O caso de Sérgio Conceição e a falta de visão da SAD do FC Porto

Francisco IsaacSetembro 7, 201810min0

O caso de Sérgio Conceição e a falta de visão da SAD do FC Porto

Francisco IsaacSetembro 7, 201810min0
Um Verão muito amargo para o treinador dos azuis-e-brancos que percebeu a extensão de falta de visão de da SAD do FC Porto. Qual o futuro do treinador na Invicta?

4ª jornada completa, o FC Porto somou três vitórias em quatro jogos, consentindo uma única derrota na recepção ao Vitória SC, por 3-2. 13 golos marcados, 5 sofridos, um arranque estranho do Campeão Nacional que teve tanto de momentos exorbitantes (reviravolta no Jamor, depois de um 2-0 desperdiçado) como preocupantes (derrota com a formação vimaranense), transitando de um futebol galopante e dominador (como foi contra o GD Chaves) para uma falta de execução e ausência de intensidade surpreendentes (mais uma vez, melhor exemplo foi com o Vitória SC).

Este parágrafo inicial explica muito sucintamente o que foram os primeiros quatro jogos oficiais para Liga NOS, sem falar da vitória na Supertaça ante o CD Aves, jogo que pôs a nu algumas debilidades dos azuis-e-brancos, mas que também provou a capacidade de reacção e de luta dos comandados de Sérgio Conceição.

O CONVIVER AMARGO COM O MERCADO

A acompanhar paralelamente este início de temporada estava o Mercado de Transferências a carburar, com várias confirmações diárias de negócios e transferências tanto no cômputo nacional como internacional.

No caso do FC Porto fintou-se constantemente a saída de jogadores nucleares, caso de Yacine Brahimi (termina o contrato no final da época e perspectiva-se uma saída a custo-zero), Hector Herrera (mesma situação que o argelino, podem ler tudo aqui: fins de contrato), Vincent Aboubakar e Moussa Marega (o maliano ainda teve um confronto directo com a SAD e treinador, sendo posto de lado durante três jogos).

Impediu-se a saída de activos por um lado, mas por outro durante os 60 dias de transferências não se confirmaram os reforços desejados por Sérgio Conceição. O treinador demonstrou mesmo o seu desagrado em algumas conferências de imprensa, fazendo alusão de que era necessário reforçar o plantel de modo a ter uma época mais estável e equilibrada.

“Há meia dúzia de jogadores que não têm capacidade para jogar no FC Porto. É visível. Acabei a defesa com o Oleg da equipa B, o Mikel a central, o Leite que veio da B e o Janko. Depois à frente o Ewerton, o Bruno Costa, o André Pereira… Ou seja, miúdos que vieram da equipa B ou emprestados. Nós precisamos de soluções. Esta é a verdade e não o posso escamotear. Além disso, o Aboubakar veio mais tarde, o Marega e Brahimi treinam há uma semana… A capacidade dos miúdos e dos jogadores novos entenderem o que queremos não é a desejável”

Contudo, foi tudo menos uma ida ao mercado equilibrada e sensata por parte da direcção encabeçada por Jorge Nuno Pinto da Costa com vários erros e tropeções complicados… vejamos. Oficialmente entraram 8 novas caras para o plantel, sendo que só quatro entraram directamente nas contas do treinador dos azuis-e-brancos: Chancel Mbemba, Éder Militão, Riechedly Bazoer e Jorge, estes dois últimos chegaram no último dia e meio de mercado.

Depois há alguns em situação intermitente caso de João Pedro (foi cedido à equipa B e não tem se dado bem na Ledman LigaPro) e Marius (marcou um golo na estreia, mas não será reforço do plantel a 100%). Dispensados foram mesmo Saidy Janko, Ewerton, mais os reforços de Inverno Paulinho, Osorio e Majeed Waris (estes três juntos custaram cerca de 13M€).

Ao todo, os campeões Nacionais gastaram cerca de 30-35M€ (depende do valor final de Ewerton, estando a excluir Jorge e Bazoer desde logo)… dos reforços que ficaram mesmo no clube contam-se 12M€-15M€, apresentando uma realidade muito estranha para a SAD do FC Porto: reforços que nem entram nas contas do treinador.

Notar que Adrián Lopez, Chidozie, André Pereira e Alberto Bueno foram reintegrados no plantel depois de empréstimos, com Bueno a ser uma surpresa de última hora por parte do clube.

Nos últimos 30 e tais anos de Jorge Nuno Pinto da Costa à frente do clube, aconteceram maus negócios, chegaram atletas que viraram flops e deram-se autênticos erros de casting… este é um factor que pode ser aplicado a qualquer clube a nível mundial. Todavia, é extremamente raro dar-se o que aconteceu ao FC Porto em 2018, ou seja, contratarem-se jogadores que são praticamente dispensados alguns dias depois de terem chegado.

Este factor é representativo de alguma colisão entre o técnico principal e a SAD dos azuis-e-brancos, com algumas trocas de recados entre as duas partes. Sérgio Conceição não ficou satisfeito pela direcção não encetar pelo caminho de reforços escolhido por si e a SAD continuava entre um frenesim de contratações (João Pedro, Janko e Ewerton chegaram quase ao mesmo tempo) ou um “desaparecimento” completo do mercado.

Curiosamente, o presidente do FC Porto falou da falta de reforços mas apontou para o trabalho a fazer pelo treinador na valorização dos atletas que tinham chegado,

Naturalmente que o Sérgio Conceição gostava de ter mais reforços e eu também. Os treinadores têm de ter a capacidade de treinar os jogadores que estão à sua disposição, como o Sérgio Conceição fez na época passada, tirando o máximo rendimento deles para poder chegar aos nossos objetivos

Percebe-se por um lado a preocupação total do treinador, que deseja evitar a todo o custo mais uma época de sofrimento e de decisão só nos últimos momentos, para além de ter vontade em realizar uma Liga dos Campeões com outra vocação. Quem conhece o discurso de Sérgio Conceição, sabe perfeitamente que o mesmo quer conquistar pelo menos todos os títulos a nível Nacional e para isso necessita de um plantel profundo, munido de opções de qualidade e sem sobressaltos.

PAZ ARMADA PERANTE OS NÃO-REFORÇOS E A DEFESA “COXA”

Os cinco golos sofridos no arranque da liga representou um recorde no arranque de época do FC Porto, pelo menos no que concerne nos últimos 20 anos… ao contrário de 2017/2018 onde foi praticamente perfeito o início de temporada. Facilmente, o leitor explica a razão dos cinco golos consentidos, que passa pelas saídas de Ricardo Pereira e Iván Marcano.

Como já explicado em outros artigos, o lateral-direito foi fulcral na caminhada para o título com não só inúmeras assistências e alguns golos, mas principalmente com estabilidade nas subidas e descidas no apoio ao ataque e a capacidade de aguentar com os melhores extremos do campeonato. Infelizmente para os adeptos do FC Porto, Maxi Pereira já não tem capacidade para ser titular durante toda uma época e ficou bem patenteado nos encontros com o Belenenses SAD e Vitória SC esse factor.

Transições lentas, mais propenso para atacar do que defender, com claras dificuldades em aguentar sequer uma primeira-parte no máximo da intensidade física, o uruguaio já não reúne as capacidades mínimas para dominar a ala direita defensiva dos azuis-e-brancos. A saída de Iván Marcano foi igualmente sentida. Não tanto por Diogo Leite não ter capacidade, mas sim pela ausência de liderança e exigência que o espanhol impunha no eixo-defensivo.

Felipe está muito longe de ser um “patrão” na defesa, apesar de estar no topo de melhores centrais da Liga NOS. Diogo Leite é um jovem carregado de potencial, dotado na disputa aérea no ataque, com bom leitura de ataque ao avançado adversário e inteligente nas acções com bola, mas peca ainda na manutenção de intensidade durante 90 minutos e sente uma clara ausência de um comandante ao seu lado.

Miguel Layún, Diogo Dalot e Diego Reyes foram importantes em certos momentos (o mexicano perdeu a preponderância no clube na temporada passada, mas Conceição não disfarçou que gostaria de contar com o lateral) e as suas saídas ainda abriram um vazio maior nas opções para a defesa. Finalmente, Sérgio Oliveira está com claras dificuldades em aguentar o início de nível da época, realizando jogos medíocres/pobres contra o Vitória SC e Belenenses SAD.

A falta de um trinco com uma disponibilidade física desumana explica os vários problemas deste início de época em termos de consistência e solidez defensiva. Danilo Pereira está prestes a regressar, desconhecendo-se do seu estado físico no regresso.

Analisado o problema na defesa e o efeito das saídas categóricas com as entradas “tremidas”, é natural perceber o desagrado de Sérgio Conceição. A chegada de Jorge para o lado esquerdo da defesa (no pior dos casos, pode entrar como titular possibilitando a subida de Alex Telles como extremo), de Militão como opção tanto para central ou lateral-direito (tem mais capacidade a lateral do que Maxi neste momento) e de Mbemba podem resolver alguns dos problemas evidenciados.

Curiosamente, foram todos reforços assinalados pelo técnico azul-e-branco pois Jorge jogou em 2017 pelo AS Monaco na altura em que Conceição estava no Nantes, Mbemba já tinha sido referenciado anteriormente e Militão é um jogador tipicamente do agrado do timoneiro do campeão nacional.

Inexplicável será, portanto, o facto da SAD não ter ouvido ou comunicado mais com Sérgio Conceição, preferindo por oferecer autênticas surpresas-venenosas como João Pedro, Saidy Janko, Ewerton, Waris ou Paulinho. Foram fracassos com selo de euros gastos sem noção de que podiam ter sido utilizados em activos mais interessantes que iriam dar mais forma ao plantel do FC Porto.

Curiosamente, a maioria dos adeptos e/ou comentadores concorda com a falta de visão e noção de como se tinha de preparar a temporada depois de um Campeonato Nacional esgotante, que levou o plantel ao fundo do “poço” para trazer o título que fugia há 4 anos. Várias questões vão sendo levantadas, perguntas feitas em relação ao dinheiro ganho das vendas de jogadores e a sua aplicação em reforços ou de como o clube está sob o olhar do fairplay financeiro da UEFA mas tem 20M€ para gastar em atletas dispensados num par de semanas ou meses.

Sérgio Conceição conseguiu não só levar o FC Porto ao título e de repor a tão desejada mística, como promoveu o levantamento de perguntas e dúvidas em relação à acção da SAD do clube nas suas acções no mercado de transferências. Até que ponto o treinador vai aguentar com a má gestão? E terá a direcção do clube satisfeita com o carácter mais rebelde do técnico?

Questões a responder num futuro próximo.

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