Dois sopros na base do basquete brasileiro
O basquete brasileiro, especialmente o feminino, encontra-se no ocaso faz uma boa década. Quando nos deparamos com gerações menos talentosas, as esperanças projetam-se para o futuro, com grande expectativa nas seleções de base. Tampouco esse recurso estava disponível à torcida brasileira que, além da ausência da seleção adulta de Mundiais e Olimpíadas, também vinha amargando péssimos resultados na base.
Em 2022, no sub 15, uma vexatória terceira posição, após perder para Colômbia (75 x 78) na fase de grupos e para a Argentina na semi-final. Não somente o placar com ampla vantagem, 37 x 60, mas um conjunto cujos atributos atléticos (mais elevados que qualquer concorrente no torneio) não escondeu os graves problemas de fundamentos. Antes o Brasil era figurinha carimbada como campeã, distância que diminuiu com a crescente rivalidade argentina e que decretou a pavoroso campanha no Sul-Americano.
Sob direção da técnica Luciana Thomazini, esse mesmo grupo viveu nova decepção alguns meses depois, quando perdeu a vaga para o Mundial sub 17 numa derrota nas quartas-de-final da Copa América sub 16 para Porto Rico, 49 x 57. Os mesmos problemas foram revividos, sem que nenhum aspecto coletivo, tático ou técnico apresentasse evolução. A equipe penava para sair de marcação pressão quadra inteira e, quando passava a meia quadra, com pouco tempo no cronômetro, se via obrigada a forçar arremessos. O resultado não podia ser diferente e mais uma vez o Brasil não se classificou para o Mundial sub 17.
No fatídico confronto contra as proto riquenhas, mesmo com nível técnico baixo, o Brasil entrou no último quarto na frente do placar. O requinte de crueldade contra a seleção apareceu na jogada, executada à exaustão sem que a técnica brasileira tenha adotado um antídoto, de pick-and-roll da ala Desirek Nieves; o Brasil não conseguiu marcar uma jogada simples e teve que se contentar com a sexta colocação (num universo de 8 equipes).
Um mês depois, em julho de 2023, foi a vez da seleção sub 19 decepcionar e amargar a 14 colocação no Mundial, com apenas uma vitória. Dseta vez comandada por Adrianinha, o elenco absorveu parte da geração mais nova, em uma tentativa da confederação de acelerar o crescimento e dar rodagem e experiência internacional. Se o presente não animava, o futuro parecia ainda mais nublado.
Assim, as perspectivas para o Sulamericano sub 17, no final de novembro, não eram altas; seria o mesmo elenco, com a espinha dorsal dos fracassos recentes. João Camargo, assistente da seleção adulta e técnico do Sesi Araraquara, campeão da última LBF, foi nomeado técnico – e a aposta mostrou-se exitosa. A bem da verdade, a CBB já o escalara para uma seleção de base: em 2021, ela comandaria o Brasil no Mundial sub 19, porém nem a CBB acreditava que ele levaria sua equipe à final da LBF e a confederação, em meio à sua habitual desorganização, viu-se obrigada a cnvocar outro técnico, de última hora.
A situação quase se repetiu, uma vez que o Sesi disputa o Campeonato Paulista; sua classificação antecipada à semi-final possibilitou que João Camargo se apresentasse às vésperas da competição. Sua presença mostrou-se essencial na conquista do ouro. Jogadoras desacreditadas nas copetições anteriores mostraram evolução técnica, como a armadora Micaela, e o conjunto evoluiu de forma inesperada. Ainda com dificuldades técnicas, que carecem de refino (22,6 turnovers por jogo permenece um número alarmante), a equipe encontrou meios de vencer: a Argentina na fase de grupos (75 x 67), a Venezuela na semi (71 x 61) e a Colômbia na final (65 x 55).
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Alexia Dagba foi eleita a MVP do torneio, figurando ainda no quinteto ideal ao lado de sua companheira Manuella Alves. Não foi uma conquista fácil, mas a vitória trouxe otimismo a uma geração que apareceu sob o signo da derrota, com nova leva de expectativa. Manu possui ofertas de diversas boas universidades norte-americanas; Sther Ubaka possui uma explosão e atleticismo raros; Micaela conduziu o time muito bem e subiu seu aproveitamento de três para 50%. A mudança do técnico mudou o rumo da geração; longe de significar a saída do fundo do poço, sinaliza um passo rumo aos grandes torneios e a lugares honrosos.
Sabemos que o caminho é longo, que exige investimento e planejamento estratégico. Os problemas estão presentes ao longo de todo o carcomido a antiquado sistema de basquete no Brasil, desde a prática escolar e esportiva, até os poucos clubes, e avança até o profissional, que não oferece condições dignas de trabalho. Não existe solução fácil e rápida.
Nesse sentido, de uma evolução gradual e uma mudança de mentalidade, o maior legado da gestão de Magic Paula na confederação, o Brasileirão sub 23, teve a fase final disputada no começo deste mês. Aos 23 anos, na Europa, as jogadoras já estão na rotaçõa dos times adultos, nos Estados Unidos são calouras na WNBA. No Brasil, porém, poucas seguem no esporte e, as que permanecem, não encontram meios de se desenvolver e assumir protagnismo nos clubes. O torneio, em sua terceira edição, visa oportunizar chances a essas jogadoras. Um oásis em meio ao caos do basquete feminino brasileiro.
A competição vem cumprindo com seu objetivo e embora os destaques da edição recém-finalizada sejam nomes conhecidos, presentes nas outras edições, elas ainda não se consolidaram no adulto. Assim, o torneio serve como uma vitrine. E a competição viu um camapeão inédito: a tradicional equipe de São José dos Campos venceu as favoritas de Catanduva na final por 54 x 48. São José disputou o Paulista adulto, com a base do sub 23 acrescida de Alana, Patty (passagens recentes pela seleção) e Glenda; a torcida agora é pelo retorno à LBF.
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Catanduva é praticamente o time de Pindamonhangaba da edição passada e possuía o núcleo mais experiente da competição. Novamente o destaque ficou com a pivô Adrielly, dominante na base, mas que sem evolução defensiva permanecerá sem tempo de quadra no adulto. Depois da liderança na fase classificatória, era o mais cotado ao ouro, ainda mais disputando em casa – não funcionou.
Pinda ficou na terceira posição, com destaque para o retorno da ala-pivô Isabela Costa, após a recuperação de uma séria lesão. Blumenau, equipe da LBF, disputou sua primeira edição e finalmente vimos em quadra suas pratas-da-casa – o destaque, porém, recaiu novamente em Brenda Bleidão, uma explosiva e destemida ala que precisa de espaço no adulto.
Em meio à queda, conseguimos visualizar no último mês uma luz. Ainda fraca, que atua em pontos específicos do basquete feminino, sem afetar o sistema como um todo. Porém, para quem se acostumava com derrotas para Argentina e Colômbia, as vitórias recentes não deixam de trazer bons ventos à modalidade.