Destaques do arranque da temporada de basquetebol feminino universitário

Lucas PachecoOutubro 19, 20238min0

Destaques do arranque da temporada de basquetebol feminino universitário

Lucas PachecoOutubro 19, 20238min0
Lucas Pacheco diz-te os destaques deste início de temporada do basquetebol feminino universitário dos EUA e quem seguir

O calendário do basquete feminino nos Estados Unidos não dá trégua: menos de duas semanas após a conclusão da WNBA e a coroação da campeã, o circuito de basquetebol feminino universitário tem seu início, com as universidades dispondo de quase dois meses para montar livremente seu calendário. Em janeiro, as conferências começam a disputa e em março de 2024, o torneio nacional reúne a nata da primeira divisão do basquete feminino universitário.

Essa etapa formativa das atletas/estudantes congrega as maiores torcidas e rivalidades da modalidade; por incrível que pareça, as condições de trabalho são melhores nas universidades que no nível profissional. A liberação de remuneração para as atletas, em decisão do corpo burocrático organizador do circuito universitário, por marcas possibilitou o pagamento às atletas/jogadoras estrelas, diminuindo a pressão pelo reconhecimento do trabalho das atletas e amenizando as críticas ao sistema, lucrativo até então somente para as universidades. Outra reviravolta vivida nos últimos anos, vista com ressalva por muitos técnicos e técnicas, foi a permissão de múltiplas transferências, aumentando o trânsito e a formação de verdadeiros esquadrões; as atuais campeões, LSU (Louisiana State University), por exemplo, juntaram 3 dos principais prospectos desta geração, todas egressas do portal de transferência. Não se trata de exceção, mas da regra.

A universidade de Louisiana incrementou sensivelmente o investimento no basquete feminino, materializado pela contratação de uma das principais treinadoras da história da NCAA. A chegada de Kim Mulkey, saída de Baylor, impactou instantaneamente o programa e já no segundo ano à frente de LSU, Mulkey alcançou o inédito título nacional para a universidade de seu estado natal (o quarto individual como treinadora). Apoiada pelo recrutamento no portal de transferência e pela repercussão do título em 2023, Mulkey cercou a pivô Angel Reese de ainda mais talento – chegaram nada menos que a explosiva ala-pivô Aneesah Morrow (transferida de DePaul, onde acumulou duplos-duplos) e Hailey Van Lith (ala-armadora de carreira exitosa em Louisville).

LSU figura como a principal candidata ao título, com uma técnica excepcional e vencedora, 3 estrelas e grandes prospectos, além de manter peças chaves do título passado e incrementar uma classe promissora de calouras (destaque para a pivô Aalyah Del Rosario). O elenco precisará de tempo para se ajustar, favorecido pelo calendário sem grandes adversários dos dois primeiros meses. Em janeiro, porém, com a disputa da SEC, a conferência mais forte e física do país, as disputas devem pegar fogo. Se em 2023, LSU venceu o torneio nacional, restou pendente o troféu da conferência.

A proposta de basquete de Mulkey centra-se em poucos desperdícios de bola e um jogo mais cadenciado, de meia quadra, e muito físico. Será muito difícil conter Reese e Morrow nas tábuas, principalmente quando o time possui uma armadora capaz de controlar o jogo e arremessar de longe, como Van Lith. O encaixe pode até demorar; entretanto, LSU é fortíssima candidata a chegar ao Final Four do torneio nacional e qualquer outro resultado será visto como fracasso.

Dentro da SEC, a disputa será contra South Carolina. Após as formaturas do quarteto fantástico (Aliyah Boston, Zia Cooke,Brea Beal e Laeticia Amihere), responsável pelo segundo título da universidade em 2022, a técnica Dawn Staley precisará reconfigurar seu time. Diferente das últimos anos, SC iniciará a temporada sem amplo favoritismo e deve levar um tempo até o elenco encontrar a química ideal. Ótimo desafio para Staley, que perdeu boa parte do seu potencial ofensivo e terá que entrosar o forte esquema defensivo, carcaterística de suas formações.

Se por um lado, os desafios parecem demasiado altos, por outro a universidade recrutou novamente alguns dos principais nomes egressos do high scholl, como a explosiva ala MiLaysia Fulwiley. Também chegou um excelente nome via portal de transferência: a armadora (posição mais carente do elenco em 2022-23, quando somou uma única derrota na temporada, na semi-final do torneio nacional) Te-Hina Paopao, saída de Oregon. Dawn Staley construiu uma cultura vencedora em South Carolina. O acúmulo de talento nos últimos anos era tanto que alguns valores optaram por se transferir em busca de mais tempo de quadra; outros, porém, permeneceram e terão nesta temporada a chance de mostrar seu valor. Minha aposta, com uma dose de parcialidade, é que a pivô brasileira Kamilla Cardoso assumirá a liderança técnica da equipe e espera-se uma temporada de evoluçao absurda, após amargar dois anos na reserva de Boston.

Foto: Gamecast Central

Bree Hall (ala muito atlética), Raven Johnson (armadora organizadora), Chloe Kitts (ala-pivô que alia chute, força e tamanho) e Ashley Watkins (com flashes assustadores em pouco tempo de quadra em 2022) almejam a titularidade e manter o padrão de excelência da universidade. Um ‘work in procress‘, o time será bem diferente na proposta de jogo (Paopao utiliza muito o pick an roll, diferente das armadoras formadas), com mais espaçamento e mais espaço para Kamilla jogar no poste baixo – se a defesa mantiver o nível de intensidade, esse time chegará longe.

A universidade de Connecticut, maior vencedora da história, amarga uma seca de sete anos sem vencer o torneio nacional, período no qual a despeito dos elencos fortíssimos, as contusões grassaram as campanhas. Depois de dois anos, veremos a armadora Paige Bueckers em plena forma, pela primeira vez ao lado da excelente e completa ala Azzi Fudd. O técnico Geno Auriemma poderá, diferente dos últimos anos, usar bastante o banco, com a chegada de uma classe promissora de calouras, implantando seu sistema com as pivôs na cabeça do garrafão e muitos cortes para a cesta.

Se a equipe se mantiver saudável, a tendência é de crescimento e e;volução ao longo da temporada, com previsão de retornar ao Final Four. Em 2022-23, o time ficou fora após um bom período; à essa fase, chegaram Virginia Tech, de forma inédita, e Iowa, cpaitaneado pela geracional Caitlin Clark. Virginia Tech retornará suas duas principais estrelas (a armadora Georgia Amoore e a pivô Liz Kitley), mantendo a chama acesa; já Iowa chegará até onde sua craque solitária conduzir.

UCLA, outro tradicional programa, reforçou-se com outra fornada de boas calouras e manteve suas peças centrais. À armadora segundo anista Kiki Rice, ganhará o reforço da gigante pivô, transferida de Stanford, Lauren Betts, em busca de se firmar no cenário universitário. USC recrutou a principal caloura do ano, Juju Watkins, e tem se colocado no páreo para as novas estrelas do high scholl. 2023 pode não ser o ano da universidade, mas uma base bem forte está sendo montada e elas devem brigar nos próximos anos.

Para os fãs brasileiros, destaque para as universidade de San Francisco (com Débora Santos e Luana Leite) e Baylor (com Catarina e a caloura Lety Vansconcelos). Ambas buscarão chegar ao torneio nacional, com maior probabilidade para a tradicional Baylor; mais que resultados, valerá acompanhar o crescimento das atletas brasileiras.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS