Mundial 2018: o melhor futebol do Mundo
Depois de 30 dias de jogos entre 32 participantes que deram uma cor especial à Rússia, é altura de revermos o Mundial do princípio ao fim, dos detalhes que passaram despercebidos, aos talentos que roubaram as atenções de todos.
Recordes batidos
O Mundial de 2018 ficou a três golos de superar o recorde máximo de golos nesta que é a prova máxima da FIFA. Com 169 golos marcados, foi uma competição em que as redes balançaram com bastante frequência.
E qual foi a equipa com mais remates certeiros? Bélgica. Uma bela fase de grupos dos Diabos Vermelhos permitiu que terminassem a prova com 16 golos marcados e apenas 6 sofridos. Só ficaram em branco num jogo: o da meia-final, contra a França.
Não foi o Mundial em que uma seleção marcou mais golos, já que esse registo ainda está sob controlo da Hungria, com 27 golos em 1954. Contudo, foi a prova em que mais jogadores conseguiram fazer golos, com 122 autores diferentes entre todos os tentos marcados.
A Bélgica contribuiu de forma decisiva para esse facto, pois conseguiu que 10 dos seus 16 golos fossem assinado por jogadores diferentes, sendo também esse facto um recorde.
Por falar em golos e recordes, o que dizer dos penáltis? Os 29 assinalados são um recorde, bem como os 22 convertidos e 7 falhados – um deles por um português, Cristiano Ronaldo.
Por falar no astro madeirense, o que dizer do facto de ser o jogador mais velho a conseguir um hat-trick? Os três golos concretizados contra a Espanha no 1.º jogo do Grupo B (podemos regressar a esse jogo?), aos 33 anos de idade, conferiram mais um recorde para CR7.
Para além disso, o português iguala Pelé, Uwe Seele e Miroslav Klose como o jogador que marcou mais vezes de forma consecutiva em mundiais (desde 2006 que é assim), tendo conseguido fazê-lo em quatro torneios diferente.
E já agora, há outros dois veteranos que também conquistaram direito a escrever o seu nome na lista Recordes dos Mundiais: Rafael Marquez e Essam El-Hadary. O mexicano deixa uma página dourada no futebol mexicano, ao igualar Antonio Carbajal, Lothar Matthaus e Gianluigi Buffon como os jogadores que participaram em mais mundiais (cinco). A somar a este aspeto, foi o jogador que mais vezes entrou em campo como capitão (17 jogos).
E que dizer de Essam El-Hadary, o guardião de sempre do Egito? Que é o jogador mais velho de sempre a estrear-se e a jogar num Mundial, aos 45 anos e 161 dias. Não conseguiu evitar a eliminação do Egito (foi a 3ª vez que a seleção africana não ganhou um único jogo em mundiais), mas deixa a lembrança de que mais vale tarde do que nunca.
Finalmente, mais três recordes a ter em consideração.
Primeiro, os 37 jogos consecutivos em que se marcaram golos, evitando o normalmente sempre aborrecido 0-0.
Depois, os nomes de José Gallardo (México) e Javier Mascherano (Argentina), que também escreveram o seu nome no livro, mas pelas piores razões possíveis. O mexicano recebeu o cartão amarelo mais rápido de todo sempre (entrou na partida e ao fim de 11 segundos foi admoestado), enquanto que o argentino recebeu o seu 7.º amarelo em mundiais, uma marca negativa para o central.
O melhor jogador do torneio: Luka Modric
A Croácia chegou à final do Mundial passando duas eliminatórias nos penáltis e uma no prolongamento. No início da prova, quem diria que os croatas chegariam tão longe? Praticamente ninguém, à exceção de Modric. O médio do Real Madrid chegou focado num objetivo: fazer o que nunca ninguém no seu país tinha feito. Objetivo cumprido.
O médio croata fez, nos 7 jogos, 2 golos e 1 assistência. Os números não são impressionantes para o melhor jogador do torneio, mas a prestação de Modric vai, e muito, para além dos números. Ele foi o cérebro, o coração e os pulmões da Croácia, e foi isso que fez dele o melhor da competição. Nenhum outro jogador foi tão importante e tão influente na sua equipa, nem mesmo Ronaldo, Messi ou Neymar.
Comecemos pelo cérebro. Aqui, Modric foi fiel a si mesmo, já que no Real Madrid costuma também ser o comandante da equipa. Na Rússia, o jogo passou sempre pelos seus pés, nem que isso exigisse descer até ao meio dos centrais. O capitão croata pegou sempre no jogo atrás e carregou-o até à zona de decisão onde contou com colegas sempre inspirados. Modric fez da sua capacidade de passe e decisão a grande força da Croácia e isso quase resultou num título mundial.
De seguida, o coração. Luka Modric mostrou o porquê de ter a braçadeira de capitão no braço esquerdo. A alma e a união fizeram da seleção croata um osso duro de roer (que só a França conseguiu dominar) e Modric foi o centro dessa alma. Sempre ligado ao jogo, sempre concentrado, sempre a dar tudo, como se fosse o último jogo da sua vida. O exemplo que qualquer treinador gosta de ver o seu capitão dar. Foi o elo de ligação entre toda a equipa, com a bola nos pés e com a braçadeira de capitão.
Por fim, o pulmão. O que mais impressionou no Mundial de Modric, para além do seu talento e liderança, foi a disponibilidade física durante os 7 jogos da caminhada da Croácia. Ao longo da época, o médio croata fez 43 jogos pelo Real Madrid, sendo titular indiscutível no modelo de Zidane. Apesar disso, chegou ao Mundial mais fresco que nunca, aos 32 anos. Nos prolongamentos, principalmente com a Rússia e a Inglaterra, vimos Modric galgar metros com bola quando já mais ninguém corria. Vimos o “pequeno” (1,72m) e talentoso médio ganhar bolas a adversários mais fortes e possantes. Vimos um Modric fisicamente disponível e em topo de forma, precisamente quando a Croácia mais precisava de um pulmão.
Por tudo isto, Modric foi eleito (por nós e pela FIFA) como o melhor do Mundial. Outros jogadores talvez merecessem a distinção, mas nenhum tanto como o 10 croata. O cérebro, coração e pulmão da finalista Croácia foi tudo o que poderia ser. Faltou a estrelinha de campeão, mas o reconhecimento está dado e é merecido.
A imagem que descreve todo o torneio
Foram centenas, senão milhares de fotos e imagens capturadas e “descobertas” neste mês de Mundial. Desde os golos em câmera lenta, às defesas em pleno ar, da desilusão total ao êxtase e paixão pelo esférico.
Nos artigos de acompanhamento, destacámos sempre três fotos ou vídeos que marcaram a ronda, sendo difícil escolher qual o que teve mais impacto. Mas como a hora vai longa, estas são as nossas opções finais.
No primeiro lugar, a reação de uma (muito) jovem adepta no Costa Rica-Sérvia descreve exactamente aquilo que o nosso lado mais apaixonado sente com o futebol: um misto de surpresa, excitação e emoção. Não será este o lado perfeito do desporto?
Dentro da emoção que transpira o desporto-rei, o que dizer da Adoração a Maradona? Um dos maiores de sempre, sofria de todas formas e maneiras no jogo decisivo da Argentina diante da Nigéria. A imagem vale muito mais que mil palavras, mas pode ser circunscrita a uma: Diós.
Mas depois da excitação, da paixão, há o outro elemento que deve completar esta tríade fundamental para que o desporto seja um exemplo diário: o Fair Play. E a melhor foto que representa esse conceito passa pela ajuda que Cristiano Ronaldo deu a Edinson Cavani.
Sim, podem arguir que o capitão português só queria reatar o jogo o mais rápido possível, mas então teria carregado o seu adversário de uma forma mais bruta e com outra postura. A certa altura, Cavani começa a apressar-se para sair, mas Ronaldo dá-lhe um toque, abrandando o passo momentaneamente.
Foi um toque de amizade, respeito e companheirismo, de um jogador que estava a perder por um golo e que é extremamente competitivo. Contudo, sabe que há limites para os desejos de ganhar.
O momento que mudou a competição
Com um Mundial cheio de surpresas, poderíamos escolher vários momentos decisivos da competição: a eliminação da campeã em título Alemanha, a queda da Espanha perante a anfitriã Rússia ou até o prolongamento entre a Croácia e a Inglaterra. Todos estes seriam excelentes escolhas, mas a nossa recaí num pormenor de Lukaku, no terceiro golo da Bélgica na reviravolta sobre o Japão.
Um pequeno detalhe que pôs os belgas no caminho do Brasil, um dos favoritíssimos à vitória. A Bélgica acabou por vencer a canarinha, mas teria o Japão conseguido tal proeza? Sem a vitória belga nos oitavos, o Brasil teria um jogo mais fácil e, quem sabe, poderia ter batido a França nas meias-finais. A possibilidade de cenários é tão vasta quando comparada com a subtileza do momento que torna a escolha fácil.
O momento em si, o golo, é um hino ao futebol. É aquilo que o futebol deve ser: magia, qualidade, beleza. Tudo começa num canto para o Japão, com o jogo em 2-2 aos 90+4 minutos. O canto acaba nas mãos de Courtois e seguem-se 11 segundos de loucura. O guardião belga deixa a bola nos pés de Kevin de Bruyne que “galga” metros e metros até entrar no meio-campo japonês e largar na direita para Meunier que cruza de primeira para a área adversária. Lukaku ataca o espaço e deixa passar a bola por entre as pernas para Chadli finalizar na passada. 11 segundos de cortar a respiração, que acabam numa explosão de alegria pela vitória.
O detalhe que muda o lance, o jogo e o torneio é a simulação de Lukaku. O avançado do Manchester United atacou o espaço, levando o defesa com ele, e abrindo uma “autoestrada” para Chadli fazer o 3-2. Um detalhe que não aparece nas estatísticas nem nos números, mas que é decisivo. A Bélgica caiu nas meias-finais e ficou-se pelo terceiro lugar, mas teve uma influência gritante no torneio e este momento é, para nós, o ponto alto dessa influência.
O onze que marcou o Mundial
Guarda-redes – Thibault Courtois (Bélgica)
Defesas – John Stones (Inglaterra), Domagoj Vida (Croácia) e Samuel Umtiti (França)
Médios – Kevin de Bruyne (Bélgica), Modric (Croácia) e Coutinho (Brasil)
Avançados – Antoine Griezmann (França), Kylian Mbappé (França), Romelo Lukaku (Bélgica) e Perisic (Croácia)
O onze que desiludiu no Mundial
Guarda-redes – De Gea (Espanha)
Defesas – Gabriel Mercado (Argentina), Mads Hummels (Alemanha), Gerard Piqué (Espanha) e Raphael Guerreiro (Portugal),
Médios – Bernardo Silva (Portugal), David Silva (Espanha) e Emil Forsberg (Suécia)
Avançados – Gabriel Jesus (Brasil), Thomas Muller (Alemanha) e Neymar (Brasil)