Destaques do arranque da NCAA feminina 2022/2023

Lucas PachecoNovembro 24, 20227min0

Destaques do arranque da NCAA feminina 2022/2023

Lucas PachecoNovembro 24, 20227min0
Lucas Pacheco conta-te o que se tem passado no basquetebol feminino NCAA, a principal competição universitária desportiva nos EUA

O mundo do basquete feminino descansou nesta última semana. Na Europa, os torneios continentais de clube interromperam sua programação para disputa da segunda janela das qualificatórias para o Eurobasket de seleções. No Brasil, o Campeonato Paulista encerrou a fase inicial e terá confrontos para definição das duas semi-finalistas restantes. Nos EUA, seguindo o calendário na contramão do mundo, a principal liga universitária, a NCAA, começou a duas semanas e já está pegando fogo. O ranqueamento semanal gera muita polêmica, mas aponta tendências entre as universidades – que tal conhecer algumas delas e seu momento atual?

South Carolina e Stanford

As formações recentes das duas universidades criaram uma rivalidade com novo capítulo na semana passada. Enquanto Stanford, capitaneado pela ala-pivô Haley Jones, venceu a semi nacional em 2021 e pavimentou seu caminho rumo ao título, South Carolina safou-se do confronto contra seu algoz em 2022, quando Stanford foi eliminado na semi por Connecticut. Com os dois últimos troféus, a dupla apareceu desde o ranqueamento inicial como as principais forças da atual temporada.

Na semana passada, ambas se enfrentaram na costa oeste, em mais um episódio da crescente rivalidade. Nos bancos, o embate envolveu a técnica mais vitoriosa da história – Tara VanDerVeer – e Dawn Staley, que vem sedimentando South Carolina como uma potência. Dentro de quadra, as duas prováveis escolhas 1 e 2 do próximo draft da WNBA, com o adicional de Haley Jones e Aliyah Boston serem muito amigas.

Foi um embate excelente, que correspondeu a todas as expectativas criadas. Stanford deu a cartada inicial e, na frente desde muito cedo, manteve a dianteira durante todo o jogo. Para equilibrar nos rebotes, Stanford contou com boas noites de Jones, Cameron Brink e Ashten Prechtel; o elenco é tão forte no garrafão, que Fran Belibi e Lauren Betts jogaram pouco. Contendo o jogo interno de South Carolina, Stanford conseguiu impor seu ritmo de jogo, alternando as bolas longas com cortes para a cesta, áreas em que Brink dançou no primeiro tempo. Parte da recuperação de South Carolina contou com o acúmulo de faltas de Brink, reviravolta que deslanchou somente no último quarto.

Aos poucos, South Carolina se aproximou e silenciosamente Boston atingiu o duplo-duplo, tendo que escapar da marcação dupla imposta por Stanford. Ela foi a responsável por levar o jogo à prorrogação.

No tempo extra, South Carolina se impôs e abriu vantagem, vencendo o confronto entre as duas principais forças do momento por 76 x 71, fora de casa. O resultado manteve as comandadas de Dawn Staley na primeira posição do ranking, e deixou Stanford na segunda. Trata-se de duelo equilibrado, com todas as chances de se repetir no torneio nacional de março de 2023.

Stanford aplicou o desenho tático à perfeição, principalmente na defesa, e pecou no lado ofensivo no último quarto. A receita para vencer as atuais campeãs mostrou-se viável e, se aprimorar um pouco a pontaria (e Cameron Brink se mantiver em quadra, sem problemas com faltas), basta aplica-la em um possível próximo confronto. As lições para South Carolina foram mais doces, já que o time manteve-se perto do placar mesmo com atuações ruins do quinteto titular no começo da partida. Dawn Staley recorreu ao fundo de sua rotação, que respondeu à altura. Com tempo, as principais jogadoras entraram no jogo e conseguiram conquistar a vitória. Vai ser difícil bater essa equipe.

Uma estrela ascendente

Os prognósticos pareciam deprimentes para a poderosa Uconn após a contusão de Paige Bueckers e sua ausência durante toda a temporada da NCAA. Muitos apressados colocaram Uconn como um programa em declínio, dependente de uma única jogadora. Mal sabiam eles o pulo que Azzi Fudd demonstraria logo nos primeiros jogos.

Contra Texas, Uconn enfrentou uma equipe melhor posicionada no ranking e mostrou toda sua força com uma atuação magistral de Fudd – os 32 pontos marcaram a maior marca da jovem ala. Na partida seguinte, novo confronto top-10, desta vez contra NC State; mais uma vitória convincente de Uconn, lideradas por mais 32 pontos de Fudd e pelo recorde histórico de assistências em uma partida (a armadora croata Nika Muhl deu 15 passes para cestas).

A equipe não deu chances às adversárias e imprimiu uma intensidade rara no nível universitário. Azzi Fudd pontuou de todas as formas: nos chutes de três, a partir de infiltração, de média distância, em quadra aberta. Sem mencionar sua defesa. Nem tudo foram flores e há aspectos a melhorar; contra NC State, por exemplo, a equipe sentiu dificuldade na meia quadra, compensado pela transição ofensiva que passou por cima das adversárias.

Porém, para uma equipe desacreditada no início da temporada, Uconn e Geno Auriemma provaram mais uma vez seu valor. O calendário da universidade é forte e sua conferência da NCAA verá muito equilíbrio, principalmente contra DePaul e Villanova, oportunidades para Uconn se provar em alto nível. Se o início da temporada se mantiver, muitas equipes da WNBA ficarão atentas ao draft de 2025, quando Fudd deve se candidatar. Ela demonstrou, na largada da temporada, potencial para ser franchise player e uma cestinha em todas as áreas da quadra.

A decepção de Tennessee

Caminho contrário ao de Uconn vive a universidade de Tennessee neste arranque da NCAA: a técnica kellie Harper recrutou bons valores, cuja estrela é a longilínea e talentosa ala-pivô Rickea Jackson. Elas se juntaram a um núcleo bom, porém pequeno, fornecendo à comissão técnica peças há muito não vistas em Tennessee. As altas expectativas refletiram-se na posição do ranking, listada na posição 5 inicialmente.

Com seis jogos no calendário, a campanha é decepcionante: 2v e 4d. É verdade que os confrontos incluíram equipes fortes, como Ohio State, Indiana, UCLA; mas mesmo jogos menos equilibrados, como contra Gonzaga, resultaram em derrota. Ainda pior que o resultado é a estagnação apresentada em quadra: o time depende das infiltrações de Rickea e de Jordan Horston, ou do chuveirinho no poste baixo para as pivôs. Pouco para um equipe que pretende retomar seu lugar no topo do basquete universitário.

A estreia contra Ohio State foi exemplar; o time saiu na frente e mantinha a dianteira, até sucumbir à pressão quadra toda das adversárias. Tennessee mal conseguia ultrapassar a metade da quadra e os turnovers seguidos recolocaram Ohio State no jogo, que passou por cima e abriu vantagem. Tudo isso sem que a técnica Kellie Harper organizasse sua equipe.

O time terá muito trabalho pela frente nesta NCAA.

Uma brasileira em destaque

Não, não se trata da pivô campeã da NCAA da temporada passada por South Carolina. Kamilla Cardoso segue vindo do banco e contribuindo de forma inconsistente; a uma grande exibição contra Maryland, obrigando a técnica Dawn Staley a mantê-la ao lado de Aliyah Boston, seguiu-se de jogo mediano contra Stanford.

O destaque brasileiro é a pivô Stephanie Soares, estreante na NCAA, vindo de transferência para Iowa State após se destacar em uma liga menor (NAIA). Stephanie encaixou de forma imediata no time, alcançando o posto de segunda cestinha no início da temporada; seu basquete inteligente encaixou perfeitamente a uma equipe veloz, com grande espaçamento e que carecia de uma referência interior.

Após quatro jogos, Stephanie já aparece em listas do próximo draft da WNBA e vem chamando a atenção de todos os especialistas. Nada novo para o público brasileiro, acostumado a Stephanie desde o Pan de 2019; quem se surpreende é o público norte-americano, para quem Stephanie era até então uma desconhecida. Com muita temporada pela frente, Stephanie pode ser a peça que faltava para Iowa State sonhar mais alto.


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