Todos contra Las Vegas e New York: prévia da temporada da WNBA

Lucas PachecoMaio 19, 20237min0

Todos contra Las Vegas e New York: prévia da temporada da WNBA

Lucas PachecoMaio 19, 20237min0
A WNBA 2023 arranca em grande e há duas equipas na mira de todas as outras: Las Vegas e New York! Quem vai acabar com o título nas mãos?

Quando você estiver lendo este texto, a temporada da WNBA 2023 estará a pleno vapor. Iniciada em 19 de maio, a temporada tem dois atrativos principais, que devem concentrar grande parte das atenções; mais especificamente, duas franquias são apontadas com amplo favoritismo frente às dez restantes.

O Las Vegas Aces busca o bicampeonato após vencer a final de 2022 contra o Connecticut Sun. O que parecia improvável aconteceu na inter-temporada: o elenco campeão ficou ainda melhor, com as adições de Candace Parker e Alysha Clark, duas agentes livres que optaram em seu juntar ao vitorioso núcleo comandado por Becky Hammon. O que esperar de do quinteto Chelsea Gray, Kelsey Plum, Jackie Young, A’já Wilson e Candace? Sem mencionar as reservas de luxo Riquna Williams (fator X no jogo do título em 2022), Clark e Kiah Stokes. O time ainda trouxe a experiente pivô australiana Caila George e aguarda o desenvolvimento de Kierstan Bell.

Raras vezes na história da liga juntou-se tanto talento em uma única equipe: quatro primeiras escolhas em drafts, duas MVPs e DPOY (jogadora defensiva), alternativas táticas para variar entre small ball e jogo de força no garrafão, uma técnica brilhante… São tantos atrativos que poderíamos passar o texto enumerando as qualidades do elenco. Obviamente, a montagem do elenco não valerá de nada se não se refletir em rendimento e resultados. Para desespero dos haters, porém, o ano passado demonstrou a rapidez com que o conjunto se encaixou.

Nem tudo são flores em Las Vegas, que trocou um pilar da (re)construção da franquia e cuja movimentação gerou tremendo mal estar na liga. Dearica Hamby, draftada em 2015 ainda em San Antonio, representava a virada do time, partindo da lanterna para o topo; nesse caminho, poucas retratam esse processo tão exemplarmente quanto ela. Sua trajetória de ascensão simboliza a da franquia, de uma jogadora com potencial para uma peça chave no time campeão. Sua saída (trocada para o Los Angeles Sparks) deu-se, segundo a jogadora, em função da gravidez, o que teria gerado desconforto em membros da comissão técnica e afirmações de que ela não estaria preparada para a temporada.

A WNBA abriu investigação e concluiu pela suspensão da técnica Hammon por dois jogos, além de cancelar a escolha de primeiro rodada no draft de 2025. Em uma liga com grande participação e ativismo das jogadoras, os acontecimentos não caíram bem e a associação de jogadoras apressou-se para defender a jogadora e seus direitos (assegurados no acordo coletivo com a liga) enquanto gestante.

Não sabemos como foi a repercussão no vestiário do Aces, o quanto isso impactou a relação entre jogadoras (grande parte delas muito próxima de Hamby) e comissão técnica. A julgar pelos reforços e pelo clima nas publicações de pré-temporada, nada que atrapalhe a busca pelo bicampeonato.

O maior empecilho ao bi chama-se New York Liberty, a ressurgente franquia que formou outro time dos sonhos. A Sabrina Ionescu e Betnijah Laney, mais acostumadas ao sistema de jogo da técnica Sandy Brondello, agora na segunda temporada a frente, somam-se Courtney Vandersloot, Jonquel Jones e Breanna Stewart. Tal qual o Aces, com banco capaz de mudar os rumos de uma partida e de uma temporada: Kayla Thornton, Han Xu, Marine Johannes (deve chegar durante a fase de classificação). Se em 2022, a equipe demorou a entrar no eixo e obteve a vaga aos playoffs nas últimas posições, agora as expectativas são altíssimas e imediatas. É o título ou nada, basicamente.

Muito se comenta que a ‘era dos super times’ chegou na WNBA e perante os dois elencos fica difícil discordar. Para além do sonhado título (principalmente em Nova York, uma das franquias inaugurais da liga, que ainda não conquistou o troféu), está em jogo o embate individual mais importante da atualidade no basquete feminino: afinal, quem é melhor, Breanna Stewart ou A’ja Wilson? Da mesma posição, elas se diferenciam pelo que representam: de um lado, a multi-campeã universitária por Uconn, vencedora e MVP por onde passou; do outro, a responsável por inaugurar as conquistas da universidade de South Carolina e consolidar a dinastia. De um lado, uma jogadora branca de perfil introvertido; do outro, uma jogadora negra absolutamente extrovertida.

Conforme avançamos nos duelos individuais, a competição se acirra. Por exemplo, a disputa pelo título de ‘point god’ (trocadilho sonoro entre ‘point guard’, a posição em que atuam, e ‘deusa da armação’ – em suma, quem é a melhor armadora do mundo) entre as armadoras Gray e Vandersloot. Ou, ainda, qual ala-armadora é mais decisiva: Ionescu ou Plum? Ou a batalha pela alcunha de unicórnio: qual pivô é mais versátil e capaz de atuar tanto no perímetro quanto no garrafão, Jonquel ou Candace?

Não à toa Aces e Liberty concentram a atenção da temporada. São tantas narrativas que envolvem as duas franquias que não sobra espaço para as demais; qualquer final sem uma das duas equipes será surpreendente. Talvez o Washington Mystics, com uma Elena Delle Donne saudável, e se repetir a intensidade defensiva de 2022, possa desbancar um dos favoritos. De qualquer maneira, convem anotar na agenda, com letras maiúsculas, as datas dos confrontos entre Las Vegas e New York na fase regular: 29 de junho, 06, 17 e 28de agosto.

O resto da liga tentará se encaixar e criar identidade tática e cultura vencedora – jogando suas ambições para o futuro. Afeta essa decisão, além da concentração de craques nas duas favoritas, o alto valor das duas futuras classes de calouras, quando devem entrar na WNBA Caitin Clark, Paige Bueckers, Cameron Brink, Angel Reese, Olivia Miles, Hailey van Lith, Azzi Fudd. Duas classes lotadas de prospectos vistos como franchise players. Para franquias estagnadas na evolução, como Minnesotta Lynx e Dallas Wings, ou aquelas interessadas em somar peças jovens, como Atlanta Dream e Indiana Fever, a colocação final na temporada não importa tanto, com os efeitos primários jogados para um futuro próximo.

Mais cedo ou mais tarde, a entressafra chegaria. A geração que ditou as regras da WNBA por quase duas décadas chega ao ocaso e segura o lugar para a geração vindoura. O que não significa ausência de atrativos: o Chicago Sky montou um time de alta voltagem, cascudo e provocador, além da prancheta do excelente James Wade.

O Connecticut Sun viu sua ex-MVP Jonquel Jones partir, assim como o técnico condutor às finais recentes (Curt Miller) rumar para Los Angeles. Alyssa Thomas, candidata a MVP, deve assumir ainda mais o papel de líder e o entrosamento de anos com a pivô Brionna Jones pode render muitas vitórias. O próprio Los Angeles, a despeito do elenco sem wings e com pouco espaçamento, deve trazer bons momentos e recuperar o eficiente basquete de Nneka Ogwumike.

Razões não faltam para acompanhar a temporada 2023 da WNBA, cuja fase regular avança até o começo de setembro. A principal liga de basquete feminino do mundo merece ser vista e comentada – e sua final promete uma série para entrar na história.


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