Palmeiras na fila: os terríveis anos da década perdida

Marcial CortezOutubro 25, 20217min0

Palmeiras na fila: os terríveis anos da década perdida

Marcial CortezOutubro 25, 20217min0
Quem viveu a época da fila sabe: eram piadinhas, cantos de aniversário, eliminações vexatórias, medo e desalento a cada virada de ano. Vamos viajar no tempo e relembrar como foi um dos períodos mais tenebrosos da História do Palmeiras.

São Paulo, agosto de 1976. O Palmeiras conquistava o último campeonato paulista de sua história, antes de entrar no período tenebroso conhecido pelos adeptos como “os anos da fila”. Foram 16 longas jornadas até a redenção, que só veio em junho de 1993, quando Evair e companhia, liderados por Luxemburgo, tiraram o Verdão das trevas e o devolveram à elite do futebol brasileiro. Vamos relembrar um pouco dessa história…

Jorge Mendonça, autor do gol do título em 1976. Foto: site oficial Palmeiras

1977 a 1980 – o início indolor

No ano da graça de 1977, a torcida do Palmeiras viu sair de uma fila eterna o seu arquirrival Corinthians, que conquistou o título paulista depois de intermináveis 23 anos. Mas naquele momento o adepto alviverde não sentiu o impacto, pois o Palmeiras vinha de títulos em 1974 e 1976. Era uma época em que a frase “ano sim, ano não, o Palmeiras é campeâo” era famosa.

No Paulistão de 77, o Verdão foi eliminado na terceira fase e no Brasileirão do mesmo ano, não se classificou para as fases finais. Um ano para ser esquecido.

Em 78, num dos campeonatos paulistas mais longos da história, que só se encerrou em 1979, o Verdão caiu diante do São Paulo nas semifinais. Já no Brasileirão do mesmo ano, o Palmeiras chegou à final contra o Guarani, mas perdeu o título para o Bugre, no famoso jogo em que o guarda-redes Leão agrediu o então miúdo Careca (aquele mesmo que viria a ser um craque no Nápoli anos depois) na única conquista do alviverde campineiro na História. Iniciava-se ali uma série de derrotas para times do interior que permeou a fila por muitos anos.

Esquadrão do Palmeiras 1979, que goleou o Flamengo de Zico em pleno Maracanã por 4-1 sob a batuta do Mestre Telê Santana. Foto: Reprodução Revista Placar

No ano seguinte, 1979, o Palmeiras montou um esquadrão. Já era o terceiro ano da fila, e a diretora não economizou. O time do Verdão de 79 acumulou goleadas e resultados positivos. Liderado pelo Mestre Telê Santana, o alviverde derrotou o Flamengo de Zico em pleno Maracanã pelo placar de 4 a 1, além de vários outros resultados elásticos contra Santos e Corinthians nos clássicos regionais. No Brasileiro, o Palmeiras caiu nas semifinais para o Internacional, que conquistaria o campeonato. Como se sabe, a história do futebol tupiniquim é repleta de episódios vergonhosos, e a fase final do Paulista de 79 é um destes eventos. Numa manobra de bastidores da diretoria do Corinthians, o então presidente Vicente Matheus conseguiu adiar o encerramento do campeonato para o ano seguinte, o que “esfriou” o ímpeto alviverde e o fez ser eliminado pelo Timão em janeiro de 1980.

1980 a 1985 – o fundo do poço

Os anos entre 1980 e 1985 estão entre os piores períodos da História do Palmeiras. Naqueles tempos não havia rebaixamento, mas o Campeonato Brasileiro era dividido em Taça de Ouro, na qual jogavam as principais equipas, e Taça de Prata, onde jogavam equipas inferiores. Quem determinava qual time disputaria qual Taça eram os campeonatos regionais. Então o Palmeiras precisaria estar entre os seis primeiros colocados no Campeonato Paulista para disputar a Taça de Ouro. Se ficasse abaixo disso, teria que disputar a Taça de Prata, o que ocorreu por duas vezes, em 81 e em 82. Como se isso não bastasse, o Palmeiras via seus rivais regionais conquistarem o Paulistão ano após ano. Corinthians, São Paulo e Santos, nessa ordem, revezavam-se nos títulos, enquanto o Palmeiras raramente chegava sequer a disputar as fases semifinais.

O zagueiro Darinta, um dos símbolos da pior fase da História do Verdão. Foto: Reprodução Revista Placar

Embora tenha sido o período menos vitorioso dos anos de fila, não foi o mais dolorido para os adeptos. O Palmeiras vivia tempos muito conturbados em sua diretoria, e isso refletia no relvado. Era uma época muito parecida com o que o Cruzeiro vive atualmente. Quando um clube entra nessa fase, tudo o que o torcedor deseja é que ele saia dela o mais rápido possível. O adepto nessa situação não pensa em ganhar título, e sim em conseguir se reorganizar para tornar a ser competitivo.

1986 a 1991 – a dor eterna

Mas o Verdão conseguiu. Em 1986, após uma semifinal emocionante contra o seu maior rival, o Palmeiras chegou à final do Paulistão, contra a desconhecida equipa da Internacional da cidade de Limeira. Dez entre dez adeptos alviverdes acreditavam no título e no fim da fila que neste momento somava dez anos. Para uma equipa vencedora como o Palmeiras, dez épocas sem título eram uma eternidade. E a forma como o Verdão eliminou o Corinthians foi tão avassaladora que não havia dúvidas… o Palmeiras seria campeão!

Mas… como disse o poeta, no meio do caminho tinha uma pedra. Essa pedra tinha nome. Kita era o avançado da Internacional, e foi ele quem abriu o placar no jogo da segunda mão. A torcida do Palmeiras não acreditava. Quatro minutos depois, o jogador Tato ampliou para 2-0 a vantagem da Inter. O Verdão ainda conseguiu fazer um golo ao final do segundo tempo, mas não foi suficiente. O pesadelo continuava e o Palmeiras amargava mais um ano na fila.

Em 1989, o inacreditável apareceu novamente. Numa campanha exemplar na primeira fase, o Palmeiras chegou à incrível marca de 21 jogos de invencibilidade na primeira fase do Paulistão. Entrou na fase seguinte como amplo favorito. Num grupo com Novorizontino e Bragantino, um dos três chegaria à semifinal do certame. E como de costume, mais uma vez o Palmeiras caiu diante de uma equipa pequena. A derrota frente ao Bragantino tirou o Verdão da briga, e mais um ano de jejum se passou.

Kita comemora o gol da Inter para desespero do zagueiro palmeirense. Foto: Blog Edmar Ferreira

Em 1990, com o peso de todas essas perdas nas costas, o Palmeiras mais uma vez caiu diante de uma equipa pequena. Numa noite fria no Pacaembu, o Palmeiras precisava vencer o jogo contra a última colocada do seu grupo, a equipa da Ferroviária, que não brigava por mais nada no certame. Uma vitória deixaria o Verdão na final, mas mais uma vez o alviverde decepcionou sua torcida ao empatar em 0-0 e jogar no lixo aquela que seria a nova chance de sair da fila.

No Paulistão de 91, uma nova trapalhada da Federação Paulista fez com que o rebaixado São Paulo subisse à Serie A1 no mesmo ano, e o Palmeiras acabou prejudicado pelo regulamento, pois empatou em pontos com o Tricolor, mas o segundo foi beneficiado por ter tido a melhor campanha na primeira fase, quando enfrentou os times da Série A2. Nessa mesma época, começaram as negociações entre Palmeiras e a multinacional Parmalat, que salvaria o Verdão e o colocaria de novo nos mais altos patamares do futebol.

1992 / 1993 – um novo tempo

Foto oficial da parceria com a Parmalat em 1992. Mudança de camisa e prenúncio do fim da fila. Foto: Reprodução Estadão

Com a chegada da Parmalat, em 1992, o Verdão conseguiu se recolocar no cenário do futebol brasileiro. Já no primeiro campeonato da parceria, o Palmeiras se renovou, trocou a camisa e chegou à final do Paulistão, mas perdeu o título para o São Paulo,. Apesar da derrota, o torcedor já sabia que os dias de penúria estavam contados.

E foi em 1993 que a eterna fila acabou, com a acachapante vitória sobre o maior rival pelo placar de 4-0. Mas isso é assunto para outro artigo…


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