Liga NOS 2019/2020: os “miúdos”, “vets”, “managers” e momentos da época

Fair PlayJulho 28, 202011min0

Liga NOS 2019/2020: os “miúdos”, “vets”, “managers” e momentos da época

Fair PlayJulho 28, 202011min0
A Primeira Liga portuguesa teve o seu ponto final com drama, tragédia, emoção, alegria e todos os outros elementos bem combinados! Os nossos destaques particulares para uma Liga NOS 2019/2020 de boa qualidade chegam neste artigo

Campeão encontrado, apurados para a Europa também e despromovidos confirmados – foi preciso irmos até à última jornada para se apurar o último relegado à Ledman LigaPro -, numa edição da Liga NOS que será relembrada pela paragem entre Março e Junho, como igualmente pela dança intensa da troca de treinadores ou pela dualidade FC Porto-SL Benfica que foram trocando as voltas um ao outro durante toda a época.

TRÊS “WONDERKIDS” DA ÉPOCA

(Por João Negreira)

Pepelu

O médio-centro emprestado pelo Levante ao CD Tondela foi, indubitavelmente, a referência da equipa beirã, nesta temporada. Com 34 jogos realizados e 2995 minutos cumpridos, Pepelu demonstrou que merece outros palcos. Com apenas 21 anos, só falhou um jogo na Liga NOS e foi crucial para a equipa de Natxo González. Munido de uma grande qualidade de passe e de grande inteligência, foi ainda fundamental nas bolas paradas e mostrou ser muito aguerrido, aquando da perda da bola. Apesar de ter marcado apenas 2 golos, foi um dos jovens que marcou o campeonato português e espera-se que tenha uma oportunidade em Espanha.

Gustavo Assunção

Gustavo Assunção, filho de Paulo Assunção (ex- FC Porto), foi uma das figuras do jovem Famalicão. Um médio defensivo que ocupa muito bem o espaço e tem qualidade no passe, mas que faz muito do “trabalho sujo” que tem que ser feito, tendo 63% de eficácia em desarmes no chão. Chegado esta temporada do Atlético Madrid a custo zero, o jovem de 20 anos mostrou ser peça fundamental para João Pedro Sousa, tendo efetuado 37 partidas e cumprido 3089 minutos. O médio nascido em São Paulo foi claramente uma revelação, tendo já o FC Porto interessado nos seus serviços.

Marcus Edwards

A vinda de um britânico para Portugal estranhou muitos, mas Marcus Edwards fez um campeonato de se lhe tirar o chapéu. Esteve presente em 36 jogos, fez 2790 minutos e marcou por 9 vezes, sendo alguns deles de deixar o espectador de boca aberta. O extremo chegou a custo zero do Tottenham e faz da sua rapidez e velocidade as suas maiores armas. É ainda muito forte no 1 contra 1 e remata muito bem. O jovem internacional inglês de 21 anos, convenceu tudo e todos em Portugal e já é cobiçado pelo seu clube de formação.

Ainda uma menção honrosa para Francisco Trincão – que vai jogar no Barcelona na próxima temporada -, Bozhidar Kraev, Pedro Gonçalves e ainda Jovane Cabral, Eduardo Quaresma e Fábio Vieira – os últimos 3 destacam-se por só terem tido maior presença na parte final da temporada.

A análise do Iscout a Gustavo Assunção

QUANDO A EXPERIÊNCIA GANHA JOGOS… OS VETERANOS QUE DOMINARAM

(Por Rui Mesquita)

Pepe

O regresso do Pepe ao FC Porto foi atribulado, e houve quem ligasse essa chegada à perda do campeonato passado. O que é certo é que Pepe mereceu mais uma época como patrão da defesa portista e cumpriu. Os dragões terminaram com a melhor defesa do campeonato e o título, claro. Foram 2034 minutos em 25 jogos (perdeu algumas partidas por lesão), todos com uma segurança exemplar. Pepe é, aos 37 anos, um dos melhores centrais do nosso campeonato, e mostrou isso mesmo esta temporada. O central português foi, indiscutivelmente, um dos pilares do título azul e branco. Veremos o que esperar dele na próxima época, aos 38 anos.

Licá

Lord Licá, como é conhecido no futebol é um caso de superação. Início de carreira muito promissor e uma má estadia num grande (FC Porto) levaram-no a ser alvo de algumas críticas. Apesar disso, Licá não desistiu e tornou-se um jogador que a maioria das equipas gostaria de ter em Portugal. Uma dessas equipas é o Belenenses SAD que aproveitou os talentos do avançado para conseguir a manutenção. Licá foi, aos 31 anos, o melhor marcador da equipa (7 golos) e o seu melhor jogador. Um exemplo de insistência de um jogador ainda com qualidade para voltar a uma equipa da metade superior da tabela da Primeira Liga.

Tarantini

Pensar em veteranos da Liga NOS e não pensar em Tarantini é impossível. 36 anos de idade e um pilar de uma das melhores equipas da Liga. O Rio Ave conseguiu, na última jornada, o 5º lugar e muito desse sucesso se deve a Tarantini. Carlos Carvalhal pôs a equipa a jogar bom futebol, Taremi fez 18 golos, mas Tarantini segurou o meio-campo vilacondense. Um dos jogadores mais carismáticos e inteligentes do nosso futebol, com mais uma equipa de enorme qualidade. É complicado dizer se foi a última temporada de grande nível do capitão do Rio Ave, mas esta valeu bem a pena.

A nossa menção honrosa vai para Ricardo Costa que, aos 39 anos, é um pilar da defesa do Boavista, sétima menos batida da Liga. Um exemplo de perseverança e do papel de um veterano numa equipa, principalmente no eixo da defesa.

A importância de Licá no Belenenses viu-se no espectro ofensivo

O TRIO DE TREINADORES QUE APAIXONARAM O CAMPEONATO

(Por Francisco Isaac)

Carlos Carvalhal, João Pedro Sousa e Ivo Vieira. Estes são os três treinadores a merecer a nota quase máximo do Fair Play pela qualidade exibicional de cada uma das suas equipas, numa avaliação que teve cuidado em relação aos objectivos, atitude dentro e fora de campo, tipo de futebol postulado e capacidade de transformar o plantel num colectivo sólido e inabalável. Contudo, inserimos um elemento-chave que difere estes três dos restantes candidatos a esta menção honrosa: a paixão do futebol jogado. Sérgio Conceição foi campeão e não há dúvidas que foi quem superou melhor os problemas que surgiram à sua frente, tendo derrotado SL Benfica e Sporting CP nas duas voltas da liga, mas a qualidade de jogo nunca foi devotamente apaixonante ou estimulante.

Bem, indo a quem realmente nos encheu as medidas, comecemos pelo novo treinador do SC Braga, Carlos Carvalhal. Verdade que o Rio Ave tem se afirmado no top-7 do campeonato português nos últimos 5 anos, onde o futebol tanto de Luís Castro ou Miguel Cardoso tiveram um impacto cromático e interessante, mas com Carvalhal assistimos a algo diferente, algo que colocou os vilacondenses no centro das atenções de quem apreciava/aprecia futebol de espectáculo.

A forma elástica como o Rio Ave se expandia no campo, sempre pautado por uma organização refinada e pensada – Tarantini, um dos médios com mais minutos somados, aos 36 anos foi essencial nesta estrutura – e um ataque impulsivo, vibrante e postulado por uma agressividade na grande área foram duas bases para se atingir um dinamismo tão sólido, que permitiu-lhes castigar constantemente os adversários, sobretudo no aguentar a pressão e de ter arriscar no quando abordar o ataque dos vilacondenses. E há ainda que lembrar de um pormenor importante… que uma parte significativa dos jogadores chegaram nesta temporada 2019/2020, seja o caso de Mehdi Taremi, Lucas Piazón, Diogo Figueiras, Al Musrati, Pawel Kieszek, Pedro Amaral ou Aderlan Santos, combinando bem com quem já era da casa como Nélson Monte, Tarantini, Filipe Augusto e Diego Lopes, entre outros, sendo outra prova do trabalho de classe de Carlos Carvalhal.

Outro treinador que efectuou um excelente trabalho foi João Pedro Sousa, treinador do FC Famalicão. Na sua época de estreia na Liga NOS, foi capaz de guiar os promovidos da Ledman LigaPro 18/20 a um improvável 6º lugar, tendo rubricado uma época de um quilate bem elevado, lembrando também que era o plantel mais jovem com uma média de idades 24,7 (o Sporting CP terminou em 2º lugar, apresentando um elenco nos 24,8 anos de médida de idades), sendo que o 11 mais utilizado era pautado principalmente pela juventude – Defendi/Vaná, Roderick e Fábio Martins eram os únicos atletas acima dos 24 anos de idade.

Ao que parecia uma receita para um desastre e potencial luta desesperante pela fuga à descida, acabou por se revelar uma aposta de excelência, de valorização do elenco a nível colectivo e individual, como para a ascensão de João Pedro Sousa. Apesar dos 51 golos sofridos (4ª defesa mais batida), o técnico não abdicou de impor a mesma atitude de arriscar no ataque, de criar mecanismos baseados em rápidas rotações e triangulações mais expostas mas que sempre que corriam bem desaguavam num lance de perigo total para a equipa adversária, tendo esta dificuldades em bloquear o brilhantismo de Fábio Martins, Ton Martinez, Diogo Gonçalves ou Anderson Carvalho, sempre alimentada por Gustavo Assunção, Pedro Gonçalves e Uros Racic.

As ideias de João Pedro Sousa foram sendo validadas pelos bons resultados obtidos ao longo da época, que também no factor mental foi um mestre, tendo ultrapassado com calma e sem pânico a fase mais negra da temporada entre Janeiro e Fevereiro deste ano – seis jogos sem ganhar, três derrotas e uma das quais foi a goleada sofrida às mãos do Vitória SC.

Por fim, Ivo Vieira que acabou por sair do emblema vimaranense no final da época, depois de ter alcançado o 7º lugar que deveria ter sido melhor, pois o futebol jogado imprimiu excelentes detalhes, seja pela forma como os corredores ganhavam uma sagacidade para explorar tanto o jogo em profundidade ou alongar-se para o centro de terreno, equilibrando-se e reequlibrando-se com o apoio de um meio-campo inteligente e até mágico – João Carlos Teixeira finalmente teve espaços de manobra para se afirmar no futebol português -, catalisado pela verticalidade e gestão de bola possante deste Vitória SC 2019/2020.

Foi um Vitória com identidade e carregado de vontade de se impor em todos os sectores, que evitou recuar no terreno – na derrota em casa frente ao Gil Vicente, Ivo Vieira criticou a equipa por ter baixado o ritmo e permitido ser banalizado pelos gilistas -, fazendo se valer pelo plantel até bem apetrechado, faltando só mais consistência e no saber corrigir e viver com as subidas e descidas de ritmo e velocidade de jogo. Mas no geral, a formação de Guimarães foi apaixonante, elétrica e dinâmica e Ivo Vieira voltou a mostrar o mesmo timbre futebolístico demonstrado quando esteve ao serviço do Moreirense.

Poderíamos incluir nesta lista Rúben Amorim, que em Braga realizou um trabalho de qualidade sem consentir qualquer derrota para o campeonato ou Taça da Liga (dez vitórias e um empate) e em Alvalade lançou as sementes daquilo que poderá vir a ser o futuro do Sporting CP, terminando com 6 vitórias em 11 jogos disputados (3 empates e 2 derrotas). Existem linhas indistintas na estratégia do antigo internacional português,

OS 3 MOMENTOS QUE VIRARAM O MUNDO DE PERNAS PARA O AR

(Por José Nuno Queirós)

Como sempre todos os anos há mais em disputa no campeonato do que apenas o título nacional e como tal decidimos escolher um momento para cada luta que existiu neste campeonato.

Como seria inevitável o clássico FC Porto x SL Benfica acabou por ser absolutamente decisivo com a particularidade de que ninguém o imaginava quando as equipas de encontraram. Com 7 pontos de vantagem e com apenas 1 derrota no campeonato o Benfica era claramente favorito e mesmo a derrota não alarmava os adeptos.

Mas a realidade é que a vitória portista marcou mesmo o início do descalabro benfiquista e trouxe o ânimo necessário para o FC Porto atacar o que restava da competição e ser coroado como vencedor.

Mais abaixo na luta pela Europa o Rio Ave acabou por levar a melhor sobre o Famalicão, e se é verdade que a última jornada se revelou dramática gostava de recuar um bocado. Foi no estádio dos Arcos que o Rio Ave recebeu o SC Braga num jogo de  enorme importância para as aspirações dos vila condenses.

Com um início desastroso a perder por 2-0 os homens de Carlos Carvalhal conseguiram dar a volta ainda na primeira parte é quando na segunda o Braga empatou acabou por conseguir ir buscar mais 2 pontos com um penalty no último minuto. 3 pontos que se revelaram preciosos e que foram arrancados num dos melhores jogos.

Já na luta pela manutenção o Setúbal conseguiu a manutenção de forma extraordinária com um resultado inesperado.

No Estádio José de Alvalade os setubalense conseguiram empatar contra todas as expectativas, num jogo triste e sem oportunidades, mas com o 0-0 o VFC conseguiu partir para a última jornada com 1 ponto a mais que o Portimonense que recebia o Aves (que devido a todos os problemas era quase 3 pontos garantidos) e dependia só de si. Foi um ponto arrancado a ferros e que se revelou decisivo.

O fantástico Rio Ave-SC Braga


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