Um amor chamado Sainz

Rute RibeiroMarço 26, 20246min0

Um amor chamado Sainz

Rute RibeiroMarço 26, 20246min0
O GP da Austrália aqueceu o coração de qualquer Tifosi e com a Rute Ribeiro não foi diferente. Uma carta de amor a... Sainz Jr.

A maneira certa de ler este artigo é ao som de Smooth Operator, portanto procurem a música e carreguem no play antes de continuarem a leitura.

Quero começar por dizer que lamento por todos aqueles que decidiram não madrugar por estarem convictos de que seria mais um fim de semana de trauma com o hino dos Países Baixos. Carlos Sainz e Charles Leclerc recompensaram aqueles que o decidiram fazer e aqueceram o coração de todos os Tifosi espalhados pelo mundo.

Para quem leu este artigo de fevereiro sabia que eu tinha uma lista de sonhos para 2024 na F1 (e também a realidade que 2024 iria trazer) e à terceira corrida poder fazer check a um dos sonhos deixa-me demasiado feliz:

– Carlos Sainz a ter um último momento de “Smooth Operator” na Ferrari ✓

Atenção que não quero que este seja realmente o último, mas pelo menos já houve um em 2024 e a verdade é que até o próprio Carlos Sainz talvez o tenha considerado como sendo possivelmente o último, tendo em conta a mensagem de rádio no final da corrida em que pede para que Leclerc se junte a ele para celebrarem juntos.

Mas vamos lá, se isto é a história de um fim de semana mágico para qualquer adepto da Scuderia Ferrari (ou para pessoas que queriam apenas ouvir outro hino) temos que começar pelo princípio.

Esse princípio, e que torna tudo isto numa viagem ainda mais alucinante, foi a 7 de março, quando um Carlos Sainz febril, apareceu para os treinos livres do GP da Arábia Saudita. Realizou, sabe-se lá como, o 1º e o 2º treino livre, mas depois recebemos a notícia – Sainz estava com uma apendicite e seria operado de urgência, abandonando assim o GP.

Oliver Bearman assumiu o posto com muita categoria, fez Hamilton tremer quando quase o deixou de fora da Q3 e conquistou o 7º lugar, numa corrida em que o seu colega Leclerc subiu ao pódio para fazer companhia à dupla da Red Bull.

E depois disto surgiu a questão – estaria Sainz recuperado a tempo do GP australiano?

O espanhol acreditou que era possível, fez o impossível durante 2 semanas e foi considerado apto para correr pela sua equipa novamente.

Ele voltou com calma, fez os treinos livres (admitindo que se fosse preciso, seria o primeiro a dizer que não conseguia continuar), contou que devido à G-Force, sentiu realmente desconforto, tal e qual como Albon já lhe tinha dito, mas aguentou. Chegou a qualificação e apenas Max Verstappen conseguiu fazer melhor, mas pelo menos arrancava da fila da frente quando as luzes se apagassem no domingo.

E é aqui que entra o meu momento de típico Tifosi iludido. Eu acreditei a partir daquele momento que a vitória seria de Carlos Sainz e quando saiu a decisão sobre a penalização para Perez que levou Leclerc a subir para P4 na grelha de partida, acreditei também que teríamos os 2 Ferrari no pódio.

Uma previsão um pouco arriscada ou até louca para alguns, mas que mesmo assim partilhei no X do Away We Go.

E pronto, chegava a hora de madrugar e desta vez estava com um entusiasmo e um nervosismo diferentes, talvez por acreditar tanto que desta vez era possível. A volta de formação foi feita e eu no meu pensamento só repetia “Leclerc não te espetes nesta volta!”. Ocuparam as suas posições, esperaram que as luzes se apagassem e lá foram eles. Sainz acompanhou Max e à terceira volta aconteceu a ultrapassagem. Uma ultrapassagem “smooth” mas também fácil e veio logo de seguida a explicação – Max estava a perder o carro e vimos o nome dele cair a pique na tabela até abandonar. Esse momento proporcionou-nos aquele que para mim foi o melhor tweet feito durante a corrida:

A partir daí era simples – não bater com o carro, torcer para que o carro não avariasse e ir à box na altura certa. Estratégia válida para ambos os pilotos da Ferrari e no caso do Leclerc era o que me deixava mais preocupada – uma ida à box no tempo errado podia tirar-lhe o segundo lugar no final (qualquer Tifosi tem ainda traumas com estratégias erradas nesse setor e que custaram possíveis vitórias ao rapaz). Para Sainz foi mais tranquilo, a corrida parecia um passeio no parque e tudo se alinhava para ele ter o pódio dos seus sonhos ao concluir com sucesso as 58 voltas no circuito Albert Park.

Carlos Sainz viu então a bandeira de xadrez, pediu que Leclerc se aproximasse para celebrarem juntos, quase se esqueceu de nos cantar o seu Smooth Operator (obrigada a quem o lembrou), fez um discurso emocionado sobre a montanha russa que viveu nas últimas semanas, subiu ao pódio com os dois colegas que mais adora (daí ser o pódio dos seus sonhos), ouviu o hino do seu país, proporcionou-nos um momento incrível com toda a equipa da Ferrari a cantar bem alto o hino da Itália e mostrou-nos ainda a cumplicidade que tem com o seu pai que lá de baixo trocava olhares com ele, com um brilho que mostrava bem o orgulho que tinha, não só pela vitória do filho, mas pelo trabalho quase heroico que ele fez ao longo de duas semanas para poder terminar com aquele troféu nas mãos.

Carlos Sainz mereceu pisar aquele pódio. Os seus amigos também. Fica apenas na nossa imaginação como poderia estar a tabela se ele tivesse corrido o 2º GP, mas uma coisa é certa – afinal não estou preparada para me despedir. Este fim de semana deixou-me com sede de mais vitórias desta dupla (num ano em que se pensava que poderia não haver nenhuma), mas esta dupla tem um prazo e estamos a 21 GPs da separação. Não estou preparada para o ver noutras cores e sem Leclerc ao seu lado, mas espero que ele encontre um lugar numa equipa de topo, porque ele merece, porque tem talento e acima de tudo, porque Sainz na F1, provou com a garra que demonstrou nas últimas duas semanas, que é amor!


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