O longo caminho do basquete feminino brasileiro rumo às Olimpíadas

Lucas PachecoJaneiro 10, 20245min0

O longo caminho do basquete feminino brasileiro rumo às Olimpíadas

Lucas PachecoJaneiro 10, 20245min0
O Brasil sonha chegar novamente às Olimpíadas no basquete feminino e Lucas Pacheco faz a última antevisão antes de todas as decisões

A menos de 30 dias para o quadrangular classificatório às Olimpíadas de Paris, a seleção brasileira de basquete feminino foi convocada (com 15 jogadoras) e inicia os treinos na próxima semana. Com a ansiedade nas alturas, nada melhor que uma retrospectiva sobre a participação brasileira nos Jogos, cuja estreia tardou até 1992. Caminho dolorido, lento e tortuoso, trilhado passo a passo.

1976

40 anos de distância separam a introdução do basquete masculino do feminino no calendário olímpico. Enquanto o naipe masculino teve início na edição de 1936, o feminino apenas em 1976, na edição do Canadá. Na inauguração da modalidade e do naipe nos Jogos, seis equipes se enfrentaram (formato de todas contra todas) para definir o pódio inaugural; estavam presentes as três medalhistas do último Campeonato Mundial, de 75 (URSS, Japão e Tchecoslováquia), o país anfitrião e mais duas seleções – uma representante do continente americano (EUA – campeão do Pan em 75) e uma do europeu (Bulgária – melhor colocada no Europeu anterior, após as seleções já classificadas). Infelizmente, o Brasil, com papel importante para a inserção da modalidade nos Jogos (graças ao famoso amistoso contra a Tchecoslováquia em 1965), ficou fora, vindo então de campanhas ruins no Mundial 75 e no Pan 75.

As duas próximas edições olímpicas foram marcadas pelo clima de polarização da Guerra Fria; o fator sócio-político determinou as nações participantes.

1980

Nada menos que 65 países boicotaram os jogos em Moscou. Mantendo o número de seleções participantes, houve um torneio classificatório alguns meses antes. As cinco primeiras se classificaram, com adição da URSS, país sede; os EUA, porém, recusaram e a Hungria assumiu sua vaga. O Brasil perdeu ainda na primeira fase do classificatório, após derrota larga para a Tchecoslováquia (88 x 60), vitória tranquila sobre a Irlanda (84 x 72) e revés por diferença mínima para a França (64 x 65).

1984

Seguindo a lógica geopolítica de alternância entre os dois blocos, o boicote aconteceu do lado contrário. Mantendo seis seleções participantes, houve um torneio classificatório alguns meses antes. As quatro primeiras se classificaram, com adição da sede dos jogos (EUA), e das campeãs mundiais (URSS); URSS e Hungria, porém, boicotaram e acabaram substituídas por Coréia do Sul e Austrália. Mais uma vez, o Brasil perdeu na primeira fase do classificatório, após derrota para a favorita Iugoslávia (70 x 78), vitória ampla sobre a Grã-Bretanha (81 x 57) e revés por 2 pontos para o Canadá (83 x 85).

1988

Já com o bloco socialista em frangalhos e a consequente queda no investimento/ rendimento dos países (URSS, imbatível nas décadas anteriores, nem na final olímpica chegou, com a consolação do bronze). Seul testemunhou a primeira ampliação das seleções participantes, que passou a oito. Houve um torneio classificatório alguns meses antes: as seis primeiras se classificaram, com adição da anfitriã Coréia do Sul e dos EUA, último campeão olímpico e mundial. O Brasil perdeu novamente na primeira fase do classificatório, após derrotas para URSS (64 x 79) e China (77 x 92); pelo menos, com resultado menos sofrido.

À época, a seleção feminina de basquete do Brasil acumulava derrotas doloridas (porque apertadas) em 80 e 84 (apesar de ainda nas fases iniciais das qualificatórias) e eliminação incontestável em 88. Três experiências acumuladas por um grupo que se encorpava ano a ano, com o amadurecimento das duas grandes estrelas Paula e Hortência, formação de um elenco de apoio, surgimento de pivôs mais altas e consolidação de um plano tático, após passagem de pelo menos três treinadores dirigindo esse núcleo. Se os resultados internacionais não haviam aparecido, com sucessivas decepções, as expectativas cresciam a cada competição. Até que chegamos no incontornável e fatídico pré-olímpico de 1992.

1992

O torneio classificatório, realizado alguns meses antes dos Jogos, contou com mais jogos para cada seleção, uma vez que as 16 participantes foram divididas em 2 grupos. A campeã de cada grupo conquistaria a vaga direta, com segundas e terceiras colocadas avançando para um playoff. O Brasil, com histórico de parar nas fases iniciais das classificatórias, garantiu a terceira posição em seu grupo graças a uma vitória, na segunda prorrogação, contra a Austrália. Um átimo que mudou a história do basquete feminino no Brasil.

A vaga não estava garantida ainda, restava bater a Itália; após o teste para cardíacos na fase anterior, nada tiraria a vaga das brasileiras. A estreia da seleção nas Olimpíadas de Barcelona estava assegurada para uma geração fadada ao sucesso e à história.

A partir de então, vivemos a época de ouro do basquete feminino brasileiro, coroado pelo título mundial em 1994. O Brasil passou a ser figurinha carimbada nos Jogos; deixamos de parar nas barreiras das qualificatórias, para inscrever nosso nome no panteão de medalhistas olímpicos. Esse, porém, será tema de outro texto; para chegar ao topo, foi exigido muito suor e muitas derrotas.


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