Mais umas notas sobre a WNBA 2023

Lucas PachecoAgosto 4, 20239min0

Mais umas notas sobre a WNBA 2023

Lucas PachecoAgosto 4, 20239min0
Lucas Pacheco traz mais algumas notas sobre a WNBA 2023, que tem tido grandes momentos desde o início da época

A temporada regular da WNBA 2023 encaminha-se para o terço final e a principal pergunta do ano segue a mesma: alguma equipe será capaz de bater de frente com o Las Vegas Aces? O time comandado por Becky Hammon não mostra sinais de perda de tração, nem sequer a contusão e o afastamento (por tempo indeterminado) da lenda Candace Parker impactou o conjunto; ao contrário, está cada vez mais entrosado e aumentou o ritmo.

O Aces caminha para uma temporada histórica na liga, com índices impressionantes de eficiência, volume ofensivo, diferença nos placares, chutes de três etc. Se a defesa adversária opta em congestionar o garrafão, abre espaço para Kelsey Plum e Jackie Young. Plum, após um começo hesitante, engrenou e subiu seus percentuais em relação ao ano passado; Jackie Young segue imparável em sua evolução, crescendo ano após ano. Com 47,3% nos arremessos de três, ela se coloca num seleto rol na história da liga.

O que dizer de Chelsea Gray? A armadora, mais clutch do momento, esquadrinha a quadra como poucas e antecipa as movimentações; seu tamanho e força permitem passes lindos, de ângulos insuspeitos. Se não fosse pouco, A’ja Wilson voltou à disputa de MVP, sendo escolhida a jogadora dos últimos dois meses da conferência oeste. O teste de olho surpreende ainda mais, com um domínio raras vezes visto no esporte.

Felizardos os espectadores que podem desfrutar de um conjunto tão bem montado, praticando o fino do basquete noite após noite, confronto após confronto. Era o esperado antes da temporada e, nesse nível de atuação coletiva e individual, difícil vislumbrar outra equipe batendo o Aces em uma série de playoff. O que mantem a expectativa é o fato do principal (único?) concorrente ainda buscar o melhor ajuste.

Las Vegas Aces e New York Liberty farão a final da Comissioner’s Cup, em jogo único, e duelarão mais duas vezes pela temporada regular. Ou seja, há disputa, mas ela dependerá do crescimento do Liberty, notada no último mês devido à melhora da pivô Jonquel Jones. Única franquia com talento individual comparável ao Aces, o Liberty vem aprimorando seu jogo coletivo, menos dependente de atuações monumentais de Breanna Stewart (outra candidata a MVP). Sabrina Ionescu explora cada vez mais a gravidade de Breanna, assim como Jonquel, mais ativa no ataque; ela tem explorado o jogo no poste baixo, além de manter a movimentação de bola quando posicionada no perímetro.

Resta saber se haverá tempo suficiente para o Liberty encurtar a distância.

Por falar em marcas históricas

As estatísticas explicitam a evolução do jogo e das jogadoras. Ninguém melhor que Alyssa Thomas para derreter recordes. A jogadora do Connecticut Sun anotou seu quinto triplo-duplo na temporada, segundo consecutivo, ampliando a liderança histórica no quesito. Seus feitos não possuem equivalência na WNBA e temos que recorrer a estatísticas de uma liga muito mais antiga (com 8 min extras de jogo por partida), como a NBA, para dimensionar os feitos de Thomas.

Thomas lidera a liga em rebotes (10,2) e assistências (8,2) por jogo, enquanto encarrega-se de armar seu time, suprir a ausência da pivô titular (Brionna Jones, fora da temporada) e ancorar a segunda melhor defesa da temporada. Nada mau para uma jogadora que rompeu o tendão de Aquiles dois anos atrás e que engata a WNBA à temporada europeia.

Em um time reformulado, com mudança na direção e comando técnico, que perdeu três titulares do ano passado, Alyssa é a principal razão do Connecticut Sun ocupar a terceira posição na tabela. A competitividade da equipe passa pela alma de Thomas, a terceira candidata a MVP. A equipe parece não ter condições de disputar contra Aces e Liberty, o que não diminui em nada o tamanho do ano de Thomas. Convem não menosprezar uma equipe com tal liderança.

O bloco intermediário

A temporada tem as cartas marcadas na disputa pelo título, sem diminuir a luta no bloco intermediário. Dallas Wings, Atlanta Dream, Minnesota Lynx e Washington Mystics dificilmente vencerão uma série de playoff contra Aces e Liberty, mas pelejam para evoluir e desenvolver seus núcleos jovens. O Mystics escapa dessa definição, já que possui rodagem de sobra; porém, as contusões têm grassado as ambições da equipe. Sem Elena Delle Donne, cuja carreira poderia ter outro patamar sem as ausências, o time não chegará longe.

Wings, Dream e Lynx evoluíram durante a temporada e parecem no caminho certo rumo ao futuro. Embora eu nutra críticas sobre a reconstrução do Lynx, com escolhas duvidosas e contratos pesados, é inegável a capacidade da técnica Cheryl Reeve em estrutura uma equipe. A cada dia que passa, fica mais evidente o centro sobre o qual construir suas peças, de olho num futuro próximo: Napheesa Collier com desempenho próximo ao das três candidatas a MVP e com a adição da caloura Diamond Miller.

Miller cresceu tanto em importância que já ameaça o título de ROY (rookie of the year, estreante do ano), que parecia nas mãos de Aliyah Boston. A ala encontrou o alcance nos arremessos, alguns em situações delicadas, como na equilibrada vitória sobre o Liberty, fora de casa.

Se não fosse suficiente, a envergadura e habilidade para atravessar a quadra destoam e trazem características que faltavam ao Lynx em anos anteriores. Com mais uma peça de calibre similar a Collier e Miller, de preferência na armação, o time voltará a disputar títulos.

O Dallas Wings encontrou seu ritmo e com um quinteto poderosíssimo derrotou o Aces. Faltam peças do banco, falta uma defesa mais consistente, mas o talento está lá e a evolução de Satou Sabally traz novos ingredientes à equipe. O Atlanta Dream segue na mesma linha, com a dupla de alas (wings) Rhyne Howard e Allisha Gray no domínio das ações; é pouco para almejar o topo, mas o trabalho tático empolga – sem contar que a equipe contará com ótima posição no próximo draft, cotado como um dos melhores de todos os tempos.

Teremos que aguardar os próximos passos dessas franquias; enquanto isso, elas se engalfinham por posições melhores na tabela da atual temporada.

GOAT faz isso?

Não bastava Sophie Cunningham, agora também Diana Taurasi tem aprontado. A bem da verdade, ela sempre gostou do jogo de provocação e enquanto consolidava seu nome entre os melhores da história da WNBA, também acumulou diversas polêmicas. A última foi um lance desnecessário, e sujo, contra Marina Mabrey.

DT abusa da condescendência da alcunha de ‘GOAT’. Nem a liga, nem a mídia e tampouco os árbitros parecem capazes de contestar as atitudes de Taurasi.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS