modalidades de 3×3 e 5×5 traz dúvidas quanto à possibilidade de compor o elenco em Belém.

Vitória está no Brasil há bastante tempo, assim como Leila. Thayná migrou para a liga eslovena, onde a disparidade técnica produz vitórias amplas – para sua estreia fora do Brasil, vale pela experiência e a chance de seguir em atividade, ainda que em nível competitivo inferior. O grupo de alas é bem homogêneo e, com exceção de Manu, quem se apresentar melhor na preparação deve herdar a vaga. O esquema de jogo não favorece as alas, reduzidas à marcação e aos chutes de três; outra característica fundamental é a capacidade de infiltração e atacar o aro. Contra a Alemanha, cujo perímetro é lento, a posição será essencial.

Assim chegamos ao garrafão, nossa grande força. Poucas seleções no mundo podem equiparar o talento de Damiris, Kamilla, Stephanie, Érika e Sassá. Damiris passa por fase exuberante na Turquia, com duplos-duplos consecutivos; é a jogadora que alia melhor capacidade de pontuação individual e experiência com a seleção. Se estiver em forma, será a principal estrela em Belém. Kamilla vem logo atrás, com fome de protagonismo e liderança técnica; ainda na universidade, onde lidera o principal elenco do país em pontos, rebotes e tocos, torcemos pela liberação com antecedência – torneio curto aumenta a importância da preparação e entrosamento prévios.

Como fosse pouco, Stephanie retorna de lesão, com incerteza se estará em condições daqui a 45 dias. Independente da lesão, ela está sem jogar há vários meses, diferente de Érika e Sassá, egressas do título no pan-Americano e da disputa do Campeonato Paulista. Érika vê reduzido seu tempo de quadra, natural para uma atleta em atividade há mais de duas décadas; deve ter vaga garantida devido à experiência e respeito no vestiário, além da força ainda presente para bater de frente contra cayla George e Marianna Tolo (Austrália), Tina Krajisnik e Dragana Stankovic (Sérvia) e Marie Gulich e Nyara Sabally (Alemanha).

Sassá adiciona espaçamento e chute de fora, além da raça e carisma inigualáveis. Seu lugar parece definido, mas a concorrência na posição ainda conta com Aline Moura (campeã da Copa América e Pan) e Licinara.

O elenco final do Brasil está desenhado na cabeça de José Neto, assim como a identidade coletiva da equipe. O ‘chegar jogando’, a defesa pressionada e transição ofensiva rápida, a profusão de chutes longos, contrabalançada pelo poste baixo, já se tornaram características da equipe; seria benéfico se Neto trouxesse mais variedade, oxigenando o lado ofensivo e desafogando as principais válvulas ofensivas.

Serão três jogos entre os dias 8 e 11 de fevereiro, um teste para uma geração com a última chance de brilhar no palco internacional. É um grupo com média elevada de idade, com experiência internacional não condizente com a idade, decorrente das ausências recentes em Mundiais e Olimpíadas. Um elenco que demonstrou poder derrotar adversárias fortes, como os Estados Unidos e Canadá, mas que também quase perdeu um título para a Argentina. A torcida e o clima no ginásio devem pesar a favor e a torcida brasileira sonha com a noite do dia 11, com a bendita vaga olímpica. Até lá, só nos resta lidar com a ansiedade e acompanhar as jogadoras em seus clubes.


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