Giro do basquete feminino pelo mundo

Lucas PachecoSetembro 21, 20239min0

Giro do basquete feminino pelo mundo

Lucas PachecoSetembro 21, 20239min0
O giro do basquete feminino pelo mundo deveria acontecer e Lucas Pacheco explica como funcionaria e o que de bom traria

Com a divulgação da premiação financeira da Copa do Mundo de seleções masculinas de basquete, algumas jogadoras europeias manifestaram seu repúdio à desigualdade entre os gêneros, promovida pela Fiba (federação internacional).

Principalmente belgas e espanholas, elas postaram mensagens de descontentamento nas redes sociais; porém, não pasosu disso. As jogadoras permanecem sem um movimento maior de questionamento acerca das estruturas do basquete feminino; embora não consigam criar um debate que ultrapasse fronteiras nacionais, ou extrapole as redes, seguem reféns dos fluxos globais de movimentação da força de trabalho.

Por conta deste fluxo, nesta semana, abordaremos três centros de basquete feminino de forma unívoca. O calendário pode não ser bem planejado, mas sua dinâmica impõe idas e vindas, além de definir graus de qualidade técnica e tática. Vamos percorrer então alguns torneios, “unificados”  pelo calendário internacional.

Europa

O calendário internacional é determinado, em larga medida, pela Europa. As competições de seleções ocorrem, com exceção de poucas ‘datas-Fiba’, na intertemporada de clubes europeus, entre maio/junho e setembro/outubro. Assim, os clubes passam neste momento pela pré-temporada, com poucos campeonatos nacionais já em curso, como na Turquia.

No cenário continental, a Euroliga e a Eurocopa iniciam a fase qualificatória, prévia à fase de grupos e que asseguram as últimas vagas. Neste ano, a Euroliga (principal torneio continental) escalou 6 equipes nas qualificatórias, divididas em três duelos – as vencedoras de cada um avançam e garantem as 3 últimas vagas. Vimos os jogos de ida e teremos os da volta na próxima semana; caso cada time vença uma partida, o desempate será pelo saldo de cestas.

ACS Sepsi, da Romênia, venceu em casa o TTT Riga, da Letônia, por 59 x 54. A diferença pequena deixou tudo aberto para o jogo de volta, cabendo à tradicional equipe letã apenas a vitória por diferença mínima de 6 pontos. Foi uma partida equilibrada, de baixo aproveitamento, muitos desperdícios e placar baixo. No segundo duelo, outra vitória apertada, desta vez das visitantes do Polkowice (Polônia) sobre o Besiktas (Turquia), por 57 x 58.

As polonesas participaram da fase de grupos da Euroliga passada, com campanha excelente e padrão tático que potencializava as estrelas estrangeiras. O elenco manteve a espinha dorsal, assegurando a identidade tática, e alterou suas duas estrelas, com Nika Baric (armadora eslovena) e Dragana Stankovic (pivô sérvia) no comando. Se o plano era substituir com peças parecidas, a julgar pela partida de hoje, a ideia deu certo. Ambas foram as mais eficientes da rodada, e batalharão para ampliar a vantagem em casa na semana que vem. O Besiktas apostará suas fichas na melhora do aproveitamento de Jovana Nogic, cestinha do jogo com 21 pontos (em 19 arremessos).

No terceiro confronto, prevaleceu a continuidade e outra equipe com boa campanha na temporada passada saiu vencedora: DVTK Miskolc ganhou fora de casa do London Lions, por 48 x 63. Seguindo a mesma receita da equipe polonesa, as húngaras mantiveram sua base, trocando a liderança de Arella Guirantes pela de Kaila Charles. Os muitos reforços do Lions, com ambição de estrear na principal competição europeia, não conseguiram conformar um todo homogêneo e a larga diferença deverá ser revertida, fora de casa, na semana que vem. Ou as inglesas (juntando as melhores jogadoras da seleção local) se encontram, com pouco tempo de treino, e viram, ou estarão fadadas a se contentar com a Eurocopa.

Por falar em Eurocopa, o campeonato do segundo escalão europeu segue o mesmo formato de qualificatória da Euroliga. A equipe portuguesa Sportiva dos Açores, inaugurou a temporada 2023-24 com uma derrota na Turquia para o Antalya, por 66 x 49. Parece difícil uma remontada, devido à larga vantagem construída e à qualidade de suas principais estrelas, duas ex-jogadoras da WNBA. Porém, não é impossível e as portuguesas terão o apoio da pivô brasileira Monique, única do time com eficiência em dígitos duplos (18); ela precisará de outra atuação descomunal nos rebotes (18), além de subir seu aproveitamento de quadra (apenas 27%). Será que dá?

Estados Unidos

Do outro lado do Atlântico, a liga norte-americana aproxima-se do fim, com três semi-finalistas garantidos, restando apenas o jogo desempate entre Minnsota Lynx e Connecticut Sun. A série está empatada em 1 a 1, após o Lynx vencer a segunda partida, fora de casa. O time comandado por Cheryl Reeve compensou a ausência de uma armadora de ofício com atuações magistrais de Napheesa Collier e Kayla McBride. Se Reeve-GM vem falhando em estruturar e manter seu elenco nos últimos anos, Reeve-técnica continua afiada e desenha um esquema favorável às suas estrelas.

Quem vencer neste noite enfrentará o New York Liberty, que a despeito das expectativas de equilíbrio, varreu o Washington Mystics. As duas vitórias em casa garantiram dias preciosos de descanso e treino; se no jogo 1, Sabrina Ionescu acertou tudo da linha de três, no 2 ela foi anulada por Natasha Cloud, restando a Breanna Stewart as responsabilidades ofensivas. Elena Delle Donne não equiparou seu desempenho à de sua arqui-rival e, a cada ano que passa, fica mais difícil imaginar o retorno das exibições que garantiram o título em 2019.

 No outro lado, o Las Vegas Aces buscará sua segunda final consecutiva, desta vez contra o Dallas Wings. Enquanto o Aces despachou o Chicago Sky sem dificuldade, o Wings fez o mesmo contra o Atlanta Dream. Será um duelo promissor, com o tamanho de Dallas disputando contra a movimentação de bola do Aces. A série inicia no próximo domingo.

Com as eliminações, testemunhamos a migração de parte da mão-de-obra da WNBA para a Europa, o que causará impacto nos elencos e maior tempo de entrosamento. Muitas das jogadoras embarcam sem sequer desfrutar de repouso, emendando uma competição na outra.

Brasil

Ainda que o paulista abarque a nata das jogadoras, o torneio mais chamativo é o Brasileirão sub-23, organizado pela CBB. A competição permite o desenvolvimento de jovens valores e possibilita uma via de acesso à próxima LBF, à seleção e aos olhares do mundo do basquete. Dado o estado anêmico do basquete feminino no Brasil, a continuidade da competição, em ssua terceira edição, traz certo alívio, mesmo que com nova diminuição de times.

Por aqui, a situação periférica do basquete feminino coloca-nos ainda mais à mercê do calendário de outras praças. A LBF segue o calendário da WNBA e presenciamos, após o título do Sesi Araraquara, o mesmo fenômeno da migração – as principais jogadoras irão para a Europa, as demais se alocarão nos parcos clubes e competições, como o Campeontao Paulista, principal estadual.

As 9 equipes compõem-se de seis retornantes (Nosso Clube VItaliza, Bradesco, Maringá, São José, Pinda e Sport), além de 3 estreantes (Bax Catanduva, Blumenau e Shiro). Percebe-se que as equipes da LBF ampliaram a participação na competição, o que parece animador; por outro lado, vemos na base a mesma concentração de times do estado de São Paulo (4) e a redução de praças distintas, presentes nas edições anteriores.

A rodada inicial mostrou que a experiência deve ser fundamental nas ambições e os elencos mais experientes sobrepuseram-se com tranquilidade. Catanduva possui quinteto titular recém-regresso da LBF, assim como Blumenau e São José trazem reforços importantes. Vale a pena acompanhar; nos anos anteriores, vimos bons valores, alguns já sedimentados no adulto.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS