Quem vai chegar aos Jogos Olímpicos no basquetebol feminino?

Lucas PachecoOutubro 11, 20238min0

Quem vai chegar aos Jogos Olímpicos no basquetebol feminino?

Lucas PachecoOutubro 11, 20238min0
Lucas Pacheco faz o lançamento para o torneio de basquetebol feminino para os Jogos Olímpicos: quem vai lá chegar?

Enquanto o circuito de clubes do basquete feminino fervilha mundo afora, com destaque para a final da WNBA e o início dos torneios europeus, as seleções preparam-se para a batalha das qualificatórias para as Olimpíadas de 2024. A esta altura, 16 países seguem na disputa das 12 vagas; embora EUA (atuais campeãs olímpica e mundial) e França já estejam classificadas, elas disputarão as qualificatórias.

No começo de outubro, a Fiba sorteou os 4 grupos, definindo os confrontos e trazendo discussão sobre os mais concorridos e levantando debates e prévias sobre os possíveis classificados. Não é para menos, uma vez que os Jogos de Paris marcam a principal competição do ano, estágio final de um ciclo – e todas almejam carimbar sua vaga. Em cada um dos quatro grupos, 3 avançam para Paris e 1 equipe quedará fora definitivamente das Olimpíadas.

O grupo com sede na China receberá, além das anfitriãs, atuais vice-campeãs mundiais e vencedoras da Copa Asiática, a França (já classificada), a Nova Zelândia e uma seleção do continente americano, ainda indefinida, que sairá de um quadrangular envolvendo Colômbia, Venezuela, Porto Rico e Canadá. Difícil prever um grupo sequer fechado, porém o histórico recente coloca Porto Rico e Canadá com amplo favoritismo, devendo cair sobre Porto Rico a vaga nesse grupo. Se esse cenário se confirmar, com a França garantida e a China com ampla vantagem, a disputa deverá se restringir ao confronto entre Canadá/Porto Rico e Nova Zelândia: quem vencer o duelo, carimba sua vaga.

Porto Rico cresce a cada competição internacional e vem da estreia nos Jogos de Tóquio e ótima campanha no Mundial de 2022. Canadá atingiu a semi-final na Austrália no ano passado e a Nova Zelândia correrá por fora. É um time com menos experiência no cenário mundial, porém dotado de poderio ofensivo com a voluptuosa ala Charlisse Leger-Walker; se a equipe conseguir êxito em centralizar o ataque em torno de sua jovem estrela (22 anos), o resultado pode ser surpreendente.

Outro grupo que deve ser definido no confronto direto é o sediado na Bélgica. Somente uma hecatombe tiraria as anfitriãs, atuais campeãs europeias, comandadas pela melhor jogadora não-americana da atualidade, a cracaça power forward Emma Meesseman; os EUA possuem uma vaga. Logo, a última ficará com a seleção africana que vencer o confronto direto: Senegal e Nigéria fazem o clássico continental, com a vaga olímpica em disputa. Sem sombra de dúvida, com favoritismo às nigerianas, atuais tetra-campeãs do AfroBasket (3 títulos conquistados sobre as senegalesas). Por se tratar de um clássico continental, porém, convem não dar por garantida a vaga.

As dificuldades aumentam nos dois grupos restantes, um sediado na Hungria e o outro no Brasil, ambos com status de ‘grupo da morte’. Afinal, qual o grupo mais concorrido?

Na minha humilde opinião, o grupo na Hungria deve ser mais equilibrado do que o no Brasil. A interlocutora com quem debati no tweet acima discorda e a Fiba, sem seu site oficial, caminha na mesma direção.

Na Hungria, veremos as donas da casa (4º lugar no último Europeu), a Espanha (vice europeia), Japão (vice olímpica e vice asiática) e a melhor seleção do continente americano (provavelmente o Canadá, semi-finalista do Mundial). No Brasil, além das donas da casa, a Austrália (bronze no Mundial de 2022), Sérvia (5ª no europeu) e Alemanha (6ª no europeu). De fato, ambos os grupos devem testemunhar partidas de muito equilíbrio, com alguns resultados surpreendentes.

Se os parâmetros forem aos resultados recentes, o grupo na Hungria contará com as melhores colocadas em seus torneios continentais, com exceção do Brasil, campeão de uma Copa América em que as duas potências (EUA e Canadá) estavam desfalcadas das principais jogadoras. O Japão terminou o asiático acima da Austrália e no confronto direto, venceu com facilidade; Espanha e Hungria encerraram o europeu à frente de Sérvia e Alemanha – nos duelos diretos, as espanholas venceram as alemãs com 25 pontos de vantagem, enquanto as húngaras venceram as sérvias.

Se optarmos por elencar as forças mundiais, chegaremos às mesmas conclusões: no grupo no Brasil, a Austrália é a maior força disparada e todos esperam que conquiste a vaga sem grandes dificuldades. No grupo na Hungria, o Japão possui resultados recentes expressivos, enquanto a Espanha renovou seu núcleo mantendo a força e até aumentando sua capacidade defensiva. No segundo pelotão, muito equilíbrio entre as seleções europeias (Hungria, Sérvia e Alemanha).

Assim, o título de ‘grupo da morte’ recai sobre o da Hungria, a meu ver, a não ser que Porto Rico fique nesse grupo, o que a tornaria a menos cotada para chegar em Paris. Tudo pode acontecer nesse grupo, pois a juventude espanhola será testada contra a experiência japonesa. Não custa lembrar que o Japão se fia em um estilo de jogo bem característico, que uma vez anulado inevitavelmente conduz à derrota. A Hungria vem de um europeu animador e, sem grande estrelas, aposta em um grupo muito coeso.

No grupo do Brasil, com sede em Belém, as australianas despontam com favoritismo; entretanto, a renovação do elenco vem dando sinais de fraqueza e, se não fosse pela presença da lendária Lauren Jackson, quiçá nem o pódio seria alcançado. A seleção ressente-se de uma armadora organizadora e as rivais deverão explorar essa lacuna. Alemanha e Brasil tampouco possuem grandes jogadoras para a posição 1, embora sejam carregadas de ótimas opções para o garrafão. A Sérvia carrega consigo uma incógnita, pois depois de perder as protagonistas da recente fase vitoriosa (Ana Dabovic, Jelena Brooks e Sonja Vasic aposentaram-se da seleção) mostra-se dependente do talento individual da armadora naturalizada Yvonne Anderson – a organização tática da técnica Marina Maljkovic vem garantindo boas posições, sem medalha.

Por incrível que pareça, para mim a maior interrogação reside justamente na seleção brasileira. Diferente das demais concorrentes, o circuito interno de clubes é fraco e não fornece condições para as convocadas chegarem em boa fase nas qualificatórias, programadas para o início de fevereiro de 2024.

O Brasil está longe dos principais torneios mundiais desde 2016, período no qual nos restringimos a competições continentais, com resultados oscilantes. O título da Copa América veio após um começo hesitante do torneio, tempo não disponível nas qualificatórias, competição de tiro curto. A equipe possui força no garrafão, mas Stephanie Soares se recupera de lesão, Kamilla depende de liberação da universidade (caso liberada, deve somar-se ao grupo em cima da competição) e Clarissa luta para voltar à melhor forma. Damiris Dantas faz um começo de temporada turca animador e a torcida é que siga crescendo até fevereiro. A ala Tainá Paixão, grande responsável pelas últimas conquistas, migrou para a Rússia e ainda luta para se adaptar.

A ausência de intercâmbio com a escola europeia traz preocupação, compensada pelo apoio da torcida, que deve lotar o ginásio. Ainda assim, o Brasil oscila demais e teremos que aguardar para ver o desempenho da seleção, que busca retornar às Olimpíadas. As brasileiras possuem talento individual para vencer qualquer outra seleção do grupo, assim como pode sair derrotada dos três jogos. De qualquer maneira, a partida contra a Alemanha é apontada (pela Fiba, como se vê na matéria acima) como a mais importante.

As cartas estão na mesa. Em fevereiro, mais especificamente no dia 11, saberemos a composição definitiva para Paris.


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