Gigantes desaparecidos do futebol de praia mundial
A História de futebol de praia é pródiga em exemplos de países que cresceram muito ao longo dos anos e, partindo como underdogs, acabaram por alcançar um estatuto de superpotência global. O mais recente exemplo será, provavelmente, a selecção da Bielorrússia, que participou nos dois últimos mundiais e é a actual vice-campeã europeia. Mas existem também casos de selecções que efectuaram o percurso inverso: potências da modalidade numa dada época que, por qualquer motivo, estagnaram e acabaram por ser ultrapassados por outras equipas. Vamos lançar um olhar a três casos flagrantes.
FRANÇA
É o caso mais emblemático de todos. Trata-se de uma formação que venceu o primeiro mundial FIFA, realizado na praia de Copacabana em 2005, na altura sob a liderança do carismático Eric Cantona. No entanto, com o passar dos anos, a França foi perdendo o fulgor, o que se traduziu num decréscimo de qualidade das prestações e resultados deficitários. O primeiro sinal chegaria em 2008, no Mundial de Marselha, em que a França não se apurou para as meias-finais. No ano seguinte, os gauleses não conseguiriam o apuramento para o mundial do Dubai em 2009 e desde então nunca mais marcariam presença na maior competição do futebol de praia do mundo. A juntar a isso, as prestações continentais da França deixaram muito a desejar, acabando mesmo por ser despromovida à divisão B da Liga Europeia em 2010.
A França ainda saltitou entre as divisões A e B durante alguns anos, acabando por beneficiar do alargamento da elite de 8 para 12 selecções, e por vezes ainda conseguiria marcar presença na Superfinal (recorde-se o êxito de 2015). Porém, a nação da Europa Ocidental jamais recuperaria o estatuto de superpotência europeia que granjeara nos velhos tempos, não obstante a qualidade indubitável de executantes como Basquaise, Barbotti, entre outros. Claramente, a França perdeu o comboio da evolução do futebol de praia europeu e, ao contrário de Portugal, Espanha, Itália e Suíça, não conseguiu adaptar-se ao crescimento da modalidade na região leste do continente. Conseguirá a França algum dia regressar aos tempos áureos?
ARGENTINA
Até 2015, as únicas equipas que tinham participado em todas as edições do mundial FIFA eram o Brasil, o Japão e a Argentina. Se os dois primeiros mantêm esse registo notável ainda hoje, o mesmo não se verifica com a selecção das Pampas, que desde então não voltou a marcar presença na prova e ano após ano tem acumulado prestações decepcionantes nas provas da CONMEBOL. Mas como se explica tão pronunciado declínio?
Na realidade, o futebol de praia nunca foi uma modalidade com grande expressão na Argentina, embora os resultados desportivos da selecção fossem positivos até aos primeiros anos da década passada. A geração dos irmãos Hilaire, de Minici, de Salgueiro, de Franceschini e Leguizamon resistiu durante muitos anos e acabou mesmo por fazer um brilharete em 2013, quando conquistou a qualificação sul-americana para o mundial, ou em 2015, quando derrotou o Brasil pela primeira vez na História. No entanto, a falta de bases patente na inexistência de uma liga doméstica que pudesse sustentar o crescimento da modalidade e a renovação estruturada da selecção rapidamente se reflectiu num descalabro de resultados, a começar pela prestação paupérrima no mundial de Espinho em 2015.
Desde então, a Argentina começou, timidamente, a investir nos quadros competitivos e novos clubes foram começando a surgir, com evidentes resultados ao nível da qualidade de jogo apresentada. No entanto, os 5 anos de desfasamento em relação ao Paraguai levaram a que a nação albiceleste perdesse o comboio do crescimento da modalidade na América do Sul e fosse ainda ultrapassada por países como o Chile ou o Equador. Mais recentemente, o Uruguai, que investiu na liga doméstica um pouco mais cedo do que a Argentina, já começou a colher os frutos desse processo, conseguindo o apuramento para os quartos de final do mundial em 2019 e 2021. Será que o actual investimento interno no país das Pampas se irá reflectir a curto prazo nos resultados alcançados pela selecção?
PAÍSE BAIXOS
Por fim, lançamos um olhar a uma equipa que praticamente desapareceu do panorama europeu da modalidade. Entre 2008 e 2014, comandados pelo emblemático Niels Kokmeijer, os neerlandeses averbaram alguns bons resultados e chegaram a integrar, ainda que de forma algo intermitente, a elite europeia da modalidade. O primeiro grande sinal de força chegou em 2008, quando a Holanda alcançou a Superfinal da Liga Europeia, onde derrotou a Suíça e a Rússia para alcançar a final, onde acabaria derrotada por Portugal. Nos anos seguintes, a Holanda continuou a progredir na modalidade e, embora apresentasse uma selecção algo envelhecida, realizou um trabalho notável. O ponto culminante do crescimento holandês corresponde à qualificação para o mundial FIFA Taiti 2013, alcançada com brilhantismo num torneio de grande nível realizado em Moscovo, no Verão de 2012. Patrick Ax era a figura maior da equipa, na qual o jovem Van Gessel começava a afirmar-se.
A sucessão deste primeiro êxito, no entanto, não seria a melhor. Ainda que integrada na divisão A europeia, a Holanda nunca voltaria a conseguir o apuramento para uma Superfinal, realizando prestações tímidas que acusavam a elevada média de idades do seu plantel. Também no Taiti a prestação da laranja mecânica não foi a melhor (ficou na retina a derrota por 2-0 diante das Ilhas Salomão na primeira partida), apesar do triunfo alcançado no último jogo perante a já qualificada Argentina. Mais tarde, e de forma algo inexplicável, a Holanda deixaria de participar nas provas europeias de futebol de praia, abdicando da sua inscrição na divisão A europeia. Só no ano passado, em 2021, a Holanda voltou a apresentar uma equipa de futebol de praia, começando praticamente do zero e apresentando resultados modestos. Conseguirá algum dia restaurar a grandeza histórica da geração anterior?