Reviravoltas na recta final da Primeira Liga: possível ou não?

Francisco IsaacAbril 13, 20216min0

Reviravoltas na recta final da Primeira Liga: possível ou não?

Francisco IsaacAbril 13, 20216min0
Um líder à 26ª jornada terá maior ou menor tendência em perder o 1º lugar nos 8 jogos restantes? Análise à recta final das últimas 20 edições da Liga NOS

Estamos a 8 jornadas de colocar um ponto final na Liga NOS 2020/2021, uma temporada em que se viu o reerguer do Sporting CP pela 2ª vez nesta década, sendo que 2020/2021 foi a primeira, em 20 anos, a ter os “leões” como líderes durante 20 jornadas, assumindo o 1º lugar à passagem da 6ª para nunca mais sair desse posto, pelo menos até este momento. Depois de consentir um segundo empate consecutivo, Rúben Amorim e os seus jogadores viram a distância para o 2º lugar encurtar para 6 pontos, levando ao soar de alarmes por parte de alguns adeptos dos verde-e-brancos e um intensificar das atenções dos seus rivais do FC Porto e SL Benfica, que sonham agora com uma possível cambalhota no topo da classificação quando faltam disputar 8 jogos e 24 pontos até chegarmos à 34ª jornada. Porém, uma recuperação deste género alguma vez aconteceu quando faltava só um pequeno troço de encontros para decidir os destinos do novo campeão?

Se formos pela “veia” histórica podemos dizer que só por uma vez nas últimas 19 edições da primeira liga essa reviravolta aconteceu, na época 2012/2013 mais precisamente, tendo o campeão sido a equipa que estava na liderança do campeonato quando faltavam 8 jogos para o seu término. Ou seja, a liderança à passagem da 26ª/22ª jornada (a primeira para as edições com 18 clubes e a segunda para os com 16) é um indicador claro do potencial novo campeão nacional, mesmo que esse tenha perdido alguns pontos de distância ou o momentaneamente o controlo do 1º lugar. Não podendo ler o registo histórico como um dado adquirido total que o Sporting CP vai ser o campeão, é difícil não aceitar o facto de que o favoritismo e a vantagem está 85% nas mãos do emblema leonino, mesmo com um orçamento menor ou um plantel menos apetrechado que os rivais.

Se o leitor quiser ir pela excepção, a época 2012/2013 pode servir de similar “lição” para quem se sinta demasiado confortável ou confiante com a perda de pontos consentida pelo Sporting CP nas últimas duas jornadas, pois nessa edição da primeira liga, o FC Porto de Vítor Pereira recuperou de dois pontos de desvantagem em relação ao SL Benfica e acabou como campeão nacional, chegando ao bicampeonato. Mas 2 pontos não são 6, uma vantagem que é considerada quase como um bilhete dourado, já que em 7 edições onde encontrámos uma vantagem igual ou superior a 6 pontos, o campeão acabou na frente de forma confortável, apesar de em duas ocasiões o 2º lugar ter recuperado alguns pontos de diferença e nas outras 5 a diferença aumentou exponencialmente. Curiosamente, desde 2012/2013 que não se via um liderança tão incontestável e de uma distância pontual considerável, com as últimas seis épocas da Liga NOS a terem sido bafejadas por uma luta intensa entre os três primeiros classificados, separados por um máximo de 3 pontos.

Portanto, se olharmos para o que se passou factualmente nas 19 épocas anteriores, o favoritismo reside totalmente no Sporting CP, existindo uma probabilidade muito diminuta de termos um mudança de líder até ao fim da presente temporada. No entanto, é preciso perceber que os exemplos anteriores têm alguns asteriscos importantes a começar pelo facto que as 19 disputas anteriores pelo título nacional de campeão foram, na maioria das vezes, dominadas quer pelo FC Porto ou SL Benfica, apresentando plantéis mais compactos/experientes/equilibrados, o que ajudou a moldar a mentalidade de ambos os clubes para evitar nervosismos ou instabilidade mental quando estão no topo da classificação a poucos jogos de encerrar a temporada. Uma maior convivência com este risco de ser líder com considerável, alguma ou curta vantagem molda equipas a terem outra competência quando se poderia seguir um momento de maior nervosismo, especialmente nas hostes dos adeptos, algo que o Sporting CP não possui, pois em 18 anos não teve uma única vez nesta situação, apesar de ter perseguido o primeiro lugar até ao último jogo em cinco campeonatos anteriores.

Por isso, a maior questão vai sobretudo para a capacidade emocional do plantel do Sporting e da força da mensagem de Rúben Amorim, que tem de procurar transmitir uma confiança inabalável, mostrando que uma vantagem de 6 pontos é um facto de como há um domínio classificativo, somando-se ainda o aspecto táctico e de confronto directo (até ao momento ganhou por duas vezes aos rivais directos e empatou outras duas, mantendo-se perene ante os outros candidatos), e isto é um dos melhores instrumentos para repor os níveis de confiança no sítio correcto.

Não entrando no debate sobre a inclusão de Paulinho dentro do modelo de jogo idealizado por Rúben Amorim desde o início da época (o Sporting CP efectivamente foi superior e dominador nos dois últimos encontros, mas não tão compacto na gestão do meio-campo), é ao mesmo tempo normal e estranho ver o nervosismo que circunde os apoiantes dos verde-e-brancos, e culpa disso advém de não haver hábito de serem líderes do seu próprio destino quando faltam poucos encontros para encerrar esta Liga NOS 2020/2021.

São o 2º melhor ataque e a melhor defesa até ao momento, têm revelado processos de jogo inteligentes, lógicos e dinâmicos sendo a equipa mais consistente até este momento da época, o que a somar aos pormenores históricos apresentados neste artigo ajudam a formular a ideia que se há favorito para a conquista do título, esse é o Sporting Clube de Portugal. Mas significa esta conjugação de elementos algo mais do que um indicador? Não, já que há 24 pontos por se jogarem… só que acontecimentos como o interpretado por Kelvin são de extrema raridade.

Juntamos mais alguns dados em relação às 19 edições anteriores da primeira liga portuguesa:

– O “+5” significa que o campeão terminou com mais cinco pontos em relação ao segundo lugar;

– Por duas ocasiões o campeão terminou com apenas mais um ponto em relação ao vice-líder (2006/2007 e 2012/2013);

– FC Porto foi o vencedor com maior distância do 2º lugar, isto em 2010/2011, sob liderança de André Villas-Boas;

– Só por quatro ocasiões houve líder à 26ª jornada com mais dos 66 pontos que o Sporting CP detém em 2020/2021, cabendo três ao FC Porto (02/03, 03/04 e 17/18) e outra ao SL Benfica (09/10);

Foto: FP

Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS