O caso Braga – modelo de crescimento único em Portugal pt.2

Ricardo LopesFevereiro 13, 20239min0

O caso Braga – modelo de crescimento único em Portugal pt.2

Ricardo LopesFevereiro 13, 20239min0
Segunda parte da análise de Ricardo Lopes ao sucesso e crescimento do SC Braga, com agora a olhar para as transferências e investimento

O Braga de António Salvador, conseguiu ter a capacidade de vender ao nível dos grandes. Aida hoje em dia, é uma raridade vermos equipas em Portugal a conseguir alores na ordem dos milhões de euros pelos seus atletas, muito menos essa capacidade de investimento. Vejamos uma lista das melhores transferências realizadas pelo Braga, durante o mandato de Salvador:

Transferências milionárias, acompanhadas de boas compras

Podemos verificar nesta gigante lista (que poderia ser muito maior), que existem jogadores que foram extremamente bem vendidos, dando lucro parcial (maioria dos casos), ou até mesmo lucro total como Trincão, Samu Costa ou Vitinha, que chegaram à A oriundos da formação (Samu Costa somente realizou um jogo na equipa principal, o que mostra a qualidade das camadas jovens “arsenalistas”, quando já jogadores da B são adquiridos por grandes valores), um ponto em que o Braga é cada vez mais forte.

Como podemos verificar, o Braga tornou.se mais exigente com os negócios, pedindo mais capital, acompanhando a tendência mundial. Se antigamente a equipa bracarense era um fornecedor de equipas para os grandes, agora o mercado estrangeiro também está atento, fazendo propostas que Sporting, Porto ou Benfica não podem cobrir (casos de Trincão ou Vitinha). Muitos destes jogadores tornaram-se fundamentais em seus futuros clubes e proporcionaram boas vendas.

O bom trabalho nas saídas, realça-se na qualidade de jogadores que entraram para o Braga, oriundos de campeonatos mais conhecidos, mas também de lugares pouco falados e/ou divisões inferiores. Há bons exemplos para os dois casos. Rafa Silva é um claro caso de atleta conhecido. Foi a estrela do Feirense em 2013/14 e era pretendido por muitos clubes, não sendo uma descoberta do SC Braga, que simplesmente ganhou a corrida aos seus adversários. Já Vukcevic foi adquirido do Podgorica, equipa do campeonato montenegrino.

É necessário ter um bom scouting para descobrir atletas nestes países, com pouca projeção mediática. Se no caso de atletas de divisões secundárias ou campeonatos periféricos tem que de dar mérito ao Scouting, na parte da negociação de jogadores já conhecidos terá que se acrescentar a direção e pessoas responsáveis pela mesma. Não é fácil para uma equipa como o Braga seduzir um jogador com outras propostas, tendo que haver uma grande capacidade de negociação e de sedução. Os “arsenalistas” tem sido um dos melhores clubes na Europa neste quesito. Consegue comprar jogadores a um bom preço e mais tarde vende por um valor substancialmente superior.

Um dos grandes apoios que os “guerreiros” receberam nos últimos anos foi de Jorge Mendes. A boa relação com o empresário fez com que alguns atletas fossem vendidos a um bom preço (às vezes valorizado em demasia) a equipas em que o empresário tem/tinha influência como o Valencia CF ou o SL Benfica.

Foto: SC Braga transferências

Infraestruturas

Um dos pontos que leva a que o Braga tenha conseguido uma evolução tão rápida foram as suas infraestruturas. Com um estádio e uma academia de alta qualidade, fica mais simples para os atletas evoluírem, o que melhora a performance do clube em todos os aspetos.

O Estádio Municipal de Braga, ou a “Pedreira”, foi construído para o Euro 2004, sendo um dos estádios mais modernos da Europa, ganhando muitos prémios de arquitetura. Ainda assim, fica um pouco longe da cidade e os acessos não são os melhores, o que leva a que exista uma critica generalizada. O projeto de “reavivar” o Estádio 1º de Maio é algo aprovado pelos adeptos, já que fica muito mais centralizado e trata-se do antigo estádio do clube, que traz muitas memórias. Uma melhora no 1º de Maio evitaria a construção de um novo estádio e levaria a que os “guerreiros do Minho” não gastasse tanto capital. Porém, seria mais um estádio do Euro 2004 que ficaria “perdido”.

Já a Cidade Desportiva é mais recente, totalmente projetada e construída na era de António Salvador. Muitos poucos clubes podem dizer que têm uma Academia própria. Nem o FC Porto tem uma. Com uma Cidade Desportiva, o Braga tem todas as condições para formar melhor os jovens, podendo ter uma das melhores formações do país (que se pode verificar pelos resultados).

Vemos cada vez mais jovens a integrar o plantel A dos minhotos, o que mostra que a Cidade Desportiva está a dar os seus frutos. David Carmo e Francisco Trincão são dois bons exemplos dos resultados produzidos: dentro das 4 linhas fizeram grandes exibições e fora delas proporcionaram grandes vendas, que marcam a história do futebol nacional.

2022/23: exemplo de bom planeamento

O SC Braga despediu-se de Carlos Carvalhal no final da época passada, sendo considerados alguns nomes apontados aos “arsenalistas”, alguns até mesmo com estatuto, como no caso de um hipotético regresso de Jorge Jesus. António Salvador preferiu promover o treinador da equipa Artur Jorge, que já havia passado pelo banco do Braga, de uma maneira interina. Em 2019/20 participou em cinco partidas, após a sua promoção, já que treinava os juniores. Com o final dessa época regressou aos escalões “inferiores”, no entanto passou a ocupar a vaga de treinador dos sub 23 e na época seguinte da B.

Na prática, Artur Jorge passou por todos os escalões até assumir a equipa A, o que prova que é um conhecedor da casa. Além disso representou o clube por mais de uma década como futebolista. Na teoria, era um casamento que tinha tudo para dar certo e que seguia o modelo que António Salvador pretendia, um treinador promissor e que saiba desenvolver atletas, com a vantagem que muitos deles já conhecem a metodologia de Artur Jorge.

A equipa foi montada com qualidade em todas as posições, ainda que haja certas debilidades na defesa. As grandes estrelas dos “guerreiros” situam-se no meio campo e ataque, como Al Musrati, Ricardo Horta, Vitinha (entretanto transferido) ou Banza. Neste momento, todos os pontas de lança do SC Braga seriam titulares no Sporting, o que prova a sua elevada capacidade e qualidade. A defesa tem menos nível, no entanto vale a pena destacar Matheus e Tormena. Mesmo os jogadores que não são estrelas nem titulares absolutos, têm muita capacidade como o caso de André Horta, Iúri Medeiros ou Abel Ruiz.

O plantel está recheado de elementos da formação como Bruno Rodrigues (entretanto emprestado), Gorby, Dinis Rodrigues, Rodrigo Gomes, Álvaro Djaló ou Roger Fernandes, sendo que jogadores como Francisco Moura e Zé Carlos estão cedidos para continuarem a crescer. Não existe o receio de promover elementos da equipa B, como já acontecia com Carlos Carvalhal. No fundo é mais uma manobra para ter um bom plantel: gasta-se menos dinheiro em jogadores suplentes e os jovens ganhou rotinas mais cedo, podendo ser mais vezes aposta.

A equipa pode colocar-se de várias maneiras em campo, apresentando-se mais rotinada a um 4x4x2 e a um 4x2x3x1, contando com elementos que podem desempenhar várias funções em campo. Ainda assim, a utilização de sistemas com três centrais não é descartada, embora tenha tido insucesso recente (derrota pesada contra o Sporting).

O mercado de Janeiro levou Vitinha, numa transferência recorde para os “arsenalistas”: 32 milhões de euros. No entanto, o regresso de Pizzi e a chegada de Bruma são reforços de peso. Pizzi pode dar mais criatividade e capacidade de construção, enquanto que Bruma possui uma técnica fora do comum. São jogadores para render no imediato, já que Salvador quer resultados a curto prazo. Apesar de tudo, o alvo Fran Navarro não foi concretizado, não se conseguindo um substituto direto para Vitinha.

A temporada está a correr de feição. Apesar de alguns resultados negativos (goleada frente ao Sporting e falha no apuramento para a fase seguinte da Liga Europa), o trabalho de Artur Jorge está a ser satisfatório, mantendo a equipa no top 3 da Liga Portuguesa, com aspirações válidas à conquista da Conference League e da Taça de Portugal. Isto tudo aliado a um bom futebol.

Será possível chegar ao título a curto prazo?

O Braga tem todas as condições para tornar-se um regular candidato ao top 3 do campeonato. É um clube com cada vez mais condições e com uma estrutura estável. Está mais próximo dos “três grandes” do que dos restantes, no entanto a batalha pelo título é muito complicada. É necessário ter um plantel supercompleto, com elementos que saibam resolver partidas. Além disso é necessário que o nervosismo de lutar por algo não exista ou pelo menos que não afete a equipa em campo. Por fim é obrigatório ter alguma sorte.

É essencial que as equipas que consideramos eternas candidatas não estejam a ter um grande período. 2022/23 seria uma boa oportunidade, no entanto estamos a assistir a um super Benfica e a um Porto de qualidade (ainda que pior que no ano passado), com o Braga a conseguir lutar pelo segundo lugar, até ao momento. Esta temporada somente o Sporting apresentou mais debilidades. Para o Braga ser campeão é necessário que exista um ano negativo para todos, porque apesar de tudo, têm mais capacidade que os minhotos para chegar ao título. Ainda assim, o crescimento a olhos vistos dos “guerreiros” faz com que a possibilidade de vermos a equipa campeã nos próximos tempos não seja um pensamento bizarro.


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