“Underrated” ou simplesmente “esquecíveis”? – Miran Pavlin

Francisco IsaacMaio 26, 20214min0

“Underrated” ou simplesmente “esquecíveis”? – Miran Pavlin

Francisco IsaacMaio 26, 20214min0
Nesta nova rubrica do FairPlay, trazemos-lhe alguns dos jogadores que a História do Futebol "esqueceu". Simplesmente "underrated" ou "esquecíveis", estes jogadores marcaram uma era do futebol, à sua maneira. Hoje é a vez de Miran Pavlin

É, sem dúvida alguma, a entrada mais controversa nesta nova rubrica do Fair Play iniciada por Pedro Afonso, mas Miran Pavlin é um dos nomes que merecia ter tido outro carinho e atenção tanto dos adeptos do FC Porto como da equipa técnica dos azuis-e-brancos que então liderava o clube, com um já desgastado Fernando Santos e depois o infâme Octávio Machado. Pavlin chegou no meio de um autêntico vendaval de reforços, constando Jorge Andrade, Pizzi, Cândido Costa (outro jogador que merece o cunho de “underrated”), Paulo Assunção (seria emprestado logo nessa época), Ovchinnikov, Paredes, Pena e o mítico, Alenitchev, numa tentativa do FC Porto recuperar o título que foi perdido para o Sporting Clube de Portugal.

Mas de onde surgiu Pavlin? No Europeu de 2000, o médio-centro foi considerado um dos jogadores-surpresa da competição, realizando excelentes exibições ao serviço da Eslovénia com uma operância elegante junto de Zlakto Zahovic e Aleš Čeh, sem esquecer que já nas últimas épocas tinha sido uma das unidades mais valorizadas do plantel do Friburgo. A conjugação destes dois elementos exigiu ao FC Porto despender cerca de 1M€ em 2000 pela sua contratação, sendo na altura uma das contratações mais “caras” do clube.

Incrivelmente, Miran Pavlin pouco jogou nas duas épocas em que representou o clube, ficando no registo uns meros 12 jogos… se em 2000/2001 tinha pela frente um meio-campo dominado por Paredes, Chaínho, Alenitchev e Deco, na 2ª a situação pouco melhorou especialmente enquanto Octávio Machado esteve sentado no banco de suplentes dos dragões. Quando José Mourinho chegou às Antas, Pavlin ainda viu alguma luz conseguindo ser titular em oito de dezassete jogos, começando de início por exemplo contra o Real Madrid (derrota em casa por 1-2), SL Benfica (3-2) ou SC Marítimo (também vitória por 2-1), mostrando que podia ser uma ferramenta útil na construção de linhas de jogo e no desenvolvimento de jogo, munido de uma clarividência e inteligência que agradava a equipa técnica portista.

Contudo, depois de mais uma época desanimadora, Miran Pavlin optou por sair da Invicta e regressar à Eslovénia, onde realizaria uma temporada cinzenta após ter estado presente no Campeonato do Mundo da Coreia do Sul/Japão (titular nos três jogos). Dado então um pequeno então preâmbulo histórico da carreira de Miran Pavlin – e já iremos para os capítulos mais “veteranos” -, é agora altura de explicar o porquê de ser para mim um jogador underrated que merecia muito mais sorte do que teve na carreira. Evidentemente, só José Mourinho percebeu a utilidade de Pavlin sobretudo no oferecer de uma certa calma e estabilidade à equipa, desenvolvendo um processo de jogo inteligente e eficaz, o que permitia ao FC Porto sair a jogar de forma mais consciente.

Infelizmente, Mourinho só apanhou Miran Pavlin com 30 anos de idade nas pernas (faria 31 passado uns meses), e esse pormenor da idade acabou por empurrá-lo em direcção à saída no final da época de 2002, apesar de ter conseguido jogar o triplo nesses meses em comparação com os 18 meses anteriores. A elegância com que penteava a redonda, a simplicidade de movimentos na produção de jogo, a facilidade em que alterava a velocidade de jogo com um passe bem enquadrado foram elementos que não passaram despercebidos nas Antas, especialmente entre Janeiro e Maio de 2002.

A eloquência que possuía podia ser tanto vista dentro e fora de campo, como ficou bem patenteado no seu discurso de despedida no Verão de 2002,

É claro que fico um pouco desapontado com esta situação, mas o futebol é assim e sei que tenho de olhar em frente. (…) Posso dizer que este é o adeus ao Porto. Um grande clube que preenche um espaço importante na minha carreira. Para mim foi uma honra vestir a camisola do F.C. Porto e por isso ficará para sempre no meu coração.

Pavlin merecia ter sido elevado a outra importância dentro do FC Porto, por melhor jogadores que tenham sido Chainho ou Alenichev dois elementos ligados à história dos anos 90 dos azuis-e-brancos, até porque atletas do nível do esloveno não foram assim tantos como se pode pensar. É só rever o Euro 2000 ou as exibições rubricadas contra o Real Madrid, Nantes, SL Benfica (especialmente na vitória por 2-0 para a Primeira Liga em 2000) para perceber que Miran Pavlin foi um dos reforços mais mal aproveitados por um dos clubes de maior dimensão do FC Porto e esse erro acabou por ser fatal para o esloveno até ao fim da carreira… felizmente, ainda foi campeão pelo seu Olimpija em 2010 (3ª passagem em toda a carreira).

O único golo (e que golo) de Pavlin pelo FC Porto


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