Las Vegas Aces: a campeã voltou?

Lucas PachecoSetembro 12, 20246min0

Las Vegas Aces: a campeã voltou?

Lucas PachecoSetembro 12, 20246min0
Afinal podemos vir a ter tricampeonato das Las Vegas Aces? Lucas Pacheco acha que elas estão de volta ao seu melhor e explica o porquê

A temporada não se desenhou como planejada pelo Las Vegas Aces, cuja decepcionante campanha contrasta com a de sua arqui-rival, a franquia de Nova York. Enquanto o Aces, com 10 jogos pendentes da fase regular, já superou o número de derrotas da temporada passada, o New York Liberty assegurou a primeira posição. Desde que os dois elencos foram montados, no início de 2023, trata-se da maior rivalidade atual e as duas grandes candidatas a disputar todos os títulos. Em 2023, o Liberty conquistou a Comissioner’s Cup e o Aces, o título da temporada. Em 2024, a franquia de Las Vegas dava sinais de queda e sequer atingiu a final da Comissioner’s Cup, vencida pelo Minnesota Lynx sobre o Liberty. Nem mesmo a parada olímpica melhorou o desempenho de Las Vegas, que acumulava duas derrotas para suas maiores rivais.

No último domingo, as equipes enfrentaram-se no último duelo da temporada regular. Para piorar a situação, o desfalque da (iminente) MVP, A’ja Wilson, anunciada horas antes da partida, fazia antever a varrida. O primeiro quarto deu esperanças à torcida do Aces: com alto volume e excelente aproveitamento nas bolas de três, o time manteve-se à frente do placar durante boa parte dos 10 minutos, sofrendo a virada nos momentos finais. Enquanto Kelsey Plum chamou o protagonismo e converteu seus chutes, a equipe mostrou poder de reação e competitividade mesmo sem sua maior estrela.

Porém, o basquete é um esporte de corridas e, uma vez estancada a sangria, o entrosamento e a maior profundidade do Liberty deu as caras. A equipe manteve seu núcleo principal do vice-campeonato em 2023, somando peças de reposição de wings e forwards: Leonie Fiebich (caloura alemã com larga experiência internacional) e Kennedy Burke adicionaram versatilidade e defesa, seja no perímetro seja no garrafão. A franquia apostou também na evolução da pivô reserva Nyara Sabally. A fórmula, inicialmente criticada por boa parte dos analistas, mostrou-se exitosa e o time conquistou o mando de quadra em todo o playoff antecipadamente.

O segundo quarto e o início do terceiro foram amplamente dominados pelo Liberty, que chegou a abrir 20 pontos de vantagem. Fiebich cumpriu com maestria a função de brecar Plum e o Aces viu-se nu beco sem saída; Becky Hammon, técnica de Las Vegas, colocou as reservas em quadra. Quem acompanha sabe que Hammon prefere rotações curtas, usando o banco de forma pontual; convocar Sidney Colson e sacar o trio Chelsea Gray/Jackie Young/Kelsey Plum de uma vez atestava a anunciada derrota.

Tal qual na partida final de 2023, quando o Aces viu-se obrigado a recorrer ao fim do banco, o inesperado aconteceu. Quando todos davam como certa a derrota, o quinteto reserva encaixou um jogo rápido, de muita defesa e distribuição da bola, encostando no placar no quarto derradeiro. A bem da verdade, o Aces chegou a liderar o placar a poucos minutos do fim. Colson bloqueou Sabrina Ionescu por boa sequência, o que, aliada à displicência das demais, causou a virada. Tiffany Hayes puxou para si a responsabilidade de pontuar e, ao retornar as titulares, o Aces estava no páreo novamente.

Ao final, Ionescu conseguiu dois bons arremessos e decretou a vitória por 75 x 71, sacramentando a varrida (3 x 0) sobre o Aces na temporada regular. Curiosamente, uma vitória pouco comemorada pela torcida de Nova York, devido ao desfalque de A’ja e às circunstâncias da partida. Um triunfo com sabor agridoce, que reviveu a dor da derrota em 2023. Por melhor que seja a campanha em 2024, algumas partidas são simbólicas. De diferente a 2023, além das peças do banco, a técnica Sandy Brondello diminuiu o tempo de quadra e a participação da armadora Courtney Vandersloot, em detrimento à envergadura e defesa de Fiebich. New York segue vencendo a batalha dos rebotes, mas o baixo aproveitamento de 3 (20,83) pode pesar desfavoravelmente em um possível futuro confronto nos playoffs (Aces fechou com 45,45% de três).

Do outro lado, uma derrota com sabor de vitória para o Aces. Sem sua principal jogadora, a equipe soube manter-se na partida e quase virar um jogo improvável. Diz um famoso ditado: nunca duvide da alma de uma campeã – o domingo provou que o Aces segue vivo na busca do tri campeonato consecutivo.

Há muito a ser corrigido, mas a equipe demonstrou poder de decisão raramente visto nesta temporada. A armadora Chelsea Gray evolui jogo a jogo, ganhando ritmo visivelmente – para fazer história, entretanto, o time precisará da versão clutch. Jackie Young caiu após um começo incrível de temporada e a parada olímpica piorou ainda mais seu desempenho – ela segue, porém, a defensora mais confiável e capaz de converter arremessos contestados, mesmo que a confiança não esteja alta. Plum oscila, mas a partida de domingo provou sua responsabilidade ofensiva no esquema de Hammon.

Somado à histórica campanha de A’ja e à maior quantidade de peças do banco, não há motivo para desespero. Certo que o time enfrentará maiores obstáculos nos playoffs, sem mando de quadra (muito provavelmente nas semis e finais), mas a energia e entrega contra o Liberty encheram o torcedor de esperança.

O Aces disputa, partida a partida, a quarta posição contra o Seattle Storm, provável adversária na primeira rodada dos playoffs. E possui uma reta final de campanha mais difícil: duelos contra Indiana Fever, Connecticut Sun e o próprio Storm (cujos jogos finais serão, teoricamente, mais tranquilos).

Após a derrota para o Liberty no domingo, A’ja Wilson retornou contra o Fever, equipe mais quente do momento, na última quarta-feira, com sonoros 27 pontos e 12 rebotes. Mais que o notável desempenho individual, a equipe jogou coletivamente, executando à perfeição a estratégia defensiva (Caitlin Clark com 27% de quadra e 10% de três, enquanto Aliyah Boston teve módicos 30%) e punindo a defesa de Indiana com 45% de três pontos. Em jogo de dois maiores paces (ritmo, medida de aceleração que indica volume de posses de bola) da temporada atual, saiu vencedora a equipe mais experiente e equilibrada (75 x 86).

Las Vegas Aces está a poucos ajustes de repetir uma nova conquista histórica. Convem não duvidar das bi-campeãs.


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