Fórmula 1 2023: Aí vem Las Vegas
A meros dias do grande prémio de Las Vegas, a Fórmula 1 (F1) caminha para mais uma corrida dominada pela Red Bull, entre o show que se espera assistir. Show no sentido americano. Boa música, boas coreografias e muito alarido- requer a subjetividade do leitor- todavia, o interesse em pista será diminuto. Não porque as atenções nas imediações do circuito se suplantam à atividade em pista, mas, pelo contrário, a atividade em pista não conseguirá captar a atenção do público. É uma aposta arriscada, mas justificada face ao passado recente.
O domínio da Red Bull é sucessivamente tão esmagador que à partida para cada fim de semana as atenções recaem para a luta pelo segundo lugar o que ,por si só, exemplifica o estado da F1 na presente temporada. Uma monotonia melancólica invadiu o seio do pináculo do desporto motorizado.
Quando comecei a acompanhar a competição, no frenético verão de 2019, era inconcebível, pelo menos para mim, antever o vencedor. Poderia ser a falta de conhecimento e a empolgação a falar mais alto sobrepondo-se à lógica? Poderia, ainda assim, não era só isso. O que me levou a apaixonar-me pela F1, a incerteza, a velocidade e, ainda que redundante, a paixão pela modalidade parece esvanecer-se por estes dias.
Os aficionados estão desgastados da certeza de domingo. E não a certeza de que há corrida, mas a certeza de quem a vai vencer. Não estou de todo a proclamar a morte da competição que sempre viveu momentos monótonos. É a sua essência. Vive de domínios que se eternizam na história como glórias para quem os alcança. Schumacher e a Ferrari – parceria idêntica a Verstappen e a Red Bull- estriaram o controlo quase total de cinco campeonatos seguidos.
À priori, qualquer jovem adepto dava tudo para assistir a esse domínio. Imagina as corrida vencidas pelo germânico. Recorre ao on demand para viver as melhores ultrapassagens e fala com os mais velhos para recordar o que nunca viveu, ou seja, venera quem outrora dominou. Ironia do destino, ou não, fá-lo enquanto vê Verstappen cortar a linha de meta à frente, vezes sem conta, alcançando o cume dos predestinados.
2021, naturalmente, ainda paira na memória. As corrida extremamente competitivas-começaram no Bahrain com a vitória de Hamilton e terminaram em Abu Dhabi com a primeira coroação de Verstappen- agarraram (no sentido figurado) as pessoas aos ecrãs da televisão, trouxeram juntamente com o “Drive to survive” novos fãs que se aproximaram da competição. Apaixonaram-se por uma F1 fantasiada. A F1 não é as rivalidades desmedidas, os confrontos criados entre pilotos e muito menos é o pós 2021. Não é a discussão e a clubite aguda.
Não é os impropérios e o irracional. É o respeito e a admiração. De resto, este é o tema central da F1 atual que parece cada vez mais apontar para um extremo difícil de contrariar. É necessário apelar ao diálogo e encarar o futuro. Mudar regras, despolitizar o regulamento técnico e desportivo e centrar o foco da competição no fã, aquele que permite a sua subsistência. Tornar verdadeiramente a F1 um desporto universal que ultrapassa qualquer estratificação social. A F1 tem o presságio de recordar o passado sem perspetivar, na mesma medida, o futuro.
Regressando ao tema inicial da presente reflexão, no momento em que caminhamos para 2024, mais do que nunca, avizinhasse uma época de domínio austríaco. O atraso das restantes construtoras face à Red Bull é difícil de recuperar em tal curto espaço de tempo. Assim, a ausência de grandes corridas, pelo menos na luta pela vitória, acompanhará a mudança de ano e de época desportiva. À semelhança do último domínio da Mercedes a Red Bull vai continuar a superiorizar-se ao adversário. Max vai continuar a vencer e a F1 vai continuar a perder interesse, até ao dia que vai tornar a ganhá-lo.
Até lá segue-se Las Vegas. As cinquenta voltas ao circuito de pouco mais de seis quilómetros vão completar o penúltimo grande prémio da temporada.