A inesperada ascensão do Dallas Wings rumo aos playoffs

Lucas PachecoAgosto 10, 20227min0

A inesperada ascensão do Dallas Wings rumo aos playoffs

Lucas PachecoAgosto 10, 20227min0
É a equipa sensação desta temporada da WNBA e podem sonhar com algo de especial nos playoff: fica a conhecer as Dallas Wings

Logo no início da temporada, cinco equipes assumiram a dianteira e permanecem nessas posições no final da fase regular da WNBA. Elas trocaram de posições, como o Las Vegas Aces que caiu para a segunda colocação, sendo ultrapassado pelo atual campeão, o Chicago Sky. Connecticut Sun, Seattle Storm e Washington Mystics completam o quinteto de favoritas absolutas ao título. Às beiras da pós-temporada, elas se mantem no topo, lutando nas três rodadas finais para fugir do único confronto da primeira rodada do playoff que envolverá duas das cinco favoritas (4ª e 5ª colocadas, com mando de quadra da equipe melhor posicionada).

No lado diametralmente oposto da tabela, o Indiana Fever cumpriu as expectativas e atingiu com sobras a lanterna. As seis equipes restantes (metade do total de times) fazem uma luta esganiçada pelas três vagas restantes nos playoffs; cada uma delas teve seu momento e subiu na tabela, para logo em sequência retornar à inconstância e voltar a cair. Apenas uma vitória diferencia as campanhas do atual sétimo (Atlanta Dream, 14v e 19d) ao décimo-primeiro (Los Angeles Sparks, 13v e 20d) – com as três rodadas restantes, tudo pode acontecer.

Quem conseguiu se distanciar dessa disputa e garantiu a classificação na noite de segunda-feira foi o Dallas Wings. A equipe engatou cinco conquistas consecutivas e finalmente as vitórias (17) superaram as derrotas (16) – a sequência conta com vitórias sobre as duas líderes do torneio (Sky e Aces) e, o mais impressionante, sem contar com suas duas principais jogadoras, Arike Ogunbowale e Satou Sabally.

Se no primeiro momento a contusão de ambas parecia definir o destino indesejado da equipe, as soluções encontradas no próprio elenco mostraram-se acertadíssimas – e o time simplesmente deslanchou. Teaira McCowan, a gigante pivô, já havia assumido a titularidade, empurrando Isabelle Harrisson para o banco e garantindo pontos fáceis no garrafão, além dos rebotes e da profusão de faltas que ela gera.

McCowan, apesar da curta carreira (4ª temporada), possui um perfil bem delimitado e estudado – uma força no garrafão, capaz de produzir duplos-duplos cavalares, com grave deficiência quando obrigada a marcar no espaço, fora da área pintada. Desde o draft em 2019, quando escolhida na terceira posição pelo Indiana Fever, suas características forçam a ajustes táticos, movimento que a então técnica do Fever, Marianne Stanley, não se dispôs a fazer.

A proposta de jogo mais “moderna”, com rápida movimentação de bola e jogadoras espaçadas no perímetro, não se encaixou com McCowan, trocada para o Dallas Wings antes da atual temporada. Vickie Johson, comandante do Wings, tampouco promoveu alterações substanciais em sua proposta de jogo e McCowan começou sua carreira em Dallas vindo do banco.

A pivô é peça fundamental na sequência positiva, que praticamente garantiu a 6ª posição na tabela. Sem Sabally (inconstante ao longo de toda a temporada, em parte devido às contusões), a equipe definiu-se ao redor da voluptuosa ala Arike Ogunbowale, cestinha voraz não muito afeita à defesa e com eficiência incondizente com seu status de franchise player. Vickie Johnson promoveu Marina Mabrey ao quinteto titular, dando mais poder de fogo à pontuação e uma companheira capaz de desafogar Ogunbowale no ataque; o contrapeso foi sacar as armadoras de ofício e desguarnecer o lado defensivo.

O resultado dessa formação foi uma campanha oscilante, alternando jogos animadores com outros decepcionantes, sempre ancorado na pontuação e no altíssimo volume de jogo de Ogunbowale. A entrada de McCowan começou a mudar esse quadro, acelerado pela contusão de Ogunbowale, substituída pela armadora caloura Veronica Burton.

De repente, todas as expectativas sobre um elenco jovem e promissor se concretizaram. Com o quinteto Burton-Mabrey-Allisha Gray-Kayla Thornton-McCowan, a equipe deslanchou, com acertos impensáveis algumas rodadas atrás. Com três defensoras de elite (Burton, Gray e Thornton), os problemas de mobilidade de McCowan restaram escondidos; com uma armadora mais organizadora, as funções se estabilizaram e Mabrey pôde se dedicar ao que faz de melhor: arremessar e pontuar, principalmente perto do estouro do cronômetro. Com Thornton na posição 4, McCowan tem espaço para se estabelecer no garrafão e pedir bola, sem trombar em sua companheira. A faísca demonstrada na vitória sobre o Sky se prolongou para os outros jogos e a equipe garantiu a vaga nos playoffs na vitória suada contra o New York Liberty, por 86 x 77.

Essa partida foi exemplar dos solavancos vividos pelo Wings na temporada e da reviravolta no terço final da campanha. Após um primeiro quarto dominante, vencido por 24 x 13, em que McCowan se impôs no garrafão, a equipe sofreu nos dois quartos seguintes e viu o Liberty assumir a dianteira no placar. Curioso que Vickie Johnson recorreu a uma estratégia diferente para virar novamente a partida: as armadoras Burton e Ty Harris quase não entraram no segundo tempo, sendo substituídas por uma formação mais alta, composta por McCowan/Harrisson, Thornton e Awak Kuier.

Muitas críticas foram endereçadas a Vickie Johnson pela bagunça nas rotações do elenco (a maioria justa, diga-se de passagem), mas ontem surtiu o efeito esperado, ajudada pela exibição de gala de Marina Mabrey no segundo tempo – pontuação máxima em sua carreira, com 31 pontos e 61% no aproveitamento de quadra. O Liberty conseguiu conter McCowan no garrafão por parte do jogo (a importância de Stephanie Dolson nessa tarefa saltou aos olhos), aproximou-se no placar, e ainda assim o Dallas conseguiu retomar o bom basquete e conquistar a vitória no último quarto (vencido por 23 x 13).

Os ajustes tiveram efeito cascata e jogadoras relegadas a poucos minutos vêm conquistando seu espaço na rotação, casos de Veronica Burton (cada vez mais forte no quinteto de calouras da temporada), Awak Kuier (outra defensora feroz) e Ty Harris – vindo do banco, ela finalmente dá mostras de pertencer à liga, trazendo pontuação na média distância e ritmo na transição ofensiva.

Mesmo com uma trajetória inconstante, o Dallas classificou-se pelo segundo ano consecutivo aos playoffs, subindo uma posição do ano passado. O caminho pode ter sido tortuoso, mas o resultado atingiu as expectativas de crescimento e evolução. Impossível deixar de citar uma constante na campanha: Allisha Gray, sempre disposta a se sacrificar pelo bem coletivo, responsável pelo trabalho sujo e pelo papel de coadjuvante. Independente da formação, Gray está lá, sendo a peça mais consistente da equipe.

Resta saber qual versão do Wings aparecerá na pós-temporada. Se Ogunbowale voltar, todos esses ajustes podem retornar à estaca zero; por outro lado, como deixar na berlinda a jogadora mais cara do elenco, a qual assinou a prorrogação do contrato pelo valor máximo antes do início da temporada? De qualquer forma, Vickie Johnson terá mais três jogos da fase regular para buscar o equilíbrio. Caso chegue com a mesma formação e o mesmo ânimo da reta final, o Dallas será um adversário dificílimo, contra quem quer se seja.

Talvez seja cedo para igualar o Dallas às cinco favoritas. Porém, a temporada passada deu mostras do equilíbrio da WNBA, em que o campeão avançou aos playoffs na sexta posição, deixando pelo caminho equipes melhor colocadas. A faísca que o Wings precisava foi produzida e o time chegará embalado; após se desembaraçar da luta pelos playoffs, o próximo passo é diminuir a distância com o pelotão da frente.

Restam apenas três partidas para cada equipe, em oposição ao muito que estará em jogo. Razões para acompanhar a última semana da fase regular não faltam!


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