Lendas da Euroliga: de Alba Torrens a Catarina Pollini pt.2

Lucas PachecoDezembro 27, 20227min0

Lendas da Euroliga: de Alba Torrens a Catarina Pollini pt.2

Lucas PachecoDezembro 27, 20227min0
Lucas Pacheco vai ao baú para nos falar de 5 lendas do basquetebol europeu e da Euroliga, com nomes inesquecíveis do basquetebol

Depois de olharmos para duas lendas do basquetebol europeu e da Euroliga, é altura de visitarmos mais três nomes que serão para sempre lembrados desta mítica competição, com Alba Torrens, Janice Lawrence Braxton e Catarina Pollini a serem as estrelas desta segunda parte.

Catarina Pollini

Os anos 80 presenciam o fim da hegemonia do Riga, inaugurando a era DS (depois de Semjonova). Só em 83 o Riga não é campeão em uma edição em que disputou o torneio e é aí que o domínio passa para as mãos dos clubes italianos. Ainda em 68, o Vicenza foi o primeiro clube da Europa ocidental a ficar entre os 4 primeiros; em 78 o também italiano GEAS (Sesto San Giovanni, próximo a Milão) torna-se o pioneiro da região a conquistar o título. O Fiat Torino ganha em 80 e, a partir de 83, o Vicenza torna-se o grande time da década, com os títulos de 83, o vice em 84 e o tetracampeonato no período de 85 a 88 o Vicenza.

O Vicenza torna-se o primeiro time campeão da Euroliga a contar com jogadoras não-europeias em seus elencos, inaugurando uma tendência que se aprofundará nas décadas seguintes. Em 83, a americana Kris Kirchner (campeão mundial pelos EUA em 79) e a canadense Bev Smith somavam-se às italianas, base da seleção. A Itália já despontava como principal mercado de trabalho para as americanas na Europa, após o término de suas carreiras universitárias. Não custa lembrar que Cynthia Cooper, por exemplo, ficará anos em clubes italianos, embora aparentemente nunca tenha disputado a Euroliga, demonstrando o nível de disputa do campeonato nacional.

Dentre as jogadoras italianas, destaque para a dupla Catarina Pollini e Mara Fullin. Cada uma conquistou 7 títulos da Euroliga, sendo 5 deles pelo Vicenza nos anos 80; ambas ainda conquistarão 2 títulos cada nos anos 90 por outros times italianos. A parceria estendeu-se para a seleção da Itália, formando a estrutura do time, com Fullin no perímetro e Pollini no jogo interno; elas enfrentaram a seleção brasileira algumas vezes no período, seja no Pré-Olímpico de 92, seja nas Olímpiadas de 92 e 96. Alguns desses jogos estão disponíveis no youtube – vale a pena ver o estilo dessa grande jogadora.

Catarina Pollini nasceu em 1966 e destacou-se muito cedo. Jogando ou como ala de força ou como pivô (1,93 m), sua trajetória parece irregular, vista aos olhos de hoje. Após atingir o ápice na Europa, conquistando a Euroliga 5 vezes (3 delas antes de completar 20 anos) pelo Vicenza, joga uma temporada na Universidade de Texas, onde enfrenta algumas contusões que reduziram sua presença em quadra. Ela retorna à Europa, mas cruzaria novamente o Atlântico rumo aos Estados Unidos para a temporada inaugural da WNBA, em 1997, onde foi companheira da Janeth no Houston Comets.

Sua longeva carreira passa por diversos momentos do basquete feminino, tendo vivenciado ambientes até então restritos, muito díspares e muitas barreiras. Destaque em quase todas as equipes por onde passou, Catarina Pollini nem sempre recebeu o reconhecimento que seus títulos indicavam: ela travou uma batalha na Justiça italiana pelo reconhecimento do estatuto profissional das jogadoras de basquete, em processo iniciado em 1998. Ela chegou a ser proibida de jogar, em decisão logo revogada.

Janice Lawrence Braxton

A história da Euroliga e suas equipes campeãs, da década de 80 em diante, é marcada pela presença constante de americanas. Dentre as maiores vencedoras, à dupla Diana Taurasi (6 títulos) e Sue Bird (4 títulos, obtidos de forma consecutiva pelo Spartak Moscou, entre 2007 e 2010, junto com Taurasi), soma-se a pouco conhecida Janice Lawrence Braxton. Em outro momento da Euroliga, Janice Lawrence também conquistou 4 títulos consecutivos, pelo Vicenza entre 85 e 88.

Com 1,89 m, a jogadora destacara-se pela Universidade de Louisiana Tech, no esquadrão que faturou o primeiro torneio organizado pela NCAA em 1982. À época em que Janice Lawrence esteve na universidade, o próprio sistema de basquete feminino estava sendo consolidado. A emenda conhecida como Title IX, marco legal que impôs às instituições de ensino que proporcionassem as mesmas oportunidades para homens e mulheres, data de 1972. Se o sistema universitário ainda engatinhava, as perspectivas para as jogadoras pós-universidade eram ainda piores, se não nulas; não à toa muitas jogadoras tornaram-se técnicas imediatamente após o fim da universidade, uma das poucas oportunidades de permanecer no basquete.

Assim, após uma carreira estelar por Louisiana Tech (80 a 84), onde foi companheira de Kim Mulkey (hoje técnica da Universidade de Baylor), Debra Rodman (atenção ao sobrenome) e Pam Kelly, tendo chegado ao Final Four em 83 e 84, Janice Lawrence parte para conquistar a Europa, onde defende o Vicenza. O tetracampeonato fala por si. A ida para a Europa, se assegura a possibilidade de emprego jogando basquete, mascara o ostracismo em seu país de origem, onde a maioria das seleções continuaram a ser compostas por jogadoras universitárias. Janice Lawrence defendeu os Estados Unidos nas Olímpiadas de 84 (campeã e terceira cestinha do time liderado por Cheryl Miller) e no Mundial de 83 (vice), disputado no Brasil. Sua trajetória na seleção finda antes de sua carreira profissional, na Europa.

Ela ainda teve a oportunidade de jogar na WNBA, tal qual sua companheira de Vicenza Catarina Pollini, no final de sua carreira. Defendeu o Cleveland nas temporadas de 97 e 98.

Alba Torrens

Finalizando esta mostra de grandes jogadoras da Euroliga, com as inevitáveis lacunas (talvez uma segunda parte diminua esse lapso), uma jogadora ainda em atividade e ainda em grande fase. Para o estado atual da competição, nada melhor que uma representante da vitoriosa geração espanhola. No cenário europeu atual, Espanha e França despontam como as duas principais forças, formando jogadoras que logo comporão as principais equipes do continente.

Alba Torrens, ala de 1,90 m, foi campeã da Euroliga pela primeira vez aos 22 anos, pelo time de Salamanca em 2011. Nesse ano, foi escolhida a MVP do Final Four. Esse time merece todos nossos créditos por contar com a brasileira Érika, única brasileira a conquistar a Euroliga até hoje; o garrafão era completado ainda por Sancho Lyttle, mesmo garrafão que seria vice da WNBA naquele ano. Sem contar que o Salamanca desbancou o então tetracampeão Spartak Moscou na final.

Em 2014, Torrens foi campeã na esperada final turca: o Galatasaray venceu seu arqui-rival Fenerbahce, que não perdera nenhum jogo naquela campanha. Até a final. Torrens era novamente companheira de Sancho Lyttle e da icônica armadora turca Isil Alben – provável que essa vitória tenha consolidado seu lugar na história do clube. Desde então, Alba Torrens vem fazendo parte dos poderosos e ricos elencos do Ekaterinburg, com os títulos de 2016, 18 e 19. Contando com muitas estrelas, Torrens tem sempre seu lugar assegurado no time, com destaque para sua defesa, seu papel de facilitadora das diversas peças e ainda com poder de produzir seu arremesso quando necessário.

Ela é geralmente apontada como uma das melhores jogadoras no mundo a não jogar na WNBA. Até o momento, ela não se interessou, apesar de jogar ao lado das estrelas americanas no circuito europeu. Seja por motivos financeiros, seja para dedicar seu tempo à seleção espanhola, o talento de Alba Torrens desponta é na Euroliga.

https://mobile.twitter.com/fiba/status/1046122393079615489


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