As controvérsias do Kobe & Gigi Bryant WNBA Advocacy Award

Isabella MeiFevereiro 27, 20234min0

As controvérsias do Kobe & Gigi Bryant WNBA Advocacy Award

Isabella MeiFevereiro 27, 20234min0
A WNBA vai colocar um novo troféu encima da mesa, mas a identidade da liga continua parada entre dois mundos

No último domingo, 19, durante o All-Star da NBA, Pau Gasol foi premiado com o ‘Kobe & Gigi Bryant WNBA Advocacy Award’, um prêmio que prestigia “defensores e influencers que usam seu tempo, talento e plataforma para aumentar o engajamento com a WNBA”, segundo o release oficial. A questão que eu gostaria de trazer aqui é: isso parece justo?

Vamos traçar uma linha de raciocínio aqui: sabemos que a WNBA não é a liga que mais obtém sucesso em dar apoio e suporte às suas atletas. Um exemplo disso é toda a questão envolvendo os voos comerciais, já que a liga não oferece transporte fretado para as jogadoras – inclusive, proíbe que uma franquia capaz de pagar por esses voos o faça, para não ser “injusta” com nenhuma outra equipe que não poderia arcar com esse custo.

Dito isso, a WNBA demonstra estar buscando tentativas de trazer mais engajamento para a liga, em um sentido geral, desde torcedores até patrocinadores. Porém, será que a melhor forma de trazer essa visibilidade é premiando jogadores da NBA? A honraria foi criada em 2022, tendo Chris Paul como o primeiro condecorado, após comprar 500 ingressos para um jogo do Phoenix Mercury e distribuí-los para comunidade gratuitamente. Uma tarefa importante? Com toda certeza. Merecedora da criação de um prêmio para tal? Não.

No caso de Gasol, quem também fala sobre a liga com frequência, inclusive usando suas redes sociais para isso, o prêmio veio a partir dessa premissa, juntamente com o fato de ele ser um investidor da WNBA – que está em um crescimento de capital avançado. São fatores importantes? Com certeza. Merecedores de uma premiação? Não.

A estratégia pode até fazer sentido em um primeiro momento, afinal, para que as pessoas engajem e se tornem fãs de uma liga esportiva, é necessário um trabalho de convencimento e demonstração de atrativos. Isso justifica a entrega do prêmio durante o final de semana do All-Star, além do nome escolhido. São apelos comerciais para desenvolver o conhecimento da WNBA. Mas só faria sentido se parássemos a análise na superfície, pois ao aprofundarmos, percebemos que a situação tem suas problemáticas.

Em relação ao nome, é compreensível trazer à memória de Kobe e Gianna Bryant. No entanto, os premiados não fazem jus ao trabalho que Kobe desenvolveu com o basquete feminino – apesar de todas as suas questões controversas em relação ao caso de estupro. Bryant contribui para o crescimento da modalidade feminina, além de toda a mentoria que exerceu com jovens jogadoras do high school, do universitário e até do nível profissional. Kobe estava na atividade prática, dentro de quadras, em contatos com as jogadoras, presente em jogos.

Por mais que Pau Gasol desempenhe um papel de influência, falando sobre a WNBA, escrevendo artigos, investido, ainda não parece justo com as jogadoras a liga criar um novo prêmio para, mais uma vez, colocar um jogador da NBA no centro. Em um ano que tivemos incontáveis manifestações de jogadoras para a soltura de Brittney Griner, as ações da WNBPA e todo o envolvimento social que as atletas desenvolvem, criar um prêmio para homenagear homens pela “influência”, não faz o menor sentido.

É como se a WNBA, como instituição, dissesse em alto e bom som que falar de basquete feminino através do Twitter ou usar o moletom laranja é mais importante do que as próprias jogadoras, que precisam pavimentar seus próprios caminhos e cravar a importância de uma liga de basquete profissional com as próprias mãos – e com pouquíssimo auxílio. Mesmo com o apelo comercial sendo importante para crescer, não é premiando homens por sua influência, que se fideliza uma audiência com a liga feminina. Mais uma vez, os esforços da W tomaram o foco errado na hora de agir.


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