Há salvação para o futebol português?

Diogo SoaresMarço 3, 20253min0

Há salvação para o futebol português?

Diogo SoaresMarço 3, 20253min0
Será que o futebol português tem emenda? Diogo Soares olha para a actualidade com críticas à postura dos clubes e adeptos nacionais

Quando pensávamos que em 2024 ficara completa a renovação no dirigismo dos “três grandes” e que, com ideais do século XXI, André Villas-Boas, Rui Costa e Frederico Varandas, como os presidentes mais influentes, poderiam mover esforços em prol do futebol português, eis que as últimas semanas contribuíram para uma maior degradação do mesmo.

Numa altura em que devíamos estar preocupados com as fraquíssimas prestações dos clubes portugueses nas competições europeias nos últimos anos – e permitam-me a generalização, dou todo o mérito a Benfica e Vitória pela boa campanha nas respetivas competições esta época -, a verdade é que os clubes têm andado preocupados em disparar uns contra os outros, lançando suspeições sobre a verdade desportiva e sobre o carácter dos árbitros.

Deixo aqui um reparo: as arbitragens devem ser criticadas quando há motivo para tal. Defendo que deve haver essa liberdade, mas sempre com educação e elevação, sem nunca pôr em causa a integridade dos árbitros. Não estamos no século XX, onde não havia exposição mediática suficiente para comprovar atos, no mínimo, suspeitos.

É um facto que a qualidade dos árbitros em Portugal é baixa, e sacudir a culpa para os rivais é a escapadela mais fácil para justificar maus resultados que, em 2024/25, está a ser algo extraordinário para Porto, Benfica ou Sporting. Desde a saída de Rúben Amorim do clube de Alvalade que o campeonato tem estado a ser disputado com pouco e fraco futebol, de modo que, sem dúvidas, o campeão não será aquele que jogará melhor futebol, mas aquele que jogará futebol menos mau.

Como já referi, ignoramos as prestações além-fronteiras, porque só e somente só olhámos para o nosso umbigo e não percebemos que os Países Baixos estão cada vez distantes no ranking, e vemos Bélgica e Turquia a aproximarem-se a passo e passo. Fazemos de conta que outros clubes não existem e, entretanto, esses clubes vêm-se cada vez mais ostracizados, ao levarem de tabela com estas guerrilhas insignificantes.

Para piorar, a comunicação social faz um trabalho absolutamente sensacionalista e pouco são aqueles programas televisivos de comentários que se aproveitam – diria que os bons estão todos nos meios digitais -, que ajudam a incendiar a opinião pública, que, por sua vez, vai para as redes sociais insultar os outros e a eles próprios. Não há educação.

Esquecemo-nos dos clubes mais ‘pequenos’, esquecemo-nos que existe a Segunda Liga – que está a ter um dos melhores campeonatos dos últimos anos -, a Liga 3, Campeonato de Portugal e as Distritais, e empurramos esses clubes para a lama. Esquecemo-nos que esses clubes têm dificuldades em levar pessoas aos estádios, dificuldades em manter bons jogadores e dificuldades em recrutar bons jogadores, dificuldades em fazer boas épocas consecutivamente. Esquecemo-nos que esses clubes nem sequer têm capacidade para modernizar os próprios estádios ou centros de treinos, dependendo exclusivamente de autarcas que podem ou não ter interesse a apoiar os seus próprios clubes.

O futebol português não é o único futebol que existe, felizmente, mas é o motivo para o meu afastamento com o futebol em geral, deixando-me cada vez mais fã de outros desportos.

Respondendo à pergunta inicial, sim, há sempre uma salvação ~, mas há uma grande diferença entre salvar enquanto se afoga ou tentar salvar quando já está completamente submerso num vasto e fundo oceano.


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