Quadro táctico da LaLiga: como joga… o Real Bétis de Manuel Pellegrini

O nome de Manuel Pellegrini já não será, certamente, estranho à grande maioria dos adeptos de futebol. O técnico chileno, que fará amanhã 69 anos, conta já com uma ilustre carreira, marcada por sucessivas passagens por grandes emblemas, que se apresentam como fortes competidores nos principais campeonatos do mundo.

Desde Agosto de 2020, há pouco mais de 2 anos, que Pellegrini é um dos protagonistas da LaLiga, sendo a “cara” do projecto desportivo do Real Bétis. E, em Sevilha, temos assistido a mais um trabalho de alto gabarito de um treinador que representa claramente uma vaga sul-americana de técnicos caracterizados pela intensidade que colocam nas suas equipas e pela naturalidade e coragem com que estas actuam dentro das quatro linhas.

A cumprir a sua terceira temporada ao leme dos “verdiblancos“, Pellegrini tem vindo a sustentar o clube na metade superior da tabela, evoluindo progressivamente os resultados obtidos (o Bétis chega a esta temporada com um 6º e um 5º lugar nas últimas duas épocas, respectivamente, tendo também aumentado de 61 para 65 o número de pontos conquistados entre as mesmas) e a qualidade exibicional demonstrada pela sua equipa, baseando-se para tal numa postura positiva e pró-activa dentro do terreno de jogo, procurando assumir a iniciativa da partida e o ritmo a que é disputada.

É esta a filosofia e a identidade deste Bétis, cujas bases foram lançadas pelo trabalho de Quique Setién a partir de 2017 e brilhantemente desenvolvidas pelo técnico chileno, que conta com uma larga experiência na implementação deste tipo de futebol, na consolidação das suas bases e princípios e na gestão do grupo, fruto de projectos anteriores muito bem sucedidos, como são exemplos o Málaga ou o Manchester City.

Sendo certo que o futebol não é um fenómeno compartimentado e que tudo se interliga para a obtenção do resultado final, é da parte táctica que falaremos aqui hoje. Como jogam, quais os seus pontos fortes, quem são os protagonistas.

Este é o quadro táctico actual do Real Bétis.

O Bétis 2022/23: fluidez e ousadia

Pellegrini dispõe normalmente a equipa num 4x2x3x1, claramente identificável quando o Bétis tem a posse da bola.

O seu jogo assenta em duas ideias basilares: a intenção de ter a bola especificamente para atacar a baliza adversária e criar oportunidades de golo, e a vontade expressa de conferir liberdade quase total aos principais criativos e desequilibradores, para que estes se encarreguem de assegurar fluidez no plano ofensivo.

Dois princípios que parecerão algo contraditórios, sobretudo a treinadores habituados à filosofia do “jogo de posição”, tendência futebolística principal da última década e que implica a ocupação correcta dos espaços em todos os momentos, espaços esses aos quais este Bétis, em vez de ocupar, pretende chegar em situações específicas.

Exemplo disso mesmo é a forma como os seus laterais se comportam no ataque, projectando-se bastante no meio-campo adversário e galgando metros nos corredores laterais até à linha de fundo. São eles que garantem a largura de uma equipa que procura juntar e associar os seus criativos na zona central, promovendo trocas posicionais entre os três elementos (que, em teoria, serão representados por Sergio Canales, Nabil Fekir e um terceiro jogador de cariz mais vertical) que actuam nas costas do avançado-centro (Borja Iglesias ou Willian José).

Estes quatro jogadores comportam-se de forma harmoniosa, complementando as suas acções para ameaçar constantemente a defensiva adversária. Se a bola está no corredor esquerdo, por exemplo, é frequente vermos dois destes jogadores a associarem-se nessa zona do terreno, enquanto o elemento do lado contrário da bola procura atacar a profundidade para desequilibrar a organização adversária. Movimentos aparentemente desconexos, mas fluídos e que se notam estar cada vez mais rotinados.

Uns passos atrás – no campo e no processo ofensivo – o Bétis de Pellegrini é também uma equipa que não abdica de uma construção iniciada a partir da sua defesa e de forma apoiada. Abre o campo com os seus laterais, inclui o guarda-redes na saída de bola e, como alternativa a oponentes preparados para esta estrutura, utiliza o médio mais defensivo do duplo-pivot (normalmente o argentino Guido Rodríguez) como terceiro defesa, salvaguardando a zona central e fazendo baixar, nesta situação, um dos médios ofensivos para se aproximar do “8” (posição ocupada pelo português William Carvalho), ligar o jogo e ultrapassar a pressão.

Sem a bola, o Bétis não muda significativamente o seu posicionamento no terreno de jogo. Defende habitualmente em 4x4x2, com o elemento mais central do meio-campo ofensivo a juntar-se ao avançado na linha da frente. Aqui, é notória a existência de referências “homem-a-homem” em terrenos mais adiantados, com o avançado a procurar empurrar a bola para um dos lados do campo antes de activar a pressão, “guiando” a marcação individual para os elementos mais próximos do portador.

Já no momento de organização defensiva, a equipa apresenta um bloco médio, compacto e preocupado principalmente em reduzir o espaço entre linhas. Com pouca largura, o Bétis procura dirigir o adversário para os corredores laterais e aí pressionar, forçando o erro ou obrigando a que o adversário recue no terreno.

Uma equipa organizada, disciplinada e cada vez mais estável, em todas as fases da partida.

Actualmente na 3ª posição – apenas atrás dos “tubarões” Real Madrid e FC Barcelona – o Real Bétis começa a ser um crónico candidato aos primeiros lugares do campeonato e à presença nas competições europeias. Este é o resultado de vários anos de competência técnica e de uma identidade bem definida, num clube que sabe bem qual o caminho a percorrer para atingir o sucesso. No Benito Villamarín, assiste-se ao crescimento sólido e sustentável de um dos mais interessantes projectos da LaLiga.