Lusa: do inferno ao céu em noventa minutos

Marcial CortezMarço 8, 20236min0

Lusa: do inferno ao céu em noventa minutos

Marcial CortezMarço 8, 20236min0
Os deuses do futebol são portugueses. Somente uma milagrosa combinação de resultados poderia salvar a Lusa da queda para a Série A-2 em 2024. E assim foi. A Portuguesa se livrou da despromoção no Paulista 23.

De tempos em tempos, alguns jogos entram para a História do Futebol. Seja para eternizar um título, seja para o livramento da despromoção, estes jogos inesquecíveis ficam marcados na memória dos adeptos e dos profissionais da imprensa.

A última jornada da primeira fase do Campeonato Paulista de 2023 entrará para a História como a prova de que os deuses do futebol são portugueses. Afinal, a despromoção da Lusa era dada como certa antes da bola rolar no relvado. Estatísticas mostravam chances acima de 90% para a queda. Somente uma combinação milagrosa de resultados poderia salvar a Lusa. E assim foi. Acompanhe aqui como foi o martírio da equipa durante os noventa minutos que a levaram do inferno ao céu.

O cenário inicial, antes da bola rolar

A Lusa ocupava a última colocação do certame, com apenas 7 pontos ganhos em 11 jornadas. Um aproveitamento pífio de cerca de 32%. A brigar com a Portuguesa, estavam a Ferroviária (8 pontos), o Ituano (9 pontos) e o São Bento (10 pontos). Ou seja, para não ser despromovida, não bastaria à Lusa ganhar a última partida. Também seriam necessários mais três resultados favoráveis, haja visto que não havia nenhum confronto direto entre seus concorrentes ao inferno.

A jornada começou com a sincronização do apito inicial em todos os jogos. Assim, não haveria formas de se fazer nenhuma libertinagem com os resultados. Em outras palavras, a Lusa começou a jornada despromocionada.

O céu começa a se abrir no início da rodada

A sorte da Portuguesa começou a mudar aos 12 minutos da partida realizada em Sorocaba, onde o dono da casa São Bento tomou o primeiro gol do Red Bull Bragantino. Nesse momento, a Lusa ainda estava na zona da degola, mas como o São Bento ainda brigava por uma vaga nos quartos de final, seria muito difícil que o já classificado Bragantino tivesse vida fácil contra a equipa sorocabana.

Na cidade vizinha, Itu, o Ituano marcou o primeiro gol aos 19 minutos do primeiro tempo. Um balde de água fria nas pretensões da Portuguesa. Mesmo assim, por uma das façanhas desta fórmula esdrúxula do campeonato Paulista, esse resultado tinha uma característica similar ao “gato de Schrödinger”, ou seja, este placar ao mesmo tempo prejudicava e favorecia a Lusa. Assim, os adeptos começavam a sonhar, mas ainda estávamos no início das partidas e muita coisa poderia mudar.

Jogadores comemoram gol da Lusa contra o Mirassol. Foto: Twitter oficial da Portuguesa

E enquanto os adeptos deliravam com a possibilidade de escapar da despromoção, a realidade dura castigava a Lusa. O Mirassol abriu o placar aos 43 minutos do primeiro tempo, e assim as esperanças dos portugueses estavam a acabar de vez. Não adiantariam os resultados favoráveis se a própria Lusa não fizesse a sua parte. Tudo indicava para o mesmo cenário de despromoção ao fim do primeiro tempo…

Em cinco minutos, tudo pode mudar…

Mas aí os deuses do futebol acordaram. Em cinco minutos, todo o cenário se alterou e o que eram nuvens de tempestade tornaram-se um céu ainda cinzento, mas muito mais claro pela frente. Richard empatou para a Lusa aos 46 minutos, nos acréscimos do primeiro tempo. Um minuto depois, na distante cidade de Bragança Paulista, o Bragantino aproveitou os acréscimos para ampliar o placar contra o São Bento. Dois minutos depois, o Ituano marcou o segundo contra o Santos. Sim, ainda havia esperança…

As equipas foram para o intervalo e o cenário continuava tenebroso para a Lusa. Ao final do primeiro tempo, Lusa e Ferroviária ocupavam as duas vagas despromocionadas com 8 pontos cada, enquanto o Ituano não só escapava da degola como também garantia sua classificação aos quartos de final com seus 12 pontos. O São Bento permanecia com seus 10 pontos.

O eletrizante segundo tempo das partidas da 12a Jornada…

A segunda etapa começou e a Lusa, milagrosamente, subiu do inferno para o céu em apenas oitos minutos. João Victor marcou para a Portuguesa no oitavo minuto do segundo tempo e tirou a Lusa da zona da degola. Naquele momento, a Lusa estava a escapar da vergonha de amargar mais um ano nas divisões inferiores. Faltavam longos 37 minutos para o final dos jogos e o objetivo agora era manter ou ampliar a vitória até o final. Em Itu, o Ituano cravou o terceiro gol contra o Santos e carimbou seu passaporte para os quartos de final. Em Bragança Paulista e Araraquara, palco das outras duas partidas que poderiam definir a situação da Lusa, os placares permaneciam inalterados.

A exemplo do que ocorreu no primeiro tempo, a emoção ficou para os minutos finais em todos os jogos. Em Itu, vitória do Ituano no jogo que foi até 90+3. Na cidade de Bragança, o Bragantino sacramentou a vitória e aumentou ainda mais a esperança lusitana com o terceiro gol, que saiu aos 90+5. Do outro lado do Estado, em Araraquara o empate entre Ferroviária e Internacional de Limeira por 0-0 arrastou-se até o 90+7. Esse jogo também provou que os deuses do futebol olharam para a Portuguesa, pois a Ferroviária teve mais de 60% de posse de bola, um número infindável de finalizações, mas a bola não entrou.

A essa altura do campeonato, a Lusa só dependia de suas próprias forças para escapar da despromoção. De forma incrível até para o mais otimista dos adeptos, todos os outros improváveis três resultados ajudaram a Portuguesa. Mas ainda faltavam dois minutos de jogo e a Lusa teria que segurar a vitória com unhas e dentes…

Os herois surgem nos momentos mais difíceis

E foi aí que brilhou a estrela do heroi. O guarda redes da Lusa, Thomazella, merece uma estátua no estádio do Canindé. O que ele fez em jogada do ataque do Mirassol, aos 97 e 98 minutos de jogo, é para entrar nos manuais de futebol do mundo como exemplo de raça, dedicação, sorte e trabalho. Ele simplesmente fez duas defesas i-na-cre-di-tá-veis no momento mais importante da partida.

O guarda redes Thomazella foi eleito o melhor jogador da partida. Foto: Twitter oficial da Portuguesa

Quando o árbitro apitou o fim de jogo, certamente os hospitais cardiológicos tiveram trabalho extra. Os deuses do futebol protegeram a Lusa, que escapou da despromoção pela diferença de um gol de saldo e assim garantiu sua permanência na elite do futebol paulista em 2024.

Parabéns à imensa colônia portuguesa, aos seus adeptos e à equipa da Associação Portuguesa de Desportos, o segundo time de todos os paulistanos que não torcem para a Lusa.

 


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