Como aconteceu a profissionalização do futebol no Brasil?

Virgílio NetoMarço 29, 20183min0
vasco1923

Como aconteceu a profissionalização do futebol no Brasil?

Virgílio NetoMarço 29, 20183min0
A profissionalização do futebol no Brasil foi oficializada em 1933. Antes que acontecesse, desenvolveu-se um cenário que criou as condições para a actividade remunerada da modalidade, com um clube de origens luso-brasileiras fundamental para este processo.

Durante a chamada República Velha no Brasil (1889-1930), o futebol foi trazido ao país e teve um rápido crescimento, sobretudo nas capitais das províncias (hoje estados) e cidades portuárias. Os imigrantes e seus descendentes tiveram grande contribuição com a popularização da modalidade, não apenas porque fundaram clubes, mas porque se propuseram a difundi-la entre os mais novos e também se dedicaram à arbitragem.

Tudo isso a ter como base o carácter victoriano do desporto. Foi formada uma selecção nacional que obteve êxito em campeonatos sul-americanos; neste período é criada a Confederação Brasileira de Desportos (com influência de um chanceler brasileiro, Lauro Müller) e pouco a pouco o Estado passa a ter interesse – político – no jogo. A profissionalização não tardaria a acontecer.

Na década de 1910 alguns futebolistas já recebiam prémios financeiros pelo bom desempenho em campo. Alguns clubes já cobravam pelos bilhetes dos jogos, inclusive. Isso não significa profissionalismo de facto, mas passa a ser o início de uma trajectória rumos esta relação de trabalho. Tudo isto vai em contra ao discurso espírito do desporto amador, muito presente entre os integrantes de uma elite económica, do desporto pela nobreza em competir, em nome da probidade e honradez, somente.

O Brasil historicamente é marcado pelas diferenças sociais, e a conquista do Clube de Regatas Vasco da Gama do campeonato do Rio de Janeiro, em 1923, é um marco para o futebol nacional. Os vascaínos tinham, em seu plantel, atletas negros e analfabetos, um contraponto à ordem do futebol naqueles tempos, practicado por quem tinha mais condições financeiras (consequentemente também de educação).

A partir de então, grande parte da população percebe que o sucesso no jogo está para todos, não é necessário fazer parte de uma elite. Em busca de prestígio esportivo (títulos), é nas camadas menos favorecidas da sociedade que os clubes vão procurar por talentos.

Isso tudo, somado à competitividade que a modalidade adquire no Brasil a partir da década de 1910 – em que a demanda por atletas dedicados exclusivamente à modalidade em busca do resultado em campo -, são as condições necessárias para a profissionalização do esporte.

Outro factor importante foi o de outros países adoptarem o profissionalismo antes do Brasil, como a Argentina, o Uruguai e alguns europeus. Como resultado, a ‘fuga’ de brasileiros para o estrangeiro, para viver de futebol, foi inevitável.

Em 1933, finalmente, a Confederação Brasileira de Desportos formaliza a actividade profissional da modalidade. Em um país com baixa mobilidade social e recém-saída de uma política escravista, é natural que uma actividade desportiva profissional seja atractiva às camadas sociais menos favorecidas, que vêem no futebol uma alternativa para sair das condições de extrema pobreza. E são delas as origens de inúmeros ídolos do Brasil.

A actividade remunerada do desporto-rei faz aumentar o preço dos bilhetes e a sua popularização. Surgem novos clubes também. Começava, com isso, uma nova fase, simultaneamente à política do Brasil, com Getúlio Vargas na presidência e com o chamado Estado-Novo, anos mais tarde, em 1937. O futebol terá importante papel nesta época e será tema para o próximo artigo.

Clube de Regatas Vasco da Gama, campeão de 1923. Foto: Centro de Memória CRVG

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