Roberto Martínez: raio-x ao novo seleccionador de Portugal

Francisco IsaacJaneiro 10, 20235min0

Roberto Martínez: raio-x ao novo seleccionador de Portugal

Francisco IsaacJaneiro 10, 20235min0
Quem é o novo seleccionador nacional, Roberto Martínez? Francisco Isaac dá-te a conhecer a história e a forma de jogar do novo comandante das Quinas

Depois de 7 longos anos com Fernando Santos ao comando da selecção nacional, Roberto Martínez é o novo seleccionador de Portugal, chegando às Quinas depois de ter comandado a Bélgica entre os anos de 2016 e 2022, onde foi capaz de atingir um 3º lugar no Campeonato do Mundo 2018 e os quartos-de-final no Euro 2021. Mas quem é Roberto Martínez? Que tipo de futebol poderá procurar implementar? E quais as maiores vantagens e desvantagens em ter um não-português como seleccionador nacional? Três perguntas que vamos tentar responder para lançar esta nova era de Portugal no futebol mundial.

QUEM É ROBERTO MARTÍNEZ?

Antigo jogador de futebol profissional, que jogou, principalmente, no Reino Unido (Wigan, Motherwell, Swansea ou Walsall) iniciando a carreira de treinador aos 34 anos ao serviço dos galeses do Swansea City, isto em 2007, ajudando-os a conquistar uma League One (3ª divisão) na temporada de 2007-2008, dando depois o salto para o Wigan e Everton, estreando-se na Premier League pelos toffees. Chega finalmente à selecção belga em 2016, iniciando uma era de bons resultados, que teve o seu ponto mais alto na conquista do 3º lugar do Campeonato do Mundo 2018, guiando uma das gerações mais requintadas e equilibradas dos Diabos Vermelhos, acumulando depois uns quartos-de-final no Euro 2021, campanha onde inclusive eliminou Portugal, com o Mundial de 2022 a marcar o ponto final na relação entre a Bélgica e Roberto Martínez.

Ao todo foram 80 jogos, 56 vitórias, 13 empates e 11 derrotas, acumulando um total de 70% de vitórias em 6 anos, conseguindo encontrar harmonia dentro de um balneário carregado de egos e jogadores de alta qualidade, seja Kevin de Bruyne, Eden Hazard, Romelu Lukaku, Axel Witsel, Thomas Meunier, Vincent Kompany, Thibault Courtois, entre outros.

Em termos de perfil, Roberto Martínez é um treinador eloquente, que não foge às questões mais difíceis, sabendo encontrar o diálogo quer com imprensa ou jogadores, apesar de no último Campeonato do Mundo não ter conseguido manter as pontes do passado de pé, com uma série de ataques individuais a surgirem dentro do balneário belga. Não sendo um treinador de futebol de maior risco ou de intensa circulação de bola, onde a vertiginosidade do jogo nas alas é chave, o espanhol é um confesso admirador do futebol de posse, procurando ter iniciativa e de aproveitar bem o jogo interior.

QUAL O TIPO DE FUTEBOL?

Como dissemos atrás: posse de bola, iniciativa pelo “meio” e velocidade q.b., são três dos pormenores que marcaram a Bélgica de Roberto Martínez, somando-se depois um processo defensivo coerente e que participa na construção de jogo, não se expondo em demasiado nas alas, com o esquema táctico “fixo” de 3 centrais, com ajuda de dois laterais-extremos mais subidos, e um meio-campo de gestão, a ser o preferido do agora seleccionador nacional de Portugal.

É sabido que uma boa parte dos adeptos e comentadores idealizava um seleccionador que abordasse uma estratégia mais de risco, de maior exposição do meio-campo, onde o ataque e o meio-campo de criação tivessem um protagonismo maior, com a lógica de Roberto Martínez a não entrar muito nesta linha de pensamento, preferindo uma consistência defensiva superior, uma estratégia mais baseada no controlo de bola e de um ataque mais cínico e de menor exposição.

Não significa isto que o novo seleccionador nacional vá amordaçar a selecção nacional, ou forçar uma agressividade táctica que retire liberdade e capacidade de rasgo a jogadores como Bruno Fernandes, Diogo Jota, Bernardo Silva, Vitinha, Matheus Nunes, João Félix, pois Roberto Martínez procura também retirar o melhor dos seus jogadores, pedindo (alguma) iniciativa e genialidade. Mas sendo um outsider, em termos de não ter nascido ou crescido dentro do futebol português, terá o espanhol o conhecimento necessário sobre como melhorar a selecção nacional?

QUAIS AS VANTAGENS E DESVANTAGENS?

Comecemos pelas vantagens de Roberto Martínez não estar por dentro do futebol português: imune a influências e pressões externas, especialmente vindo de certos séquitos que foram alimentando certas narrativas nos últimos 7 anos – Fernando Santos acabou por alinhar com esta influência em absoluto -, tendo uma visão mais “neutra” no que toca à lista de convocados; injeção de novas ideias e conhecimentos que obteve dos tempos em que treinou a Bélgica, oferecendo novas ferramentas; e o baixar de um certo timbre tóxico-agressivo que se tinha instituído entre certos canais de informação e comunicação da imprensa à FPF e vice-versa (curiosamente, nos jornais desportivos d’Abola e Record, a apresentação do seleccionador nacional foi atirado para um 4º nível de importância); mudança do status quo de certos atletas e membros do staff.

E no campo das desvantagens? Bem, duas saltam à vista, com a primeira a nem ser uma problemática inerente a Roberto Martínez, mas sim pela forma como está a ser apresentado pela imprensa, que o tem vendido como uma 2ª ou 3ª escolha, atirado para um nível de importância inferior, como se tratasse de um treinador temporário – algo que também pode funcionar em seu beneficio -, empurrando-o para um patamar de respeito inferior. E o segundo factor prende-se com a capacidade para lidar com o balneário português, que deverá entrar numa curta era mais polémica, com alguns dos atletas mais experientes a querer ser a voz deste novo período.

Efectivamente as perspectivas para Roberto Martínez são positivas, mesmo que subsistam dúvidas da sua qualidade – nenhum título conquistado ao mais alto nível -, no futebol mais comumente praticado, ou na distância que tenha para com o futebol português, sendo uma página nova para a selecção nacional, apesar da Federação Portuguesa de Futebol precisar de fazer uma séria reflexão na sua estrutura e funções, um pormenor fulcral para Portugal voltar a chegar longe no Campeonato da Europa ou Campeonato do Mundo.


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