Destronar Jardim

Fair PlayAgosto 26, 201710min0

Destronar Jardim

Fair PlayAgosto 26, 201710min0
O que esperar dos emblemas competidores da Ligue 1 na presente temporada?

No país em que o golo de Éder materializou o sonho português, território de tantas venturas e desventuras “lusas”, a armada monegasca comandada por Leonardo Jardim ousou quebrar a hegemonia parisiense. Para Nasser Al-Khelaifi, proprietário do clube da capital, não há mecanismo da UEFA que provoque um abrandamento no investimento e Neymar Jr. é o novo príncipe do parque da capital gaulesa, símbolo da tentativa de destronar a equipa do Principado. O sonho de conquistar a “orelhuda” europeia continua a povoar o imaginário dos adeptos parisienses, mas primeiro há que voltar a ganhar internamente. Sinais de crescimento em Marselha e bons ventos de Lyon, ainda que aparentemente insuficientes para contrariar uma luta que se adivinha a dois.


PSG

Atendendo ao domínio exercido ao longo das últimas temporadas, torna-se um exercício estranho abordar a época 2017/18 da Ligue 1 sem associar o estatuto de campeão em título ao PSG. A conquista das duas taças internas serve meramente para atenuar uma temporada que foi um fracasso para a equipa que viu a sua hegemonia quebrada pelo Mónaco e acabou eliminada da Liga dos Campeões, em pleno Camp Nou, de uma forma escandalosa. Nasser Al-Khelaifi tem múltiplos “vícios” próprios de um milionário que gere os destinos de um clube europeu, mas demonstrou uma paciência pouco habitual para com o treinador espanhol Unai Emery, sucessor de Laurent Blanc, ao mantê-lo no cargo.

Neste mercado de transferências, para além da aquisição de Neymar, chegaram ainda à capital francesa Yuri Berchiche e Dani Alves, este segundo decisivo na final da Supertaça conquistada ao AS Mónaco. Os adeptos parisienses estão naturalmente maravilhados com a aquisição de Neymar, mas os problemas deste PSG raras vezes estiveram relacionados com o ataque, bastando olhar para a qualidade/quantidade de opções que Unai Emery possui para montar o habitual trio ofensivo. No meio-campo, Thiago Motta não vai para novo e Grzegorz Krychowiak, sendo uma aposta pessoal de Emery, ficou algo aquém, situação que desperta atenção para a possibilidade de o PSG necessitar de se reforçar para o vértice mais recuado do meio-campo. Intransigentes face à condição de Marco Verratti, os dirigentes do clube parisiense esperam que o internacional italiano tenha uma temporada sem grandes problemas físicos. Para o setor mais recuado, a necessidade de um central, mesmo tendo Presnel Kimpembe na “sombra” da dupla Marquinhos – Thiago Silva.

Emery tem um estilo. Privilegia a construção a partir de trás, com um futebol apoiado em que todos tentam ser solução. Numa equipa como o PSG, terá que haver sempre espaço para a liberdade criativa dos jogadores, para o ímpeto natural, mas a equipa está menos direta que na era Blanc. O PSG é um mastodonte competitivo que dificilmente perderá duas vezes consecutivas.

AS MÓNACO

Não se trata de “fazer uma omelete sem ovos”, mas Leonardo Jardim é conhecido por realizar bons trabalhos com as condições e recursos que tem, muitas das vezes indo muito para além das expectativas. O desafio para a nova temporada passa por reinventar uma equipa do Mónaco que já não conta com Benjamin Mendy, Tiemoué Bakayoko, Bernardo Silva, Valère Germain e Nabil Dirar. O sucesso paga-se caro e o Mónaco está a padecer de algo a que nos acostumámos na realidade portuguesa. No entanto, no Principado há capacidade financeira para recrutar atletas de qualidade como Terence Kongolo e Youri Tielemans, preenchendo as lacunas deixadas. A ausência do génio do português Bernardo Silva é, muito provavelmente, a maior perda para a equipa monegasca, pelo menos enquanto a saída de Kylian Mbappé não se efetivar.

Ao longo da época 2016/17, Leonardo Jardim desconstruiu a imagem que tinha criado em Portugal, bem como na primeira época de AS Mónaco: a de um treinador com uma ideia de jogo mais conservadora, marcadamente defensiva. O inexcedível ataque monegasco, sem paralelo nos principais campeonatos europeus, maravilhou o “velho continente”. Mérito de Jardim no processo de recuperação de Radamel Falcao, jogador que se encontrava desacreditado após empréstimos falhados a Chelsea e Manchester United.

Por muito que ostente o título de campeão em título, torna-se difícil pedir a este Mónaco a revalidação. A equipa do Principado continua a reunir muita qualidade e dificilmente terá uma época “leicesteriana”, sendo certo que o apuramento para a Liga dos Campeões é um objetivo. Dependendo do quão longe chegar na “liga milionária”, poderá discutir as taças internas, negligenciadas na época passada em função do calendário apertado.

NICE

O Nice foi mais uma das boas surpresas da temporada europeia em 2016/17. A competência do técnico suíço Lucien Favre guiou a equipa gaulesa ao terceiro posto da Ligue 1 e consequente acesso à fase preliminar na Liga dos Campeões, perdendo no “play-off” de acesso frente ao Nápoles de Maurizio Sarri.

Entre a “domesticação” de Balotelli e o terceiro lugar alcançado, não é fácil definir qual foi o maior feito orquestrado por Lucien Favre. O italiano deu um importante contributo ao Nice e mantém-se no plantel, mas é nos pés de Michael Seri (ex-Porto e Paços de Ferreira) que reside muito do sucesso deste Nice. O médio internacional pela Costa do Marfim de 26 anos tem sido muito cobiçado segundo a imprensa internacional, porém, até ver, permanece no clube.

A principal figura para a nova época é Wesley Sneijder, holandês que chega a França proveniente dos turcos do Galatasaray e decerto que em boa hora saberá dar o seu valioso contributo. Há muita juventude às ordens de Favre, desde Koziello a Pléa, sem esquecer Allan Saint-Maximin e Wylan Ciprien. A saída de Dalbert (ex-Vitória SC e Académico de Viseu) para o Inter de Milão terá sido a mais significativa até à data, mas é difícil prever uma campanha com contornos semelhantes à da época transata, até porque a concorrência está mais forte e o Nice não é mais uma novidade.

LYON

O Lyon é um forte candidato a atacar o “top 3” nesta temporada 2017/18, após ter terminado a última edição da Ligue 1 no quarto posto e alcançado o acesso direto à fase de grupos da Liga Europa. Alexandre Lacazette deixou a “casa mãe” para rumar ao Arsenal e Corentin Tolisso e Valbuena também já não moram em Lyon, mas o clube regido pelo histórico dirigente Jean-Michel Aulas mexeu-se bem no mercado, contratando Bertrand Traoré, jogador importante na campanha do Ajax rumo à final da Liga Europa, Mariano Díaz ao Real Madrid, o promissor Ferland Mendy ao Le Havre e Fernando Marçal, jogador cujo passe pertencia ao Benfica e que na última temporada se tinha destacado no Guingamp. Convém lembrar que a equipa continua a contar com Depay, Fekir, Grenier ou Darder e segue soborientação do treinador francês Bruno Genesio.

MARSELHA

No sul de França impera a convicção de que a temporada 2017/18 poderá representar mais um passo importante na recuperação (e reafirmação) do Marselha. Os novos proprietários do clube permitem um reforço do investimento e consequentemente uma boa injeção de confiança na vida de um clube que quer fazer com que os seus fanáticos adeptos continuem a lotar as bancadas do novo Velódrome, palco que tem tudo para ser um dos “cofre fortes” nesta Ligue 1 2017/18. Agora com Rudi Garcia no comando desde o “dia 1” da nova temporada, a formação do Marselha ambiciona atingir outros patamares, sendo que para isso também continuará a poder contar com a fantasia do capitão Dmitri Payet. Florian Thauvin também está de regresso a uma casa que bem conhece, partilhando o balneário com Valère Germain (ex-AS Mónaco), N’Jie (ex-Tottenham), Luiz Gustavo (ex-Wolfsburg) e Adil Rami (ex-Sevilha). Note-se que o Marselha recrutou vários jogadores com experiência, na casa dos “30”, procurando impor liderança no balneário e tentar com que a equipa seja mais consistente que nas últimas épocas. Na Liga Europa, o “OM” defrontará o Vitória Sport Clube.

BORDÉUS

Os especialistas elevam a expectativa para a campanha do Bordéus nesta Ligue 1, sobretudo depois de um ano muito prometedor. Há quem suba a fasquia ao ponto de colocar a hipótese de os comandados de Jocelyn Gourvennec orquestrarem um feito idêntico ao do Nice na última temporada. Com uma equipa jovem e pejada de talentosos jogadores que se querem mostrar à Europa do futebol, os responsáveis do Bordéus não esquecem a importância de elementos como Jérémy Toulalan ou Jaroslav Plasil, dois dos quatro “trintões” de uma equipa que promete deixar “água na boca” sobretudo do meio-campo para a frente. Muita atenção ao setor atacante desta equipa do Bordéus, comandado por Mendy.

LILLE

Debruçarmo-nos sobre aquilo que poderá ser o Lille de Bielsa é um exercício arriscado, muito na linha de qualquer projeto que o técnico argentino assuma. O estilo, esse, é inconfundível e inegociável, restando saber até que ponto “El Loco” conseguirá viver na sua frágil harmonia.  Gerard Lopez, novo proprietário do clube, contratou os serviços de Bielsa bem como os do português Luís Campos para o cargo de diretor desportivo. Num ano em que a equipa não vai participar nas competições europeias, a meta passa pelo regresso já na próxima temporada. A importação de talento brasileiro como Thiago Maia, Thiago Mendes ou Luiz Araujo surge nesse sentido, sem esquecer Nicolas Pepe, Anwar El Ghazi ou De Preville – em Lille já não mora Éder, herói nacional que rumou ao Lokomotiv de Moscovo. Há um projeto em Lille que tem como finalidade alcançar a Liga dos Campeões a médio prazo, restando saber se o seu timoneiro se manterá fiel ao acordo assinado.

NINGUÉM QUER SER O TROYES

Na última edição da Ligue 1, a luta pela manutenção prolongou-se quase até final, sem condenações prévias. O Troyes, em 2015/16, é o exemplo perfeito daquilo que as equipas recém-promovidas querem evitar, embora pairem muitas dúvidas quanto às capacidades deste Amiens, pelo menos na sua atual versão. O Estrasburgo, adversário que será “duro de roer” sobretudo a jogar em casa, aparenta ter melhores condições para se manter “à tona” na realidade gaulesa.

TRÊS JORNADAS JÁ DISPUTADAS

As primeiras três jornadas atestam a força de PSG e AS Mónaco, os dois mais fortes candidatos à conquista do ceptro. Parisienses e monegascos parecem estar num pedestal competitivo à parte, reservando a discussão das competições europeias para um grupo encabeçado por Lyon e Marselha, que num segundo nível contará com o Bordéus e o Nice (que, diga-se, dificilmente repetirá a campanha do ano passado). A partir mais de trás, o histórico Saint-Étienne que está bem lançado neste início de campanha e o Lille de Bielsa que ainda padece de naturais “dores de crescimento” nesta fase da temporada.


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