A maturidade tática do FC Porto
Os dragões ao leme de Sérgio Conceição têm revelado nas últimas semanas nuances táticas diferentes, demonstrado que, a cada jogo, o modelo e processo do treinador do FC Porto está em constante desenvolvimento, não sendo estanque. Já vimos os dragões em 4-4-2, em 4-3-3, mas também em variantes como o 4-2-3-1 e o 4-1-4-1. Vários sistemas, mas a mesma ideia, privilegiar um jogo equilibrado, vertical e profundo, colocando bastantes unidades ofensivas na área contrária e com os laterais a pisar o último terço.
A maturidade desta equipa nota-se de semana para semana, mesmo que, em alguns momentos a performance não seja a melhor como foi o caso do jogo na Alemanha com o RB Leipzig, onde os portistas tiveram imensa dificuldade em lidar com um sistema vertical, veloz e intenso dos germânicos e com a facilidade com que Emil Forsberg se desmarcava nas entrelinhas. Um sueco que pôs o meio-campo andar à roda atrás dele, exibindo segurança, inteligência e muita classe e frieza sueca.
Já em Alvalade e no Mónaco viu-se a variante 4-2-3-1 e 4-3-3 a funcionar bem, mesmo com resultados distintos entre os dois jogos. Uma vitória contundente no principado em contraste com o nulo em Alvalade, onde mesmo assim os discípulos de Conceição realizaram uma primeira metade da partida em grande nível, podendo mesmo ter conseguido a vitória houvesse maior discernimento na finalização.
Herrera o homem do momento
Se há jogador que beneficiou imenso com as mudanças operadas depois da derrota com o Besiktas (1-3), foi o mexicano Hector Herrera, o capitão do FC Porto passou a ser titular em vez do castelhano Óliver Torres. Herrera foi durante as últimas semanas o rosto das várias mudanças táticas, personificando aquilo que é o 2º médio no campeonato português, em 4-4-2, e sendo o 3º elemento no 4-2-3-1 dos jogos europeus ou contra os grandes do nosso campeonato – como foi o caso contra o Sporting.
Sendo um jogador mais físico ao contrário de Óliver, o mexicano trouxe maior verticalidade e transporte de bola (em condução e não em passe) nos momentos ofensivos utilizando toda a largura do campo, e maior capacidade de choque e recuperação – mais vai e vem – nos momentos defensivos. Perdendo a criatividade, o FC Porto ganhou um box-to-box multifunções. É um jogador que passa por um bom momento e vai evoluindo a jogar, demonstrado facetas diferentes como com o Belenenses onde foi mais um “8” e menos o “10 de pressão”. Pausou e pensou mais e não envolveu-se tanto em correrias com bola, deixando isso entregue a André André. Estará Sérgio Conceição a moldar o nº 16 para ser um médio mais pensador e menos operário?
Porque não juntar a criatividade com verticalidade
Herrera funciona muito bem como médio de ligação, habituado a grandes corridas dentro do retângulo verde, o azteca sente-se como peixe na água quando tem liberdade para, em transição ofensiva, ser o último homem do meio-campo e conectar com os avançados – assim foi no Mónaco e Alvalade.
No entanto, optando por uma unidade mais física e menos cerebral, o FC Porto acaba por ficar mais órfão do que o adversário possa fazer, do que ser auto-suficiente para criar para si. A junção de Óliver com Herrera poderia ser o ideal para juntar os dois mundos. Tal e qual como fez Lopetegui na primeira passagem de Óliver pela casa do Dragão.
Ganharia o FC Porto um médio de maior elaboração de jogo, maior criatividade no último terço e maior capacidade de retenção de bola quando for preciso administrar um resultado positivo. Algo que tem faltado aos azuis e brancos em jogos de maior exigência onde o adversário “luta” até ao final, assim foi no Bessa.
Num modelo que privilegia a verticalidade, velocidade e profundidade, o perfume mais pausado e inteligente de Óliver poderia ser o complemento ideal para dar maior lucidez às ideias preconizadas por Sérgio Conceição. Restará perceber se o mesmo estará interessado em juntar o criativo ao operário e juntos tornarem o apoio a Brahimi e companhia mais interessante e desenvolvido no terço final.