O caso Braga – modelo de crescimento único em Portugal

Ricardo LopesFevereiro 9, 20237min0

O caso Braga – modelo de crescimento único em Portugal

Ricardo LopesFevereiro 9, 20237min0
Ricardo Lopes olha para o desenvolvimento do SC Braga e o que revela este crescimento auspicioso dos guerreiros do Minho

O SC Braga é uma instituição histórica do nosso país. Com 67 presenças, é a sexta equipa com mais participações no principal escalão, atrás dos “três grandes”, Vitória SC e CF Os Belenenses. O clube conta com 102 anos de história, sendo, a par com o grande rival, o clube mais representativo do Minho. Não existem dúvidas que o SC Braga é uma passagem fundamental no nosso futebol. Nos últimos anos, tem sido a equipa que mostra mais consistência e que mais se aproxima da tríade que costuma lutar pelo título. Neste artigo pretendemos explorar o crescimento do Braga e como chegou ao posto de “quarto grande” português.

O crescimento dos bracarenses “anda de braço dado” com António Salvador, atual presidente do clube. A chegada do empresário foi fundamental para o salto dado pelo Braga. António Salvador chegou à presidência no ano de 2003, quando tinha somente 32 anos. Há que relembrar como o bracarense assumiu o clube. João Gomes de Oliveira demitiu-se da presidência, deixando os “arsenalistas” recheados de dividas e afundado na tabela. António Salvador acabou por assumir o cargo de presidente, contribuindo para salvar os “guerreiros” da despromoção, ficando em décimo quarto lugar. Esta foi a pior posição no campeonato durante a liderança de António Salvador, até aos dias de hoje.

Na verdade, somente por duas temporadas (2007/08 e 2013/14), o clube ficou fora do top 5 da Liga Portuguesa, conseguindo um segundo lugar e dois terceiros. Há quatro pontos chave para o sucesso do Braga de Salvador: a escolha de treinadores de qualidade, as belas equipas que conseguiu formar, as boas vendas realizadas e a construção de uma cidade desportiva, acompanhada de um estádio moderno. Nenhum outro clube em Portugal, retirando os “três grandes”, consegue juntar em uníssono todos estes fatores, que fazem da instituição, uma equipa cada vez mais respeitada e temida. Não podem sobrar dúvidas de que sem António Salvador, a probabilidade de o Braga ter conseguido atingir o patamar em que está seria muito pequena, quase nula.

Treinadores

É fundamental para uma equipa de futebol crescer, a existência de um bom timoneiro. É um dos pontos fortes do Braga no séc. XXI. Alguns dos melhores treinadores a nível nacional passaram pelo Minho. Jesualdo Ferreira (2003/06) foi o primeiro nome que António Salvador escolheu. Não há duvidas que muito do sucesso do Braga é graças ao trabalho desenvolvido por Jesualdo Ferreira.

António Salvador recorrentemente apostou em treinadores jovens, sendo uma das imagens de marca. Jorge Jesus (2008/09) foi a grande exceção, mas Domingos Paciência (2009/11), Leonardo Jardim (2011/12), Sérgio Conceição (2014/15) Paulo Fonseca (2015/16), Abel Ferreira (2017/19), ou Rúben Amorim (2019/20) foram aposta com pouco tempo de serviço. Claro que houve a quota parte de treinadores que não conseguiram sucesso como Jorge Simão, Carlos Carvalhal (na primeira passagem), José Peseiro, Manuel Machado, Jorge Costa ou Sá Pinto, no entanto os casos de sucesso “apagam” da memória todos os que falharam.

Nesta lista estão muitos daqueles que consideramos os treinadores da alta gama do futebol português. António Salvador mostra que sabe escolher os treinadores, com o objetivo de fazê-los crescer com a equipa. Talvez por contratar elementos tão promissores, não consegue mantê-los por mais tempo. Perdeu Amorim e Domingos para o Sporting CP, Jorge Jesus para o SL Benfica ou Paulo Fonseca para o FK Shakhtar.

Se estes técnicos se tivessem mantido por mais tempo, a estabilidade do Braga teria sido maior. Nem todos os treinadores saíram “a bem” com a direção. Leonardo Jardim abandonou após uma entrevista polémica e Sérgio Conceição saiu por “falta de respeito”. Existe muita pressão para obter bons resultados, desenvolver jogadores e cumprir os objetivos, agradando os adeptos e a direção. Possivelmente este último ponto torna-se mais difícil, devido à alta exigência de António Salvador. No entanto, é essa mesma exigência que fez o clube progredir.

Ainda assim, grande parte destes técnicos desenvolveu a sua qualidade em Braga, cresceram como profissionais e fizeram crescer os jogadores, colocando a equipa minhota em finais de competições europeias, lutas pelo campeonato e por taças domésticas. Saindo a mal ou a bem, o Braga marcou o seu percurso e eles a história bracarense. Até ao momento, só existe um nome da lista de treinadores com sucesso no Minho, que não tenha tido outros grandes momentos à posteriori, sendo esse técnico Domingos Paciência, que tem tido trabalhos fracos nos últimos anos, após ter sido o treinador que chegou à final mais importante dos “arsenalistas”.

A base da “era dourada” e outros jogadores marcantes

A primeira equipa do Braga que vem à memória coletiva será a de Domingos Paciência (nos tempos modernos). Em 2009/10 ficou em segundo lugar, sendo o principal rival do Benfica de Jorge Jesus até praticamente ao fim do campeonato. Na época seguinte, apesar de só ter obtido a quarta posição, a chegada à final da Liga Europa, marca a história do futebol português. Há nomes que participaram nesta caminhada com muita qualidade e que vale a pena destacar.

Na baliza, Eduardo e Artur Moraes trouxeram segurança e confiança, sofrendo muito poucos golos. Eduardo assumiu-se como titular da seleção e Artur Moraes apesar de ter vindo desacreditado da AS Roma transformou-se num herói na “Pedreira”.

Nas laterais ficam marcadas as passagens de Sílvio, João Pereira e Evaldo, que atingiram o seu melhor nível na equipa bracarense (João Pereira teve muito sucesso em outros clubes, como no Sporting). Eram laterais de qualidade, que sabiam defender bem e atacar com competência, levando a que a equipa bracarense apresentasse ainda mais homens no momento ofensivo, mantendo a segurança próximo da sua baliza.

No centro da defesa terá que se salientar Alberto Rodriguez que se assumiu como verdadeiro patrão da posição. Transmitia muita segurança aos seus colegas de posição (Moisés e Paulão, principalmente), tendo acompanhado Domingos Paciência para Alvalade, não conseguindo o mesmo sucesso, principalmente devido às lesões recorrentes.

No miolo do terreno, existem muitos nomes a destacar. O Braga conseguiu ter um dos melhores meios campos da história do futebol português. Nomes como Custódio, Hugo Viana, Luís Aguiar, Vandinho, Mossoró eram um luxo na posição. Conseguir juntar todos é sinal de sucesso. Existia grande capacidade de criação, presença no momento ofensivo, capacidade e qualidade de passe, bom desempenho no momento defensivo. É seguro afirmar que o Braga em certas alturas destas duas épocas tinha o melhor meio campo de Portugal.

Já na frente de ataque descavam-se dois nomes dos demais: Lima e Alan. Lima não passou muito tempo por Braga, no entanto fez o suficiente para ficar no coração dos adeptos.40 golos em duas temporadas foi um feito extraordinário, transformando-se num dos avançados que marcaram a década de 10 no futebol português. Já Alan, “confunde-se” com a própria instituição. Um extremo de qualidade que passou por FC Porto, Marítimo e o rival Vitória SC, no entanto foi na capital do Minho onde conseguiu brilhar de verdade. De 2008 até 2016 foi um atleta fundamental, tornando-se um líder e um exemplo para muitos. A equipa onde encaixou melhor foi inclusivamente na de Domingos Paciência, tornando-se vital na caminhada para o sucesso.

Apesar de o Braga de 2009/10 e 2010/11 ter estado recheado de bons jogadores, há mais nomes que vale a pena ressalvar. Quim, Paulo Santos, Castanheira, Wender, Andrés Madrid, Rafa Silva, Pizzi, Danilo, Felipe Pardo, Luiz Carlos, Vukcevic, David Carmo entre muitos outros marcaram a sua passagem com exibições de grande qualidade, o que se prova com os bons desempenhos dos “arsenalistas” ao longo dos anos. É muito complicado fazer o melhor XI da história recente do Braga, já que existem muitas opções válidas para colocar.


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