Notas sobre o arranque da WNBA 2023
Com a temporada a plenos vapores, transcorrido cerca de 20% da fase de classificação, a WNBA 2023 produziu farto material; hora de analisar alguns aspectos e dissecar a liga até aqui. Comecemos pelo time que ocupa o meio da tabela.
Azar e virtudes do Chicago Sky
5 vitórias e 5 derrotas: se a campanha indica desempenho mediano, podemos falar o oposto sobre a equipe. Tal qual o Seattle Storm, o Sky saiu parecia fadado à reconstrução forçada, após perder quatro titulares da temporada passada. Candace Parker, na curta passagem por sua cidade natal, legou um título; o casal Vanderquigs optou por outra rota (Quigley sem jogar neste ano, Vandersloot levando seu talento e comando para Nova Iorque); e Emma Meesseman preferiu se dedicar à seleção belga.
Do núcleo campeão em 2021, apenas Kahleah Copper permaneceu no elenco dirigido e montado por James Wade, que acumula as funções de técnico e general manager (GM). Não é do perfil da ala, tampouco de Wade, jogar a toalha e se programar para o futuro – e a intertemporada voltou-se para jogadoras experientes, experimentadas e de muita garra. Capazes de chegar, jogar e disputar partidas, não importa as oponentes.
Marina Mabrey, Courtney Williams e Copper formam um perímetro dos mais cascudos da liga, auxiliadas pela jovem armadora Dana Evans, em sua primeira chance real na liga. Se a mistura delas não coloca o time como franco favorito, por outro lado forma um quarteto extremamente lutador e técnico, com elementos diversos. No garrafão, a mesma fórmula, com as aquisições de Izabelle Harrison e Elizabeth Williams. A renovação de Rebekah Gardner complementaria um elenco brigador. A primeira função de James Wade foi exitosa e sua atuação como GM manteve o time competitivo; restava a segunda tarefa, como técnico, de unir os elementos em um todo coeso.
Foi nesse ponto que o azar jogou contra Chicago: Harrison se machucou, assim como Gardner; a pivô Ruth Hebard, outra que finalmente receberia chances reais, engravidou. Wade não teve outra alternativa a escalar as opções menos badaladas e menos experientes – as alas-pivôs Allana Smith e Morgan Bertsch. Após um início animador e promissor, Bertsch também se contundiu.
Nada que diminuísse o trabalho de Wade. A equipe manteve-se competitiva e Allana Smith vem brilhando nas últimas rodadas. As jogadoras de perímetro seguem na liderança em pontos (Copper com 17,2 e Mabrey com 16,1 pontos por jogo), mas o grande chamariz é o trabalho coletivo. O GM Wade manteve-se atento ao mercado e adquiriu a pivô malinesa Sika Kone após sua dispensa pelo Liberty; com as ausências, Kone vem recebendo oportunidade e a MVP da última temporada da liga espanhola pode se adaptar ao estilo da WNBA com pouco pressão.
Independente da posição da equipe ao final, a temporada não será de terra arrasada como a remodelagem do elenco apontava. Méritos para James Wade, que troca o pneu com o carro em pleno funcionamento, sem sequer contar com a sorte. Enquanto o time busca melhor posicionamento rumo aos playoffs, vemos jogadas como esta, que levou a partida contra o Indiana Fever à prorrogação (vencida pelo Sky).
A elite no topo
O Las Vegas Aces, sem surpresa alguma, ocupa a primeira posição, com 8 vitórias e apenas 1 derrota. Atual campeã, a franquia melhora seu entrosamento enquanto introduz a lendária Candace Parker no esquema tático; mesmo longe de seu potencial, com Kelsey Plum atravessando uma fase ruim dos arremessos, a equipe acumula vitórias e abre vantagem na tabela.
A única derrota veio para o Connecticut Sun, este sim com mudanças significativas em relação a 2022. Curt Miller assumiu o comando do Sparks e, para seu lugar, chegou a técnica Stephanie White; a ideia inicial era incrementar o ritmo e os chutes de três. Porém, a receita do sucesso do trecho inicial da temporada já estava presente nos anos de Miller – defesa sufocante e a liderança da ala-pivô Alyssa Thomas. Se com Jonquel Jones, Thomas já protagonizava as ações do time, sem a pivô bahamense/bósnia a responsabilidade de Thomas cresceu ainda mais.
E ela vem correspondendo com louvor: suas médias aproximam-se dos dígitos duplos em três fundamentos, com 14,1 pontos, 11,2 rebotes e 7,3 assistências por jogo. Tais números assinalam as melhores marcas da carreira em rebotes e assistências, ocupando a segunda posição nesses quesitos na temporada. Além da defender de todas as posições. Temporada de MVP até aqui, liderando sua equipe na disputa pela segunda final consecutiva e pela revanche sobre o Aces.
O New York Liberty ainda tenta se encontrar. A quantidade absurda de talento individual acumulada na offseason mostrou flashes de seu potencial, entremeados por sequências em que o encaixe careceu de liga. Nada preocupante para a equipe comandada por Sandy Brondello, na terceira posição com 6 vitórias e 3 derrotas. Vandersloot já ocupa a liderança nas assistências (8,9) e Breanna Stewart está em segunda na tabela de cestinhas (23,4). Quando esse elenco entrosar (questão de tempo, não de incerteza), vai bater de frente contra Aces e Sun.
Fecha o quarteto dourado da temporada o Washington Mystics. A passagem no comando técnico seguiu a hereditariedade e Eric Thibault assumiu a posição de seu pai, agora apenas GM. O time conta com uma Elena Delle Donne saudável e uma pivô segundo-anista em franco crescimento (Shakira Austin), além de manter a melhor defesa da liga. Porém, as demais peças ainda não se ligaram, o que justifica a campanha abaixo do esperado (5v e 4d). O ataque segue como a principal preocupação do time, cuja aspiração são o título. A ver como o time encara a sequência da temporada e os encaixes táticos e na rotação para afinar o aproveitamento de quadra.
São as 4 principais candidatas a fazer as semi-finais da temporada e as previsões se concretizaram neste início de temporada; qualquer outro resultado seria extremamente surpreendente.
Primeiros passos de uma futura estrela
O Indiana Fever não tem pressa por resultados, seu objetivo primeiro na temporada é testar seu jovem elenco e criar uma identidade à equipe, à deriva desde a distante aposentadoria de Tamika Catchings. A escolha número 1 do draft, a pivô Aliyah Boston, não precisa corresponder às expectativas instantaneamente. Mas grandes jogadoras tendem a pular etapas e com Boston não vem sendo diferente.
Com a tranquilidade que a marcou na carreira universitária, o domínio se impõe quase naturalmente; com a confiança crescente, seu desempenho deve extrapolar as (altas) previsões. Uma amostra é a votação alta recebida para o All Star Game; outro indicativo são atuações como contra o Mystics.
Apreciemos os primeiros passos profissionais de uma jogadora com todos os atributos e intangíveis para se tornar uma das grandes da WNBA.