O caso do Sevilla 22/23 – um exemplo claro de fim de projeto? pt.1

Ricardo LopesMarço 26, 20238min0

O caso do Sevilla 22/23 – um exemplo claro de fim de projeto? pt.1

Ricardo LopesMarço 26, 20238min0
O Sevilha está perto da descida, apesar de uma boa prova na Liga Europa, e Ricardo Lopes tenta identificar os problemas do emblema espanhol

É difícil no futebol analisarmos quando começa acaba um projeto e começa outro. Geralmente tem de se passar por uma grave crise, para os adeptos e direção perceberem que as ideias não estão a resultar. Associamos geralmente o começo de uma nova fase com a chegada de um novo treinador, diretor desportivo ou muitas mexidas no plantel, que transmitem uma nova ideia. A cidade de Sevilha é uma das capitais europeias do futebol, que contém duas equipas históricas e uma rivalidade efusiva. Real Betis Balompié e Sevilla FC são dois dos clubes mais respeitados ao nível mundial, além de serem sempre adversários complexos para quem os confronta.

Se o Betis passa por um bom momento, exibindo organização e resultados (vencedor da Taça do Rei 2021/22), o Sevilla tem estado muito aquém, com um 2022/23 a começar de uma maneira frustrante e a tardar em “endireitar”, tendo que repensar os objetivos.

O Sevilla é conhecido como o “rei” da Liga Europa, já que na década passada venceu quatro edições desta competição. O projeto de Monchi, diretor desportivo, obteve bons resultados, mesmo em classificações da LaLiga, que é uma competição que não se disputa em eliminatórias. Com Lopetegui conseguiu-se um terceiro lugar (2019/20, mais uma Liga Europa) e dois terceiros lugares (2020/21 e 21/22), porém 2022/23 está a ser um autêntico pesadelo ao nível de campeonato e que se pode voltar a repetir no futuro, caso não existam algumas mudanças. Todos os elementos estão a ser questionados, desde o treinador, até José Castro Carmona, presidente do clube, não esquecendo Monchi, a principal figura da estrutura do Sevilla, possivelmente à frente do treinador.

Há alguns subtemas que devemos desenvolver mais detalhadamente para perceber como 2022/23 se transformou num ano muito abaixo das expectativas e como isto pode ser um espelho do futuro, ainda que a equipa esteja em jogo na Liga Europa (sorteio complicado contra o Manchester United) e na Taça do Rei (perdeu na primeira mão das meias finais contra o Osasuna).

Para compreender este fenómeno há que analisar os últimos mercados de transferências e como isso mexeu com o plantel do clube, que iremos verifica a sua qualidade e extensão. O treinador também é um ponto importante de se estudar. Por fim, dar uma olhadela a outros projetos no mesmo campeonato, para verificar se a culpa do “decréscimo” do Sevilla também é uma consequência do aparecimento de outros clubes significantes.

Balanço de transferências

O Sevilla sempre foi conhecido por vender bem nomes interessantes do seu plantel. Foi assim com Rakitic ou Jesus Navas por exemplo (que até fazem parte da equipa atual). No entanto, temos assistido a um decréscimo de qualidade e capacidade nas vendas, com balanços consecutivamente negativas, numa fase em que cada vez mais jogadores são comprados e vendidos a preços absurdamente elevados.

Como podemos verificar, desde a temporada de 2019/20, somente por uma vez a balança de transferências do Sevilla ficou verde, sendo precisamente a última. Esteve valor justifica-se pela necessidade de capital do clube do Sánchez Pijuán, já que foram três anos no negativo, com dois dos valores investidos a serem muito elevados. A isto soma-se algumas contratações que não obtiveram o retorno que se esperava, pelo dinheiro investido. Rony Lopes (25 milhões de euros), Munas Dabbur (17 milhões de euros), Idrissi (12 milhões de euros), Ludwig Augustinsson (5,5 milhões de euros), são alguns dos exemplos de investimentos das temporadas passadas e que reconhecemos que nunca se demonstraram a alto nível no Sevilla.

O elevado valor positivo na área das transferências de 2022/23 é em grande parte justificado pela saída de Jules Koundé e Diego Carlos, atletas que fizeram uma das melhores duplas de centrais da história da instituição. Podemos considerar que pela qualidade que contêm, foram transferências relativamente baratas, devido ao alto padrão de valores que temos visto no mundo do futebol, principalmente após a transferência de Neymar para o PSG.

Koundé rendeu 50 milhões de euros, rumando ao Barcelona e Diego Carlos 31 milhões de euros, assinando pelo Aston Villa. Ao analisarmos no momento atual, as transferências podiam ter rendido bastante mais, porque é uma posição cada vez mais valorizada (veja-se o caso de Koulibaly). Uma das problemáticas de 2022/23 é a questão dos sucessores de Koundé e Diego Carlos, algo que iremos analisar já em seguida.

O que podemos retirar desta pequena tabela é que o Sevilla quis investir para voltar a repetir 2019/20, porém está claramente a tirar as consequências financeiras de tal atitude, o que levou ao desinvestimento realizado em 2022/23, que explica o plantel abaixo das expectativas e em parte os maus resultados que estão a ser obtidos isto claro, olhando para o padrão Sevilla, que está longe de ser uma equipa “de meio de tabela”.

Plantel de 2022/23

Jogos realizados à data da produção deste artigo (21/03/2023)

Guarda-redes

Não é por esta parte do terreno que a equipa andaluza está mal. Bono e Dmitrovic são dois jogadores de qualidade, com experiência, não existindo um grande “gap” entre o titular e o seu suplente. Bono mostrou no Mundial 2022 que é um dos melhores do Mundo. Dmitrovic não falha quando assume, além de ter provado o seu valor no Eibar, onde chegou a realizar exibições monstruosas, em temporadas cujo objetivo era a manutenção.

Defesas

Aqui começa o primeiro problema do Sevilla. Como referimos antes, Koundé e Diego Carlos eram uma dupla de centrais sólida e com grande qualidade. Não foi substituída da melhor maneira, pelo menos até Janeiro. Chegaram Marcão e Nianzou durante o Verão.

O primeiro já atuou em Portugal e embora tenha boas capacidades não se está a conseguir destacar como os anteriores fizeram, porque não possui a mesma qualidade. Já Nianzou é um central ainda em desenvolvimento, que cresceu no Bayern de Munique, mas que não está a postos para ser o patrão da defesa do Sevilla. A aquisição (por empréstimo) de Badé trouxe mais qualidade para a posição, mas é necessário algo.

As alas passam por outro tipo de dúvidas. Há qualidade, porém do lado direito Jesús Navas tem 37 anos e a reforma deve estar eminente. Já do lado esquerdo, Telles está somente emprestado.

Médios

Existem dificuldades nesta faixa do terreno de jogo. Tal como no caso de Navas, existe a questão da idade, que começa a pesar em Fernando e Rakitic, que continuam a atuar com classe, mas com menos chances de manter o nível nos 90 minutos. Isto faz a diferença porque em termos de qualidade, são os melhores jogadores do meio campo do Sevilla, sendo os restantes atletas medianos.

Gudelj está a fazer a sua melhor temporada da carreira, porém tem sido usado a central. Óliver Torres nunca explodiu e esteve sempre na corda bamba para sair e Jordán não conseguiu manter o nível da temporada passada onde foi fundamental. A chegada de Pape Gueye veio atenuar os problemas, porém esperava-se mais de todos estes jogadores, até mesmo de Dahoud e principalmente de Isco, que já saíram em Janeiro.

Avançados

Os avançados são um bom espelho do plantel do Sevilla, contando com alguns problemas, mas boas soluções, embora poucas. Existem elementos com capacidade de estar num plantel que possa lutar pelo terceiro lugar (En-Nesyri), porém ao mesmo tempo atletas que nunca chegaram ao auge que pensávamos no início da carreira (Suso, Lamela ou Ocampos). Ao mesmo tempo há jogadores com capacidade para crescer, se estiverem no lugar certo (Bryan Gil e Rafa Mir), porém outros que já esgotaram o seu tempo no Sánchez Pijuán (Alejandro Gómez). Seira injusto abordar a questão de Corona, pois o mesmo não participou praticamente na temporada devido a lesão. Dolberg e Januzaj foram um fracasso completo, sendo que a sua saída fez todo o sentido.


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