Gigantes desaparecidos do futebol de praia mundial

André CoroadoMarço 10, 20225min0

Gigantes desaparecidos do futebol de praia mundial

André CoroadoMarço 10, 20225min0
Neste artigo lançamos um olhar às selecções que outrora tiveram um papel dominante no futebol de praia, mas acabaram por cair no esquecimento.

A História de futebol de praia é pródiga em exemplos de países que cresceram muito ao longo dos anos e, partindo como underdogs, acabaram por alcançar um estatuto de superpotência global. O mais recente exemplo será, provavelmente, a selecção da Bielorrússia, que participou nos dois últimos mundiais e é a actual vice-campeã europeia. Mas existem também casos de selecções que efectuaram o percurso inverso: potências da modalidade numa dada época que, por qualquer motivo, estagnaram e acabaram por ser ultrapassados por outras equipas. Vamos lançar um olhar a três casos flagrantes.

FRANÇA

É o caso mais emblemático de todos. Trata-se de uma formação que venceu o primeiro mundial FIFA, realizado na praia de Copacabana em 2005, na altura sob a liderança do carismático Eric Cantona. No entanto, com o passar dos anos, a França foi perdendo o fulgor, o que se traduziu num decréscimo de qualidade das prestações e resultados deficitários. O primeiro sinal chegaria em 2008, no Mundial de Marselha, em que a França não se apurou para as meias-finais. No ano seguinte, os gauleses não conseguiriam o apuramento para o mundial do Dubai em 2009 e desde então nunca mais marcariam presença na maior competição do futebol de praia do mundo. A juntar a isso, as prestações continentais da França deixaram muito a desejar, acabando mesmo por ser despromovida à divisão B da Liga Europeia em 2010.

A França ainda saltitou entre as divisões A e B durante alguns anos, acabando por beneficiar do alargamento da elite de 8 para 12 selecções, e por vezes ainda conseguiria marcar presença na Superfinal (recorde-se o êxito de 2015). Porém, a nação da Europa Ocidental jamais recuperaria o estatuto de superpotência europeia que granjeara nos velhos tempos, não obstante a qualidade indubitável de executantes como Basquaise, Barbotti, entre outros. Claramente, a França perdeu o comboio da evolução do futebol de praia europeu e, ao contrário de Portugal, Espanha, Itália e Suíça, não conseguiu adaptar-se ao crescimento da modalidade na região leste do continente. Conseguirá a França algum dia regressar aos tempos áureos?

ARGENTINA

Até 2015, as únicas equipas que tinham participado em todas as edições do mundial FIFA eram o Brasil, o Japão e a Argentina. Se os dois primeiros mantêm esse registo notável ainda hoje, o mesmo não se verifica com a selecção das Pampas, que desde então não voltou a marcar presença na prova e ano após ano tem acumulado prestações decepcionantes nas provas da CONMEBOL. Mas como se explica tão pronunciado declínio?

Na realidade, o futebol de praia nunca foi uma modalidade com grande expressão na Argentina, embora os resultados desportivos da selecção fossem positivos até aos primeiros anos da década passada. A geração dos irmãos Hilaire, de Minici, de Salgueiro, de Franceschini e Leguizamon resistiu durante muitos anos e acabou mesmo por fazer um brilharete em 2013, quando conquistou a qualificação sul-americana para o mundial, ou em 2015, quando derrotou o Brasil pela primeira vez na História. No entanto, a falta de bases patente na inexistência de uma liga doméstica que pudesse sustentar o crescimento da modalidade e a renovação estruturada da selecção rapidamente se reflectiu num descalabro de resultados, a começar pela prestação paupérrima no mundial de Espinho em 2015.

Desde então, a Argentina começou, timidamente, a investir nos quadros competitivos e novos clubes foram começando a surgir, com evidentes resultados ao nível da qualidade de jogo apresentada. No entanto, os 5 anos de desfasamento em relação ao Paraguai levaram a que a nação albiceleste perdesse o comboio do crescimento da modalidade na América do Sul e fosse ainda ultrapassada por países como o Chile ou o Equador. Mais recentemente, o Uruguai, que investiu na liga doméstica um pouco mais cedo do que a Argentina, já começou a colher os frutos desse processo, conseguindo o apuramento para os quartos de final do mundial em 2019 e 2021. Será que o actual investimento interno no país das Pampas se irá reflectir a curto prazo nos resultados alcançados pela selecção?

PAÍSE BAIXOS

Por fim, lançamos um olhar a uma equipa que praticamente desapareceu do panorama europeu da modalidade. Entre 2008 e 2014, comandados pelo emblemático Niels Kokmeijer, os neerlandeses averbaram alguns bons resultados e chegaram a integrar, ainda que de forma algo intermitente, a elite europeia da modalidade. O primeiro grande sinal de força chegou em 2008, quando a Holanda alcançou a Superfinal da Liga Europeia, onde derrotou a Suíça e a Rússia para alcançar a final, onde acabaria derrotada por Portugal. Nos anos seguintes, a Holanda continuou a progredir na modalidade e, embora apresentasse uma selecção algo envelhecida, realizou um trabalho notável. O ponto culminante do crescimento holandês corresponde à qualificação para o mundial FIFA Taiti 2013, alcançada com brilhantismo num torneio de grande nível realizado em Moscovo, no Verão de 2012. Patrick Ax era a figura maior da equipa, na qual o jovem Van Gessel começava a afirmar-se.

A sucessão deste primeiro êxito, no entanto, não seria a melhor. Ainda que integrada na divisão A europeia, a Holanda nunca voltaria a conseguir o apuramento para uma Superfinal, realizando prestações tímidas que acusavam a elevada média de idades do seu plantel. Também no Taiti a prestação da laranja mecânica não foi a melhor (ficou na retina a derrota por 2-0 diante das Ilhas Salomão na primeira partida), apesar do triunfo alcançado no último jogo perante a já qualificada Argentina. Mais tarde, e de forma algo inexplicável, a Holanda deixaria de participar nas provas europeias de futebol de praia, abdicando da sua inscrição na divisão A europeia. Só no ano passado, em 2021, a Holanda voltou a apresentar uma equipa de futebol de praia, começando praticamente do zero e apresentando resultados modestos. Conseguirá algum dia restaurar a grandeza histórica da geração anterior?


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