Ponto da situação e panorama geral da NCAA

Lucas PachecoFevereiro 21, 20256min0

Ponto da situação e panorama geral da NCAA

Lucas PachecoFevereiro 21, 20256min0
Lucas Pacheco traz as novidades da NCAA com um ponto de situação importante para quem está a se preparar para o March Madness

O tempo voa: desde a publicação do segundo texto sobre o basquete universitário feminino estadunidense (Considerações sobre a largada do basquete universitário pt.2), passaram-se dois meses. Se, àquela época, estávamos no parte livre do calendário, onde cada universidade da NCAA escolhe seus adversários, agora estamos na iminência do fechamento da temporada regular das conferências. Mais duas semanas e pousaremos no tão aguardado March Madness, com os playoffs de cada conferência no meio do caminho.

A dissolução da Pac-12, que abrangia as universidades mais fortes da costa oeste do país, espalhou as forças para as outras quatro grandes conferências (SEC, Big 10, Big 12 e ACC). Duas das principais candidatas ao título nacional migraram para a Big 10 e estão correspondendo às expectativas; o clássico de Los Angeles ocorre agora com muitos mais holofotes. UCLA chegou invicta ao duelo contra USC, capitaneada pela super-pivô Lauren Betts. O time gira em torno de sua torre, atleta que evoluiu na mobilidade e que esbanja talento do jogo de pés e de costas pra cesta. Sejamos sinceros: poucas defensoras conseguem conter Betts.

Se você congestiona o garrafão e a impede de jogar, sobram as atiradoras espaçadas no perímetro. Para dificultar ainda mais, a técnica Cori Close mescla quintetos muito díspares, sempre com muita altura, bom passe e boas arremessadoras. Contra USC, porém, havia uma arma chamada JuJu Watkins.

A ajuda em Betts veio quase sempre de Watkins, atleta descomunal capaz de fechar o garrafão, usando sua envergadura e impulsão para defender Betts e sua adversária primária. Pela primeira vez na temporada, UCLA não conseguiu achar antídotos à defesa adversária – é verdade que Betts terminou com o duplo-duplo de 18 pontos e 13 rebotes, mas com aproveitamento de 38%, contrastando com sua média de 61% na temporada. A contenção na principal estrela de UCLA rendeu a vitória para USC, por 71 x 60.

JuJu Watkins, na partida mais importante do ano até então, mostrou a razão de ser apontada como um dos principais prospectos já vistos no basquete feminino. Além da defesa impressionante (os 8 tocos falam por si), a ala anotou nada menos que 38 pontos, 11 rebotes e 5 assistências. Quase um triplo-duplo com tocos, algo raríssimo no basquete!

A SEC também recebeu universidades egressas de outras conferências e uma delas vem ameaçando a hegemonia de South Carolina. Texas deixou a Big 12 e migrou para a conferência mais física do país; o técnico Vic Schaefer tem histórico na SEC e seu estilo adapta-se perfeitamente ao estilo de basquete praticado na conferência. Esqueça o espaçamento, os chutes de três em profusão, o ritmo acelerado: Texas vai na contramão e vem colhendo resultados. No momento, estão empatada com South Carolina na briga pelo título da temporada regular da conferência (LSU segue na disputa) com a NCAA no horizonte.

As equipes tiveram dois confrontos diretos que merecem um olhar mais atento. Em meados de janeiro, na casa de South Carolina (Columbia), a equipe de Dawn Staley impôs seu jogo logo no bola-ao-alto e não deu nenhuma chance a Texas. Sem uma clara protagonista, todo o elenco contribuiu no ataque e, na defesa, uma aula de como anular Madison Booker. Por mais limitada que seja tecnicamente, a ala Bree Hall não deu espaço para Booker e sufocou a principal jogadora adversária, que terminou com míseros 7 pontos (em 19 arremessos tentados).

Nem mesmo a força nos rebotes de Texas manteve-se durante os 40 min; os 28 arremessos tentados a mais não repercutiram no péssimo aproveitamento de quadra. South Carolina venceu por 67 x 50. Booker deve ter levado pelo lado pessoal sua péssima partida e circulou o segundo duelo entre as universidades no calendário, a chance de vingança.

E foi: Booker foi a cestinha do jogo, com 20 pontos, apesar de manter uma eficiência baixa (7/22). Ela encontrou meios de pontuar e compensar o baixo aproveitamento, com contra-ataques e lance livre. Sem contar a defesa, em que ajudou demais no lado contrário e fechou espaços e linhas de infiltração. Texas deu o troco em casa, batendo South Carolina por 66 x 62.

Texas venceu inclusive a luta por rebotes (42 a 35), fato raro na carreira de Dawn Staley. O resultado igualou a campanha das duas universidades na SEC.

South Carolina, depois desse duelo, sofreu outro revés, muito mais doloroso: no clássico das potências, um jogo extra-conferência, SC recebeu Uconn e perdeu por vexatórios 58 x 87. Contra Texas, o time lutou e disputou até o fim; contra Uconn, uma semana mais tarde, a equipe apresentou-se desligada, sem intensidade e entregue. Foi um alvo fácil para o time de Geno Auriemma, que pontuou de todos os cantos da quadra, da maneira que quis. A batalha dos rebotes explicita a disparidade: 48 a 29 para Uconn.

Por sua vez, Uconn vinha de outra partida extra-conferência, ampliando a competitividade ausente em sua conferência, onde domina sem maiores obstáculos. O equilíbrio é a marca da temporada, sem uma universidade disparada. A vitória, fora de casa, sobre South Carolina (estavam invictas em casa fazia anos), mudou o gosto amargo deixado na derrota para Tennessee, outro clássico da NCAA.

Impossível assistir ao duelo e não rememorar a rivalidade entre Geno e Pat Summitt, que marcou mais de uma década de NCAA. Após o afastamento de Summitt, Uconn estabeleceu-se como dominante, vendo sua arqui-rival desabar. Tennessee tentou sucessoras da linhagem de sua lendária treinadora, sem sucesso, e decidiu mudar o rumo, apostando na jovem e pouco conhecida Kim Caldwell.

Em sua primeira temporada, Caldwell implantou um basquete muito divertido, de marcação pressão quadra toda, velocidade e intensidade altíssima, substituições no atacado e vitórias. Podemos discutir se o modelo de basquete trará títulos a Tennesse, mas a universidade precisava de um choque de novidade, qualidade inegável da equipe de Caldwell. Uconn não perdia o clássico desde 2007, sequência interrompida por Tennessee na vitória por 80 x 76 a contar para esta NCAA.

Para uma torcida fanática, acostumada ao triunfo, a seca doía; a universidade lavou sua alma com a vitória, conquistada a base de imposição física, correria e chutes de fora.

Finalizando o panorama das grandes conferências da NCAA (excluí a Big 12, por estar um nível abaixo das demais), a ACC segue dominada por Notre Dame, ranqueada na primeira posição nacional após a queda da invencibilidade de UCLA. Parece não haver adversários para a universidade de Niele Ivey, comandada pela explosiva dupla Hannah Hidalgo e Olivia Miles. No próximo domingo, dia 23/02, teremos mais um teste, quando ND enfrenta a segunda colocada na conferência, NC State.


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