Chegou a hora dos pré-olímpicos de basquetebol feminino

Lucas PachecoFevereiro 8, 20247min0

Chegou a hora dos pré-olímpicos de basquetebol feminino

Lucas PachecoFevereiro 8, 20247min0
É altura de decidir quem vai aos Jogos... Lucas Pacheco com a antevisão dos pré-olímpicos de basquetebol feminino aqui no Fair Play

Daqui a uma semana, conheceremos todas as seleções classificadas para as Olimpíadas de Paris no basquete feminino. EUA (campeã mundial e olímpica) e França (país sede) já têm suas vagas garantidas e disputarão seus respectivos classificatórios apenas para cumprir tabela. A Fiba decidiu manter o formato de classificação dos Jogos anteriores e realizará, entre os dias 08 e 11, quatro quadrangulares, valendo as dez vagas restantes.

A conta é simples: cada quadrangular assegura 3 vagas, restando eliminada a lanterna de cada um dos torneios. O mundo do basquete feminino aguarda com ansiedade as partidas, cujo desenlace pode significar a glória ou o fracasso. Vamos olhar cada um dos grupos e analisar o que podemos esperar.

Xi’an (China)

O grupo sediado na China não parece reservar grandes surpresas. As anfitriãs mantêm o mesmo núcleo do Mundial de 2022, quando igualaram a melhor campanha da história ao atingir a final e conquistar a prata. A bem da verdade, o futuro é brilhante para as chinesas, cujo elenco possui idade para mais uma década de dominância. As pivôs Han Xu e Li Yueru (24 anos) formam as torres gêmeas, a despeito da opção tática de não compartilharem tempo de quadra; a armação segura da dupla Wang Siyu e Yang Liwei complementam e equilibram a equipe, fechada pela talentosa Li Meng. As três do perímetro atingiram os 28 anos.

Elenco que brigará por medalha e pela oportunidade de desbancar as estadunidenses em Paris. A classificação é questão de tempo. Diferente das chinesas, as francesas já têm vaga e usarão a competição para testar jovens promessas e fortalecer o trabalho coletivo, em falta nos torneios mais recentes no nível mundial. O técnico Jean-Aimé Toupane ainda não transmitiu para a quadra todo talento formado na França, em sucessivas gerações cada vez mais talentosas. A longo prazo, a França destoa como a mais capaz (juntando talento, estrutura e continuidade) de derrotar os EUA, feito longe de ser realizado se considerarmos o desempenho recente.

Somente uma catástrofe tirará a vaga chinesa; sobra a última vaga, que deve ser disputada no confronto direto entre Porto Rico e Nova Zelândia. Num primeiro momento, à época do sorteio, a partida era encarada sem favoritismo, realidade diferente à atual – a contusão de Charlise Leger-Walker, armadora e protagonista neo-zelandesa, muda o eixo do time, retirando a faísca individual capaz de desmontar a defesa porto riquenha. Outro esteio da seleção, Penina Davidson, tampouco estará na China e, de repente, a promissora seleção da Oceania viu-se como azarão. O objetivo de retornar às Olimpíadas, ausente desde 2008, ficou mais longe.

https://twitter.com/WSUCougarWBB/status/1752769477744459953

Do outro lado, Porto Rico apostará no exitoso estilo que o levou à estreia olímpica em Tóquio: volume ofensivo, com liberdade para suas principais estrelas (Arella Guirantes e Mia Hollingshead) chamarem o jogo para si. A segunda participação nos Jogos está fadada a se concretizar.

Antuérpia (Bélgica)

Mais um grupo com ‘cartas marcadas’, uma vez que EUA e Bélgica figuram no topo da modalidade há bons anos. Tal qual a França, os EUA usarão o torneio como teste para ampiar o grupo de convocáveis; a Bélgica vem da inédita conquista europeia e de boas participações em Mundial e Olimpíada. Irá jogar em casa, com apoio da torcida, e nem a rotação enxuta deve impedir a fácil classificação. Independente do resultado, o duelo entre belgas e estadunidenses vai ser um teste de fogo para mabas as equipes.

Completam o grupo as africanas Nigéria e Senegal; quem vencer a partida entre elas garante a vaga. Embora um clássico do continente, o retrospecto recente pesa em favor das nigerianas, atuais tetra campeãs do Afrobasket, vencendo (em três dessas quato ocasiões) justamente as senegalesas.

https://twitter.com/DtigressNG/status/1753191292308201625

A Nigéria passa por mudança das referências técnicas, o que não diminui seu favoritismo. Uma seleção que vem dando trabalho para as seleções dominantes e cujo atleticismo incomoda formações menos móveis. Por essas razões, parece improvável a eliminação nigeriana.

Sopron (Hungria)

Se os dois quadrangulares anteriores possuem favoritas evidentes, nos dois grupos restantes reina a incerteza. Ambos poderiam receber a alcunha de ‘grupos do morte’; comecemos pelo sediado na Hungria, que contará ainda com Canadá, Japão e Espanha.

O Canadá cresce ano após ano, com fornadas de jogadoras testadas e formadas em consonância com o sistema estudunidense. Recentemente, a federação apostou na renovação do técnico e contratou o vitorioso Victor Lapeña; no Mundial de 22, a seleção chegou à semi-final e não faturou medalha por um triz. O mesmo núcleo voltará a vestir o uniforme alvirrubro, mais experiente e com novas jovens em busca de lugar. Embora sem uma grande estrela, o conjunto é fortíssimo, com boas peças de reposição em todas as posições, e muito tempo jogando junto.

Dispensável apontar os êxitos espanhóis no basquete; uma vez estruturada a formação, testemunhamos evolução gradativa a cada competição. A seleção passou por mudanças importantes nos últimos anos, mas o vice europeu em 2023 demonstra que a nova geraçao está mais que pronta para assumir o protagonismo. Com defesa pressionada e ofensiva, a Espanha ressente-se de uma pontuadora mais habilidosa, capaz de criar seu prório arremesso em situações de final de posse. Nem sempre o jogo tático produz pontos e a naturalização de Megan Gustafson pretende amenizar essa lacuna.

Outra seleção ascendente do grupo é a atual vice olímpica; o Japão implementou um jogo fluido, que congrega suas características físicas ao estilo tardicional de jogo, chegando por uma via única ao que mais moderno se pratica atualmente na modalidade. Muitos chutes de três, com ótimo aproveitamento, criados a partir de movimentação sem a bola, cortes incessantes para a cesta e com pivôs baixas, móveis e muito inteligentes. A saída do técnico Tom Hovasse trouxe impacto na competição seguinte e o estilo vistosoda Olimpíada não se apresentou no Mundial em 22, quando a equipe sequer chegou às quartas. O elenco, porém, segue o mesmo, com mais tempo para o técnico Toru Onzuka encaixar seu estilo.

Por fim, as donas da casa, que jogarão empurradas pela apaixonada torcida de Sopron. A Hungria não participa de torneios mundiais há bastante tempo (desde 1998), mas os frutos da formação cuidadosa enfim chegaram à categoria adulta. No último europeu, a seleção ficou com a honrosa quarta colocação, demonstrando o potencial da atual geração. O time pratica um basquete cadenciado, compartilhando a bola, com destaque para as pivôs Bernadett Hatar e Virag Kiss.

Na teoria, a Hungria é a menos cotada para a vaga, mas não podemos desconsiderar o fator casa e o ânimo de uma geração em crescimento. Qualquer resultado no grupo pode acontecer e a vaga deve ser decidida nas posses finais da partida derradeira. Três escolas bem diferentes (americana, europeia e asiática) frente a frente, com resultados inesperados – aguardemos ótimos jogos e muita emoção.

Belém (Brasil)

Pedirei licença às análises e deixarei a emoção falar mais alto. Em um grupo com Austrália (potência na modalidade), Sérvia (seleção muito constante e experimentada) e Alemanha (com a melhor jogadora do grupo), aposto/torço pela classificação das donas da casa, o Brasil. Destrinchamos bastante as seleções e os confrontos deste quadrangular nos últimos meses. Agora, chegou a hora da verdade e a torcida deste escriba paira sobre a seleção brasileira, ansiosa por retornar às Olimpíadas. Que o calor de Belém contagie o elenco e dê tranquilidade para acionarmos nosso garrafão, principal elemento para o Brasil.

Foto: FIBA

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